Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

04
Ago 12

Implorei-te incessantemente que amasses as palavras construídas

incessantemente

que amasses as paixões sem cabeça dos meus cigarros

(rebentou o pneu da bicicleta)

e imaginavas-me como um pássaro

livre

e que voava até ao infinito

(rebentou o pneu da bicicleta e fiquei-me pelos socalcos do douro)

e voei e amei e voltei a voar e novamente desamei

construí sonhos de algodão

em pedaços de xisto

e pintei o sol nas miseras tardes de inverno

 

e quereis que eu tenha juízo?

 

Subi as cordas invisíveis do choro

e roubei uma rosa numa noite de Agosto

sentei-me no lago com cheiro a morgue

e aos poucos comecei a pegar na tua mão franzina

(e não peguei na tua mão)

desastradamente por engano dentro dos voos nocturnos dos beijos

peguei no livro que estavas a ler

imaginei-o como sendo a tua mão cor de malmequer

 

(Grande otário este gajo sem cabeça)

 

e quando pensava que tinha a mão dela dentro da minha

o pneu

o pneu estilhaçado

de socalco em socalco

de vinha em vinha

Implorei-te incessantemente que amasses as palavras construídas

incessantemente

que amasses as paixões sem cabeça dos meus cigarros...

 

mas a lua ficava tão longe!

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:37

Foi ele que inventou o sono

e os folhados de insónia do amor

foi ele que pintou as árvores no jardim da saudade

e também foi ele que construiu a noite

 

foi ele que desenhou pássaros de papel

nas árvores pintadas no jardim da saudade

foi ele que trouxe as palavras que viviam nos corações apaixonados

depois das tempestades de verão

 

foi ele que inventou o sono

de insónia do amor

 

foi ele que subiu as escadas até ao sótão das ruas de Luanda

sentou-se sobre uma pedra junto a um charco

olhou em redor os musseques

e desapareceu entre o fumo da fogueira da morte...

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:46

03
Ago 12

Do sossego mísero cansaço de caminhar sobre a neblina da tua pele milimetricamente

prisioneira do espelho da casa de banho

os teus olhos mergulhados no desejo das flores imperfeitas

às nuvens de chocolate suspensas no púbis das tardes de outono

os livros

e as palavras

a terra húmida diluída nas veias da tempestade

abrem-se as portas da morgue

olhas o meu corpo sobre o mármore da infância

ao pequeno-almoço

a poesia da tua pele milimetricamente

prisioneira do espelho da casa de banho

 

oiço-te nas palavras

os livros

e as palavras

 

o arco da corda suspenso na árvore

que em jejum percorre a tua pele milimetricamente

prisioneira do espelho da casa de banho

 

termina a vida

e todos os males que infestam as florestas

olhas o meu corpo sobre o mármore da infância

ao pequeno-almoço

e uma gaivota não se cansa de chorar

sobre o meu peito

onde alguém durante a noite

plantou um embondeiro

com uma cabeça de vidro

e mãos de sonho

platonicamente me abraças

e escreves o meu nome na areia invisível da tarde.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:02

02
Ago 12

Ao som inconstante das estrelas poisadas no céu inexistente e falso

em papel de tristeza

com cores de insónia

 

o som da tua voz

 

os teus livros e papeis e momentos junto à ribeira

o som da tua voz

escrita na sombra que alimenta as gargantas da neblina

com cores de insónia

a memória

da escrita sem palavras no desejo do teu corpo em delírio

demito-me de teu amante ausente

eu abaixo assinado juro solenemente pela minha honra acariciar o teu corpo de alface

com olhos de morango

e mamas de chocolate

o som da tua voz

em delírio

 

o teu corpo voa nos píncaros emagrecidos da loucura

ao desejo impugnado pelas mãos calejadas da lua

 

sirvo-me da sombra que serve para esconder Marroquinos

prostitutas vestidas de marinheiro

e capitães de areia

sem estandarte nem coragem de suicídio

e dou-me conta de o meu corpo são duzentos e seis ossos com óculos de sol

e ao peito

o crucifixo de infância que mais tarde deixei numa loja de penhores

para

para comprar heroína e papel de alumínio

para fumar quando passavam os barcos

regressados de ontem

com partida para amanhã

 

puxo de um cigarro

e sirvo-me da sombra que serve para esconder Marroquinos

prostitutas vestidas de marinheiro

e capitães de areia

para alimentar o meu vício de contar pássaros durante a noite.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:02

Inventado o sono

construídas no peito as dores da miséria

sobre a mesa imaginária da literatura em miniatura

 

livros de bolso

desenhos impingidos nos rolos de papel higiénico

ao lado da escrava(1)

sentada sobre o pavimento desorganizado

escreve nos azulejos em voz de bagaço

“FODA-SE ESTA VIDA DE MERDA”

 

e a escrava(1) sorridente

quando ela

ela puxa o autoclismo

e um clímax de merda se extingue perto das dores da miséria...

 

alguém em prazer

sorri

sorri sentado sobre a escrava(1).

 

(1) – Sanita;

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:23

01
Ago 12

Não são reais as fotografias onde habito

e percebi que eu pertenço a um álbum

onde apenas o meu rosto abre-se aos silêncios

dos olhos camuflados do nitrogénio

 

percebi quando folheio as páginas emagrecidas dos aniversários em tristeza

que aquele miúdo com ar aparvalhado

deitado num carrinho de bebé

não sou eu

(ranhoso sem cabelo e chorão)

não sou eu

que cresci dentro de um álbum completamente só

 

(Não são reais as fotografias onde habito

e percebi que eu pertenço a um álbum

onde apenas o meu rosto abre-se aos silêncios

dos olhos camuflados do nitrogénio)

 

completamente só penso eu

porque nunca me lembro de dar a mão a quem quer que seja

ou

ou simplesmente a afagar o cabelo de uma árvore em silêncio

 

e acorda a noite

e a noite me afaga o cabelo

e a noite me ouve

e a noite me deseja

entre palavras cigarros e garrafas de vodka

e o papel de parede da insónia

nunca me esquece

e antes de eu adormecer

dá-me um beijo simplesmente no rosto que nunca foi meu

e vive

e vive dentro de um álbum de fotografias

com alguns pedacinhos de cola

 

e percebo que o mar

o mar e percebo

e percebo que nunca existiu o mar

e que eu não sou aquele ranhoso

raquítico

chorão

tinhoso

na fotografia com um crucifixo ao peito...

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:14

É perfeita

a neblina pintada de orvalho

nas clarabóias da floresta abandonada

seria deus perfeito

se não existissem estrelas no céu

e a noite não fosse construída de silêncios invisíveis

e cansados

e não amados

e abandonados

dos berros intestinais

à janela

sem passaporte para o abismo

 

é perfeita

a neblina invisível

que amarra os corações apaixonados

das serpentes que vivem dentro do cubo de vidro

 

e conseguirá a perfeição

apaixonar-se por uma árvore

caquética

e aposentada?

 

é perfeita a minha vida

(perfeitamente parva)

 

é perfeita

a neblina pintada de orvalho

nas clarabóias da floresta...

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:01

Lamentavelmente

eu fiquei sem ideias

e não sei o que fazer

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:18
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