Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

22
Out 12

cessam as luzes dos teus olhos

manhã de Outono fictícia

sem perceberes que da janela da saudade

rompem lágrimas envergonhadas

tímidas

madrugadas

quando a paixão entra no orifício circunflexo da solidão

e no cubo do medo a tua voz mergulha nas bocas em desejo,

 

cessam as luzes

e os olhares das plantas

cessam todos os silêncios que a lua constrói

na mão clandestina de uma abelha,

 

tímidas

madrugadas

envergonhas

lágrimas

todas elas

à janela com cortinados de sémen

o amor dorme docemente nos teus lábios

manhã de Outono fictícia .

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:52

21
Out 12

És construída de medos

enraizados nos silêncios azuis que a noite sem destino

tece nas palavras que habitam os poemas,

 

toco-te e acaricio o papel de veludo dos teus cabelos

dentro do sorriso das estrelas

no centro da cidade

sem perceber que choras

e estás triste

cansada talvez

talvez moribunda como os relógios empoleirados nas árvores de domingo

quando a tarde mergulha no espelho do guarda-fato,

 

escondes-te no quarto escuro

negro como o universo infinito

das rectas paralelas

os carris da solidão

abraços

beijos

um simples olhar nas persianas do teu peito

bate o teu coração sem destino

furioso porque estupidamente eu caminho sobre o mar invisível

construída de medos

silêncios muitos

beijos,

 

eu

eu o homem de palha com cabeça de vidro

perdido na margem do rio

à procura da tua mão

deliciosa no meu rosto embaciado pela neblina da paixão

o teu corpo estremece na terra húmida que o púbis da literatura

escreve na madrugada

sem olhar para a lua da tua boca.

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:54

20
Out 12

As rosas envenenadas que se escondem nas palavras

escritas

em todas as madrugadas

entre espinhos e bocas aflitas

 

as rosas de ti

que os lábios em beijos de café com natas

deambulam circularmente nas raízes dos pássaros com asas de xisto

voando clandestinamente sobre os socalcos do cansaço

 

mergulham no rio

e desaparecem na musicalidade poética dos beijos

vêm tristemente apaixonadas as palavras

que a noite esconde na algibeira dos cigarros encostados às cinzas das árvores solitárias

 

erguem-se em mim de ti algumas sílabas amargas

desejando voar nos teus olhos com silêncios de mar

e cubos de vidro

com janelas de amêndoa e portas de gelo

 

e o Douro em milhões de cores

vive sofregamente nas encruzilhadas das imagens

negras que da garganta do poema

alimenta docemente os pilares de aço da saudade.

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:54

19
Out 12

As moléculas fantasiadas de amor

em toques superficiais no pergaminho

que as manhãs constroem

debaixo da paixão,

 

enfurecido

o orvalho poisado na pele elegante da dor

que as plantas do teu olhar

transpiram em fios de medo,

 

pego nos sonhos

e semeio-os nas áridas coxas do inferno

quando todos os relógios de pulso

dormem docemente na maré sem luar,

 

e finjo adormecer

nas lágrimas do desejo

que brincam nas finíssimas películas

das moléculas fantasiadas de amor...

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:21

18
Out 12

Hoje perdi definitivamente a alegria

de abraçar os olhos da lua

e de todas as estrelas que viviam

no tecto da minha solidão

à procura da saudade

nas planícies sem destino,

 

queimei todos os livros

e os cortinados da infância

na lareira que sobejou da viagem ao fundo do rio,

 

hoje sem perceber a claridade

dos relógios suspensos nas paredes da sala de jantar

as fissuras de chocolate em crucifixos cansados

das amêndoas amargas na noite dos poemas

as árvores doentes poisadas no meu sorriso fingido

de avião sem motor

redopiando os círculos de vento

sobre as clareiras da doença,

 

tão frágil o esqueleto do tempo

com a voz melancólica

do poeta sem vida.

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:07

Trazes-me as palavras de dormir

para eu alimentar

a noite inventada,

 

trazes escrito no teu submerso olhar

os beijos encarnados da madrugada

quando os jardins sem destino

profundamente encalhados no poço da morte

húmidos todos os homens abraçados ao sargaço menino

sem sorte

escrito em sôfrego cigarro desvairado

coitado

do poema desalmado

na corda do vento,

 

sem o tempo definido

nas paredes das tardes de sorrir,

 

tão querido

o meu cão a latir

percebendo que nas minhas mãos de nada

a maldita madrugada

(a dos beijos encarnados)

escreve nas sílabas de sonhar

as palavras amarguradas

que alimentam a noite

a noite inventada.

