Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

24
Jul 12

Sobre a almofada do amor

dorme o abandono e a escuridão

voam as palavras de incenso

para a desconhecida mão

em flor

com perfume a silêncio

e vergada nos cortinados triangulares

das tardes de pulsações e desejos

dos lençóis com sabor a haxixe

procura o amor

impregnado de piolhos alquimistas

nos verdejantes lábios do sono

 

descem as ruas em ruína

com o destino de morrerem afogadas

nas lágrimas da despedida

sobre a almofada do amor

a madrugada com escadas para o sótão da solidão

 

abro a janela triangular

e arremesso-me de encontro ao vento

e curiosamente

e curiosamente começo a voar

 

e curiosamente

e curiosamente na almofada do amor

dorme o abandono e a escuridão

da madrugada com escadas para o sótão da solidão...

 

(voltarei a fumar)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:38

23
Jul 12

O esqueleto da nuvem de prata

e lágrimas de papel

nos olhos

uns Ray Ban

que lhe davam um certo ar de ajeitado

fazendo-o parecer um esqueleto verdadeiro

de finíssimas famílias

e no entanto

não passava de uma nuvem de prata

com poeira de ossos

e lentes BL...

vivia num mundo inventado

 

e amava loucamente uma pedra

onde se sentava a olhar o rio

onde passeavam os barcos

e poisavam as gaivotas

 

e amava loucamente uma árvore

uma árvore de verdade

com coração de verdade

e amor de verdade

 

e lágrimas de papel.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:39

22
Jul 12

Das quatro paredes de cianeto

onde habita o amor inventado

nas quatro palavras murmuradas

do amor embrulhado em pedaços de jornal

e sorrisos de prata

das quartas-feiras com chá melancólico

e abraços invisíveis

ao meu corpo

indesejado

das quatro paredes

em tectos de solidão

palavras de cianeto

 

o meu corpo desgraçado

suspenso no vidro ténue do fim de tarde

entre o suicídio dos barcos

e a alegria da minha partida para longe

sem destino

sem regresso

 

que feliz o amor

que vive dentro de quatro paredes de cianeto...

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:55

21
Jul 12

Lívida a morte das palavras

do amor prometido

no amor proibido

a paixão lenta em decomposição

o corpo putrefacto nos olhos azuis da manhã

que voa em direcção ao mar,

 

o amor morre

e nas lívidas palavras prometidas

cresce a planície da solidão

onde vivem pássaros sem coração

e homens sem cabeça

que procuram as luzes das manhãs azuis,

 

lívida a paixão

do lívido amor

que me esquece no centro da cidade

e há no amor proibido

a paixão lenta em decomposição

e há

do meu amor

as palavras lívidas,

 

palavras

sem cabeça

sem nome

lívida a morte

do amor prometido

e há

e há paixões de merda

e amores sem cabeça

das palavras lívidas

e há

e há amores de merda

do amor proibido.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:04

20
Jul 12

Estremeço

tenho medo

desapareço entre as nuvens da manhã

a sede e a fome de palavras

 

estremeço

dentro do livro sem título

sem nome

 

(deixo de ter nome

rosto

amor

paixão

fome fome livros e livros de palavras)

 

estremeço

antes de se levantar o esqueleto de óculos escuros

e cigarreira vegetariana

na cama

à janela

 

estremeço

e não mereço

as palavras que escrevo

nas palavras do medo.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:55

19
Jul 12

O coração é de pedra

mas nos olhos

tem estrelas de mel

e abelhas de brincar,

 

o coração é de pedra

e resiste à paixão,

 

de pedra

a tempestade dos amantes

impossíveis de regressarem

à ilha das árvores infinitas,

 

e resistirem à paixão.

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:03

18
Jul 12

o som do musseque

suspenso no zinco invisível do amanhecer

 

eles

elas

suicidaram-no numa manhã de primavera

 

à porta do musseque

eles

elas

uma criança inventada

filha ilegítima da chuva miudinha

e do silêncio das palavras proibidas

eles e elas

 

eles

elas

sem nome

sem terra

só... eu e as palavras proibidas.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:24

17
Jul 12

Os olhos de vidro

da melancolia

sem destino

dentro de um livro abandonado

 

o frio poema mergulha

na febre labial das estrelas

a lua em ondas curtas

à volta dos gemidos do sol

 

os olhos de vidro

no livro sem sentido

 

a melancolia sem destino

na tristeza dos meninos

que se escondem na chávena de chá

e das torradas do peque-almoço

 

sem saudade

sem perceber que das paredes da felicidade

brotam fios de luz

e dias desalinhados

 

de vidro

de vidro se partem as flores do amanhecer

de vidro

os olhos

e a caneta de tinta permanente

de vidro

de vidro o amor invisível e proibido...

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:52

16
Jul 12

Às vezes o amor enlouquece

o relógio do tempo

e desaparece

e mingua nos lábios do vento

 

às vezes o amor é um parvalhão

e corre e corre e corre sem parar

 

às vezes o amor não tem solução

dentro das ruas de uma cidade

às vezes o amor é um sonho de sonhar

que brinca no caderno da saudade

 

às vezes o amor é de sofrer

como uma doença que dói

ou um rio a emagrecer

 

às vezes este amor mói

as palavras de escrever

da vida sem viver...

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:14
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15
Jul 12

(de cigarros

amor

e de um grande abraço)

 

preciso

 

cansei-me das palavras

sem significado

do amor

deitado sobre as searas angustiadas

dos rios sem nome à minha procura

no limite infinito da madrugada

 

(Preciso)

 

de cigarros

amor

e de um grande abraço

 

e faltam-me os dias nas folhas fingidas

da sebenta em chamas nas rochas da noite

com flores e palavras agressivas

mortas

putrefacto nas sílabas voadoras dentro das nuvens loucas

os cigarros

o amor

e o abraço

 

e que a noite seja sempre noite.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:21
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