Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

11
Jul 12

Por razões de ordem pessoal vou deixar de escrever e de publicar o que possa vir a escrever no meu caderno preto; poderá ser breve ou eternamente. Tudo irá depender do estado do mar nos próximos meses...

 

Obrigado

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:11

10
Jul 12

As tristes palavras da tarde

moribundas as planícies dos desejos

tristes são as marés

sem barcos sem beijos

 

tristes as esplanadas

silenciosas dos cafés

 

tristes madrugadas

 

em tristes marés.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:58

09
Jul 12

Que farei sem os cigarros

proibidos?

Perguntava-me antes de adormecer,

 

nada,

nada pensava eu,

 

os dias continuam a caminhar junto ao rio

e das flores oiço o cheiro do pólen

e das pétalas misturadas em delícias do mar

as palavras proibidas

à procura dos cigarros de fumar

Perguntava-me o que fazer sem os cigarros?

 

nada,

nada pensava eu,

 

viver vivendo

contando os dias mergulhados nas ilhargas da manhã

viver vivendo não fumando

os cigarros proibidos

Que frei?

 

nada,

nada pensava eu,

 

viver vivendo não fumando.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:21

08
Jul 12

Deixar fluir o silêncio

dentro da câmara escura do medo

cerrar as janelas com os cortinados de solidão

e das paredes pendurados corações

sonâmbulos os homens

quando vão para a guerra do amor

moribundas palavras de cansaço

das tardes tuas mãos em cetim

comboios de esperma

as tuas simples palavras de ausência

debaixo do mar

as sandálias de infinitos perfumes de rosa purpura

 

deixar de acreditar no velho mar

e fluir o silêncio

das palavras em delírio desejo

 

o medo das sombras

tuas mãos em cetim semeiam na aurora crepuscular

o medo

das paredes prensadas em papel e cartão e carne teu peito

das amoras com açúcar e leite

das paredes prensadas

os cones de cinza com o sabor a incenso

onde ninguém te conhece

ou deseja

ou espera antes de terminar o dia

numa cama de pensão

no sótão da insónia

 

(deixar de acreditar no velho mar

e fluir o silêncio

das palavras em delírio desejo).

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:05

07
Jul 12

Nunca sei ao certo se entro na dos homens ou pelo contrário, sem o saber, entro na das mulheres, confuso, os símbolos pendurados na porta de entrada, hesito

hesito entrar ou não entrar, hesito procurar o meu corpo no corredor de acesso ou tão simplesmente entrar a medo,

- arrependo-me, hesito, toco na porta ao de leve, hesito, recuo até novamente no Hall de entrada tentar perceber se é a dos homens ou é a das mulheres,

Paro escuto e olho, e nada, nem o homem de óculos escuros nem a mulher de mini-saia, nem o comboio de Cais do Sodré com paragem obrigatória em Belém, hesito, e nada, não entro, olho fixamente os símbolos meio acidentados pelas cores rosas da noite, e,

- e fico sem perceber se é a dos homens ou se é a das mulheres ou simplesmente é o cheiro do rio a mergulhar nas páginas amarelas de mais uma semana de trabalho, e nunca

Sei ao certo,

- e nunca sei se hoje é sábado ou se é antes de sábado ou se é depois de sábado, e nunca sei se junto ao rio os barcos são masculino ou se são feminino, ou, ou ambos...

Hesito, paro escuto e olho, e nada, nem o homem de óculos escuros nem a mulher de mini-saia, nem o comboio de Cais do Sodré com paragem obrigatória em Belém, nada de mim ao longe até ao Rossio, olho o céu pintado com estrelas de glicerina, olho e olho e olho, e hesito

- não entro,

E hesito no apeadeiro da vida sem os barcos fêmeas das tardes de verão, ela não pára, ela não hesita, ela simplesmente entra dentro do abismo, a porta de algodão ressuscita no vidro cinzento dos teus olhos, e não sei...