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:36

17
Out 12

O sono dos livros sem o destino prometido

na mão do menino querido

vêm da noite os silêncios de luz

que a boca trasfega na planície das palavras cansadas,

deixo de ver o olhar dos pássaros

e o sorriso das flores

não oiço mais o sofrimento dos homens de branco,

cai em mim o sono travestido de sílabas finíssimas

como fios de água

na garganta do xisto encaixado nas masmorras infinitas dos sonhos

cai em mim

as línguas do poema profanado

com a dor indistinta das manhãs sem o orvalho,

cai sobre mim

o perfume das tuas pálpebras azuis

iluminadas pelas lágrimas de um coração esmigalhado...

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:58

16
Out 12

Mergulho nos cansaços das pedras doridas

com o coração prisioneiro num cubo de aço

quando o sorriso da revolta

dos pássaros

as flores que a noite come em pedacinhos de nada

a madrugada

a nossa misera madrugada dos relógios infinitos

o tempo escoa-se nas escarpas visíveis das rochas amargas

a boca

sem o beijo indesejável da aranha

abelhas

nas colmeias da insónia,

 

gostava de preencher os espaços vazios do medo

com os barcos envelhecidos

que o rio engole

com a língua do mar,

 

as abelhas nas colmeias da insónia

quando a madrugada

quarta-feira em desalinho,

 

ontem eu percebia que as árvores dançavam sobre as mesas de mármore

que no cemitério das ervas daninhas

as agulhas das tardes de Outubro

brincam com os comboios de papelão...

 

(as abelhas nas colmeias da insónia

quando a madrugada

quarta-feira em desalinho),

 

e descem sobre mim as lágrimas das nuvens incolores

nas persianas que o sol tece

e a tua mão semeia na terra vendada das palavras.

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:16

15
Out 12

Milimetricamente encerrado num cubo fictício

com o tecto abraçado a integrais triplas

com desejos infinitos de água límpida da manhã

 

iluminam-se-me as mãos quando na minha rua sem saída

passam os teus olhos em pérola de amêndoa

e algodão doce

e o limo do cansaço

o eterno Etón dificilmente sairá da minha algibeira

 

milimetricamente as línguas de incenso

na janela do poema envenenado pelas sílabas assassinas

que a neblina semeou nas arcadas do sonho

 

penso dentro das noite escondidas nos fios de luz

que os teus lábios emanam na cegueira dos traços grossos da Lua

dentro do teu peito

absolvidos todos os palhaços de pano

com a flanela amarrotada

o azul silêncio das árvores

e a musicalidade do sorriso que deixas ficar sobre a mesa-de-cabeceira

na parede

na parede pregado o medo

que todas as palavras morram

porque

porque as palavras ressuscitam nas coxas do Mussulo.

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:36

14
Out 12

Experimento as espadas do sonho

quando rompem as ondas desgovernadas

das manhãs de Outono

na janela com fotografia a preto e branco

os cotovelos alicerçam-se

e das raízes da solidão

ao longe

os socalcos de xisto mergulhados no infinito cansaço

 

se eu tivesse um barco

voava sobre as nuvens de prata

quando o sol na minha mão

se extingue contra as rochas da noite em findos minutos de nada

 

percebia-se pelos olhos do boneco de palha

que as estrelas tinham deixado de brincar

e que a lua menina

saltitava nos assobios dos melros

 

que era noite no lençol de linho

e alimentava as locomotivas com círculos e palavras

que era sábado nos sábados embrulhado no cobertor à procura da lareira

sabendo que um qualquer livro espera por mim

 

e me abraça

nas salas despovoadas com mesas e cadeira mortas

e flores

flores mergulhadas no cio da neblina

 

(Experimento as espadas do sonho

quando rompem as ondas desgovernadas

das manhãs de Outono)

 

e flores

flores mergulhadas no cio da neblina

duas horas antes de eu adormecer...

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:25

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