Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

12
Set 12

Tens a palavra amor escrita nos olhos da lua

(e hoje não vou escrever porque certamente não irás ler)

não me importo com os voos das gaivotas

dentro das tardes na esplanada junto ao rio das lamentações

os homens enlouqueceram com a saudade das areias finas de Dezembro

quando as nuvens vestiam as luzes de néon que a cidade engole

e alimentam as canções de um bar de “putas”

ou travestis trapalhões dançando sobre as mesas da manhã

 

Cais do Sodré esconde-se nos sexos murchos que das palavras

atormentam as raízes das árvores

e as asas dos pássaros

 

dos olhos da lua

O quê?

 

Luzes que fingem os carroceis da infância

o Baleizão depois do circo

a tenda do circo a voar sobre os telhados da Ajuda

O quê? Este rio que me come em pedacinhos como se eu fosse os resíduos do intestino

que infestavam as margens do Tejo

dos olhos da lua

O quê?

A palavra amor

 

quando eu me sentava no infinito

a reler as cartas de amor

que um mendigo deixou embrulhadas nas fanecas do jantar...

e eu percebia as lágrimas das noites de vodka penduradas nos carris para Belém.

 

(Poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:17

11
Set 12

Gotinhas de sorrisos suspensos nos teus lábios

dissipam-se de mim as faúlhas das tempestades de insónia

o fogo imerso no teu ventre

ao redor das tuas coxas cansadas nas planícies do amanhecer

 

quero ser uma abelha

e voar como as gaivotas da minha terra

vestir-me de silêncios de mar

quando os barcos entram no teu púbis

e da janela da saudade

as flores do teu jardim

transformadas em luz

corre

 

foge de mim entre as árvores pintadas nos muros da infância

e junto à Maria da Fonte

olha-me

deixa-me um sorriso para eu recordar em noites de desejo

 

dá-me a tua mão

e vamos ver os barcos

e vamos aos Coqueiros

e vamos...

 

foge de mim

e olha-me como se eu fosse uma amoreira

sempre adormecida nas palavras da fogueira do sono

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:11

10
Set 12

Pensava que o amor

era uma arte difícil de navegar

e é tão fácil amar

tão fácil uma rosa e um gladíolo

se apaixonarem

num qualquer jardim com o tecto de estrelas

e a lua com luar

Pensava que o amor

era uma arte difícil de navegar

uma árvore cansada na atmosfera

à espera do regresso da noite

e à janela

a paixão simples e verdadeira

de uma roa e um gladíolo...

loucamente apaixonados

loucamente ardendo em desejo.

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:51

09
Set 12

Atravesso o campo de lírios à procura das nuvens de silêncio

que semeei no teu corpo embaciado pelo desejo dos meus olhos tímidos

prisioneiros nos corações de luz organicamente felizes com a cor dos teus cabelos

e dos teus lábios consigo construir um sorriso fingido abraçado a pedacinhos de medo

 

sinto-o quando a distância se resume a míseros milímetros de solidão

sinto-o quando olhas as minhas mãos de papel embrulhadas em sorrisos de tinta permanente

como a cidade em alvoroço

dentro da cidade sinto-o

 

o medo que existe em ti

à minha voz

ao meu olhar

possivelmente às minhas palavras sempre escondidas na galáxia do desejo

 

atravesso o campo de lírios em Outonos longínquos

e antes de dormires um feixe de fios de seda desce sobre o teu leito

embrulham-se nas tuas pálpebras de pétala rosa em pequeníssimas marés de paixão

e entra a noite dentro de ti

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:11

08
Set 12

É meia-noite no meu peito

e o meu coração está disfarçado de roseira

há perfume que sobejou da tarde sem jeito

e palavras misturadas na bebedeira

 

É meia-noite no meu peito

triste

cansado mergulhado num líquido viscoso

triste o meu coração moncoso

que resiste

ao poema desajeitado com lágrimas escondidas no leito

 

É meia-noite no meu peito

e deixei voar o amor

nos silêncios invisíveis que habitavam o céu perfeito

com mãos de chocolate e na lapela a alegria de uma flor.