- não sei se é um homem ou se é uma mulher, não sei como chamar os barcos e distinguir-lhes os sexos azulados entre os passageiros e as companhias de viagem, companheiros de hesitação, homens e mulheres e barcos, e não entro,

E hesito, e espero pela chegada da luz dos silêncios e talvez com ela a voz de uma criança, hesito, tenho medo de entrar, apaixonadamente ele esconde-se nas flores carnívoras num compasso de espera entre o entrar e o sair, a porta abre-se lentamente e percebo que ali é a casa de banho das mulheres, longo, logo na porta ao lado ficará a casa de banho dos homens, e os barcos, e as flores carnívoras que se alimentam da minha paixão durante as noites de insónia,

- não entro, hesito,

Nunca sei ao certo se entro na dos homens ou pelo contrário, sem o saber, entro na das mulheres, confuso, os símbolos pendurados na porta de entrada, hesito, e todos os barcos na algazarra da Calçada da Ajuda, e ao longe a ponte tremendo de frio e enganando a fome com os símbolos inventados nas noites de tristeza, e triste é não ter o mar, e triste

- triste é ser o dono dos dias em fotocópias,

E triste,

as portas das casas de banho.

 

(texto de ficção não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:40

06
Jul 12

os cigarros inventados

suspensos nas tuas mãos de fim de tarde junto ao mar

ao longe os barcos de papel que pacientemente

esperam o jantar servido debaixo dos plátanos

 

meia dúzia de pássaros

poisados sobre os plátanos

defecam sobre mim

e o livro de mia couto que trago na mão

“a confissão da leoa”

aborrece-se com a minha melancolia

torno-me chato

impaciente e revoltado

 

(sinto saudades dos cigarros inventados

e dos fins de tarde à espera do mar)

 

deixei de receber cartas de amor

com corações

e flores

com um cheirinho agradável

e palavras desenhadas com lábios de desejo

e beijos de saudade

 

deixei de receber os cigarros inventados

e hoje não cartas de amor no correio dos cigarros inventados

na esquina impaciente e chata e revoltada

nos confins do desejo

dentro das bocas ressequidas com esperma e melódicas palavras de horror...

e os barcos entram em mim

 

(sinto saudades dos cigarros inventados

e dos fins de tarde à espera do mar)

 

e os barcos entram em mim

como se eu fosse a doca do abismo

(deixei de receber cartas de amor

com corações

e flores

com um cheirinho agradável

e palavras desenhadas com lábios de desejo

e beijos de saudade)

como se eu fosse as rochas esgrimes da morte inventada

no jardim da melancolia...

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:00

05
Jul 12

Podia ser feliz

ou um barco

sem vela

podia ter sido uma rua da cidade de Luanda

entupida no lixo deambulante sobre a noite

podia ter sido o mar

o amor

o eterno veneno

a dor

podia

podia ter sido uma abelha misturada com a chuva

ou a paixão do silêncio

 

ai se eu fosse as amêndoas da tarde

em forma de poema

sobre a morte acidental

 

podia ser feliz

ou um livro de poesia

adormecido na prateleira da insónia

(podia ter emprego e dinheiro e assim já me conheciam

e assim

e assim já me cumprimentavam...)

podia ter sido o capim

e as mangueiras

e os triciclos de madeira

 

mas quis deus

que eu fosse um caixote

com paredes de vidro made in China

com coração de árvore

quis ele

quis deus

 

(podia ter emprego e dinheiro e assim já me conheciam

e assim

e assim já me cumprimentavam...)

 

que eu falasse como os pássaros

e gritasse como as nuvens

e desenhasse nas paredes da infância

a morte simplesmente bela

toda nua

à janela

quis ele

quis ele que eu fosse um poema sem palavras.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:37

04
Jul 12

A alma encontrou

trabalho

finalmente

 

nas muralhas curvas do sexo

a saliva do amor

misturada na noite de flor queimada

em papelinhos de néon

 

a rua entupida de chulos

e beatas tontas e ratazanas voadoras e espantalhos barrigudos

comedores de palha seca e erva doirada

da lezíria

a erva levemente enfeitada

alimentando a beleza das mamas da tia Margarida

“que deus a tenha em descanso debaixo das tábuas da insónia”

nas curvas sinuosas do sexo

 

