Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

18
Ago 12

Quarto escuro sem janela para o amor

quarta-feira

os cortinados da solidão vão para a lavandaria

e o néon suspenso no tecto adormeceu há três dias

escuro

provavelmente morreu de overdose

palavras murmuradas nas bocas locas de esperma

das putas em ziguezagues

que atravessam as ruas invisíveis da miséria

quarta-feira

 

o amor inventado nas janelas do quarto escuro

escuro

os meus olhos

quando acorda em mim o silêncio do orvalho

 

escuro

 

o meu coração sem flores

escuro

o meu coração acorrentado dentro do quarto escuro

e quarta-feira

eu

eu e os cortinados vamos para a lavandaria

eu

quarta-feira

deitado no quarto escuro à espera que cessem as sílabas no canelho

onde

onde dentro da noite se esconde a puta dos ziguezagues

escuro a quarta-feira dentro do quarto com cortinados de solidão...

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:28

A noite insiste

no fracasso das minhas mãos sobre o teu rosto

fico sem perceber se és real

ou se foste esculpida num pedaço de marfim

que ficou esquecido num musseque em Luanda

olho-te

e sinto que existe em ti um jardim abandonado

com todas as flores e todos os pássaros vestidos de fantasma

e que se passeiam nas noites de ninguém

a noite insiste

que dos teus lábios

irão nascer narcisos com os olhos recheados de lágrimas

 

no fracasso das minhas mãos.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:53

Agosto 2012
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