Entre os parêntesis da miserável vida que tenho
cultivo no livro das memórias palavras de incenso
e rosas vermelhas cansadas de que as olhem e desejem
cansadas como algumas mulheres
rosas para serem olhadas
e ficarem esquecidas numa jarra de vidro
ou de cristal
e a mulher é para ser manuseada e amada
como as tardes de primavera junto ao mar dos pontos de interrogação
dizem que sou louco
pobre
muito pobre
mas tenho um barco
e o mar é só meu
dizem
dizem que as rosas são lindas
dizem que sou louco
pobre
muito pobre
deixem as mulheres serem amadas
e manuseadas como as rosas vermelhas
e dizem
e têm medo de me mostrarem
e dizem
dizem que as rosas são lindas
dizem que sou louco
pobre
muito pobre
e por essa razão tenho de viver na clandestinidade...
e dizem
dizem que o texto termina no ponto final
(nos meus texto não coloco ponto final)
e dizem
dizem que nunca terminam
como as rosas que vivem dentro dos livros
e que roubei num jardim de Agosto
com os olhos de amêndoa
e os lábios de maré salgada
gostavas do mar
e das árvores
e dos pássaros do inverno
e dizias
e dizias que eu era pobre
muito pobre
tal como hoje
como ontem
e como amanhã o serei
sempre
sempre eternamente pobre
(fala baixinho para ninguém te ouvir... XIU...).