A alma encontrou

trabalho

finalmente

 

(não é sexta-feira e já estou teso)

nas muralhas curvas do sexo

ressequidos pelas valetas dos vapores de iodo

e do prato de enxofre que não se cansa de arder

enquanto a noite dentro da estrada sinuosa da vida

distrai-se abrindo e fechando janelas de brincar

finalmente

finalmente encontrei trabalho

numa montra da rua do Alecrim

um balcão de chocolate

com mesas de algodão doce

eu vi

eu via a noite travestida de lua cheia

 

saltar para o interior

de um buraco inoxidável

filho da cidade dos desejos

de danças e telegramas e palavras de mandioca

e oiço a voz da morte

à lareira da poesia com pequenos goles de incenso

 

deixei de ouvir-te

obedecer aos teus caprichos e imposições

deixei de de ser eu

e fui

e transfigurei-me num edifício em ruínas

livremente entre o ácido e o aço

e quatro paredes de vidro

sem fotografias

sem literatura

de água docemente uiva de dor

sem braços sem pernas

sem cabeça

 

o espelho da fechadura

recorda-se da morte quando beija as agulhas sibiladas do silêncio

os cigarros deixaram de passear na biblioteca

e vou alimentando de palavras embebidas em vodka os meus pulmões de cetim

adormecidos à beira-mar

um passeio entre duas páginas

e o poema malcriado fica de castigo

“cabeça para baixo e as rimas estão proibidas de irem à janela”

 

e curiosamente

hoje mergulhei nos rochedos

quando ouvi as doze badaladas insípidas

das marés envenenadas pelas facas de vidro

 

(A alma encontrou

trabalho

finalmente).

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:22

03
Jul 12

Oiço a cidade a desaparecer para lá da noite

onde se perdem as almas sem nome

de todas as algibeiras construídas em cetim doirado

e mesmo assim

e mesmo assim há quem não tenha medo de atravessar a fronteira

não regressando nunca mais ao fim de tarde junto ao rio

 

as peles flácidas que transportam nos lábios

onde em letreiros gatafunhados se podem ler os desejos da noite

antes das almas sem nome atravessarem a fronteira e sentarem-se sobre as pedras

de nylon com que um esqueleto de óculos escuros constrói as redes para a apanha da solidão

e do chá e das torradas

antes

antes de ele se deitar dentro da sepultura de cordas e pregos de marfim

antes do cerimonial complexo à iniciação dos sem abrigo com cigarros de pluma em oiro

 

oiço o meu nome transformado em “filho da puta”

é a cidade travesti em direcção ao outro lado do rio para lá da noite

gajas chamam-me e eu recuso-me

curiosamente hoje e ontem “FEBRE COM PINTINHAS DE SARAMPO”

antes

antes de deitar-me dentro da sepultura de cordas de marfim

vi um homem louco com uma cabeça de areia embrulhada em correntes de aço

e do chá e das torradas

as redes com que apanhava debaixo da madrugada

pedacinhos de solidão com restos de esperma

e eis que para lá da noite

a cidade cresce nas peles flácidas dos olhos pedrados no pólen

 

(curiosamente hoje e ontem “FEBRE COM PINTINHAS DE SARAMPO”

curiosamente hoje e ontem “FEBRE COM PINTINHAS DE SARAMPO e nunca fui feliz”)

 

eu vi a noite comer os letreiros gatafunhados

e as frases começavam a misturarem-se com os restos esquecidos no passeio dos infelizes...

“vendo todo o recheio da minha biblioteca – motivo Fartei-me dos livros”

“vendo braços e pernas e dentes de madeira – Bom estado”

eu vi

a noite a transformar-se em palavras além da fronteira dos infelizes

com febre e papeira ou sarampo ou gajas a gritarem do outro lado do rio

para mim

eu o gajo mais infeliz do cardápio da infelicidade

eu vi

tu viste

a cidade a desaparecer para lá da noite...

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:01

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