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:48

06
Set 12

Sossego

entre as palavras caídas

das nuvens de veludo púrpura

à boca

sossego dos lábios incandescentes

quando do desejo cresce a vergonha de olhar o céu

louca

a manhã em ressaca depois da noite murmurada em poemas doentes

às palavras indesejadas

à boca

louca

majestosos cansaços nos pilares da morte

 

louca

 

sossego

quando escreves na minha lápide invisível

(aqui jaz um grande filho da puta)

eu

em sossego

entre as palavras caídas

das sandálias com tiras de couro

e um triciclo de madeira

esquecido

magoado

triste debaixo das mangueiras trucidadas pelas balas sem destino

eu menino

voo sobre o musseque de incógnitas e equações clandestinas

 

louca

 

a boca

a tua boca

quando engole o meu corpo em pequenos recortes de jornal

 

à boca

a louca clandestina memória da infância

 

(aqui jaz um grande filho da puta)

 

um menino em calções que sonha roubar o mar de Luanda...

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:59

05
Set 12

Dizem-me que regressaste

e sofres

como a noite se dissolve nas rochas infinitamente amarguradas

e sofres

como uma cratera à volta da lua

loucamente sofrendo as dores do inferno

 

(regressaste

e sofres)

 

e dormes profundamente nas areias do caos.

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:15

04
Set 12

Do amor das palavras os rios de insónia

nas viagens sobre a aldeia de xisto

com janelas de amêndoa e telhados de chocolate

 

os cigarros imaginários que caminham no corredor da morte

sinto-os

sinto-os encostados às portas do sofrimento

quando o mar da paixão morre entre os degraus e não consegue poisar no sótão

sinto-os em sussurros

nos gemidos da noite obscura

 

o corpo nu da mulher embrulha-se nas paredes de gesso

construídas com migalhas de livros

e velhas sílabas pertencentes a poemas mortos

os pássaros cheiram a tinta acrílica

e as abelhas fogem pelas frestas como olhos de vidro

que vivem nas paredes de gesso do sótão de areia

 

do amor

apenas silêncio

do amor

apenas noites acorrentadas a rios de insónia

 

as pedras e os livros e as mãos da mulher nua suspensa nas paredes de gesso

do amor

e todos os pássaros em direcção ao mar da felicidade

as pedras e os livros e os lábios da mulher nua

e o mar da paixão

apenas silêncio

 

e a minha vida

uma rua de uma cidade morta

uma rua nua e escura

sem saída

amarga no chão semeado de mangas

e o céu pintado de capim

 

(E espero pacientemente que a cidade de Luanda me engula

como engoliu o meu chapelhudo

e o meu triciclo

e todos os meus sonhos).

 

(Poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:38

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:17

03
Set 12

Submeto-me à inquietação líquida das palavras inventadas

quando deixas cair das tuas mãos

os pequenos silêncios embrulhados em lágrimas de açúcar

 

fico cansado ao escutar os teus murmúrios de insónia

oiço as palavras inventadas suspensas no tecto da solidão

e vejo na abobada celeste os finíssimos sorrisos do final do verão

 

há barcos de papel sobre a imunda minha secretária de madeira morta de incenso

há marés de olhares em todos os livros que li

e possivelmente deixarei de ler

(cansei-me dos livros e das noites sem estrelas de abelhas)

ou então aproveitarei todos os segundos para procurar nas palavras

os búzios invisíveis dos visitantes nocturnos

que me procuram sem que eu perceba que nos seus lábios

existem sílabas de suor com chá e torradas

 

segunda-feira

um dia de “merda” como tantos outros dias de “merda”

 

há cigarros

sobre a minha secretária de papel

onde brincam barcos de madeira

hoje

segunda-feira

um dia perfeitamente estúpido e sem cabeça.

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:36

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