A casa dorme
e eu procuro no compartimento dos sonhos
a saudade das flores e dos jardins e do mar de Inverno
oiço as eternas luzes da solidão
contra os vidros da janela do desejo
oiço a espuma dos oceanos
dentro da cabeça dos pássaros
e das gaivotas sem namorado
a casa dorme
e das escadas que dão acesso ao céu
as nuvens
as nuvens em pedaços de silêncio
suspensas no tecto da vida
o meu corpo estremece
cai na areia de chocolate onde brincava nas tardes de Janeiro
cai
a casa
e todo o sono desaparece entre as rochas do cansaço
a casa
cai
o meu corpo pergaminho sem as palavras do cacimbo
o cais
cai
e todos os barcos e todas árvores
felizes no orgasmo da terra depois da chuva miudinha
balançando no capim crucificado das paredes da noite
a casa voa e cai o cais nas entranhas do sono
(poema não revisto)