Implorei-te incessantemente que amasses as palavras construídas
incessantemente
que amasses as paixões sem cabeça dos meus cigarros
(rebentou o pneu da bicicleta)
e imaginavas-me como um pássaro
livre
e que voava até ao infinito
(rebentou o pneu da bicicleta e fiquei-me pelos socalcos do douro)
e voei e amei e voltei a voar e novamente desamei
construí sonhos de algodão
em pedaços de xisto
e pintei o sol nas miseras tardes de inverno
e quereis que eu tenha juízo?
Subi as cordas invisíveis do choro
e roubei uma rosa numa noite de Agosto
sentei-me no lago com cheiro a morgue
e aos poucos comecei a pegar na tua mão franzina
(e não peguei na tua mão)
desastradamente por engano dentro dos voos nocturnos dos beijos
peguei no livro que estavas a ler
imaginei-o como sendo a tua mão cor de malmequer
(Grande otário este gajo sem cabeça)
e quando pensava que tinha a mão dela dentro da minha
o pneu
o pneu estilhaçado
de socalco em socalco
de vinha em vinha
Implorei-te incessantemente que amasses as palavras construídas
incessantemente
que amasses as paixões sem cabeça dos meus cigarros...
mas a lua ficava tão longe!