Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

17
Dez 12

O quarto de mármore fugitivo que a noite deixa cair

sobre o lençol de linho

os sonhos

entre ossos de pedacinhos de ninho

que o coitadinho

passarinho

aliviou quando acordou a madrugada

e desceu sobre ela a morte,

 

a sala sem lareira

na fúria agonizante que as luzes de néon

desenham nas entranhas paredes da película fina tua pele

e não sei

e não sei se as minhas palavras amargas

são

então hoje dormiste sobre a geada fina da montanha

são as cansadas mágoas sofridas pelas húmidas tuas mãos de tecido,

 

tu

tu desesperadamente

com o medo da escuridão que os olhos me obrigam a caminhar

sobre ti

a areia amarela da calçada

à janela

tu desesperada mente a paixão Clementina

ciumenta os alicerces do clitóris poemas inventados,

 

nos poemas murmurados

que ao púbis paixão em versos clandestinos

tu

escreves-me quarta-feira

e a sorte desespera-se em mim

assim

o jardim inválido quando as asas poeirentas das abelhas

na rede cintilante dos pequenos orgasmos das flores em flor,

 

tudo no chão

o soalho

às cadeiras suspensas nas estantes da cave tua boca

as palavras

há palavras na garganta do pavimento térreo

livros alguns poucos poucas nenhumas em sílabas teus seios de marfim

tudo no chão

as palavras em trinta e um de Dezembro.

 

(poema não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:11

Uma gaivota de luz sentenciou-me com quatro simples palavras retiradas de uma caixa espessa que vivia na minha casa, dentro de um espelho, em finais de Setembro, e orgulhosamente escreveu no meu corpo

 

- quero as tuas lágrimas,

 

a minha cansada casa ficava na periferia da cidade, havia árvores, muitas árvores até encontrar o meu quintal onde brincavam as flores da minha avó e as pombas da minha mãe, eu, eu tinha uma irmã, mais velha, crescida, e ela tinha um cavalo branco, vestia-se de branco e flutuava dentro do cacimbo como se fosse um espelho, nuvem, charco de areia finíssima que algumas vezes apareciam, outras, deixava de os ver, eu perguntava-lhe

 

- as minhas?

 

Explicava-lhe que nunca as tive, Nunca choraste? Respondia-lhe que não, Não me lembrava, nem sabia o que eram, Caixas Espessas?

 

- lágrimas

 

telhas de aço cobriam as cabeças infelizes dos rissóis e dos pasteis de nata, Belém, barcos, piolhos disfarçados de mariposas, olhos com pedaços de névoa esperavam o regresso da noite, eu perguntava-lhes

 

- as minhas?

 

lágrimas, nos carris do eléctrico padeciam as migalhas do silêncio, uma caixa espessa, húmida, e, explicava-lhe que não sabia o que eram lágrimas, ossos, carne apodrecida, não sabia, não sei, nunca vou saber porque caem as árvores no meu quintal, quinta-feira, espelho de morte na minha má grande sorte, nem a lotaria do natal, nem um simples postal, perdão, peço desculpa, em quatro simples palavras de alecrim

 

- quero as tuas lágrimas,

 

- também

 

eu

 

- as queria, quero-as, todas, aos molhos, as tripas das Marilús e afins estabelecimentos comerciais, vende-se casa dos anos setenta, calças à boca de sino, e elásticos

 

lágrimas,

 

- quero

 

- eu

 

- as minhas e as tuas

 

e elásticos à volta do pescoço fino e esguio até entrar dentro das nuvens que via láctea desenhava nos cornos da lua, tu desaparecias à porta da sala de estar, da cozinha chegava até nós o som da lareira prestes a partir para o outro lado da cidade, na periferia da cidade, havia árvores, muitas árvores até encontrar o meu quintal onde brincavam as flores da minha avó e as pombas da minha mãe, eu, eu tinha uma irmã, mais velha, crescida, e ela tinha um cavalo branco, e em tardes de final de texto via-a

 

- voava sobre os quintais zincados dos meus amigo pretos,

 

o cavalo ganhava asas, a minha irmã com um chapéu de flores que embrulhavam-lhe os loiros cabelos poéticos que o meu pai escrevia no tronco de uma mangueira, voava sobre os quintais zincados

 

- Belém, barcos, piolhos disfarçados de mariposas, olhos com pedaços de névoa

 

esfregava os olhos,

 

- eu,

 

ela voava,

 

eu e os meus amigos pretos,

 

- cansados de olhar o céu,

 

às vezes,

 

- poucas

 

ela adormecia e o cavalo ia até ao mar, depois uma gaivota de luz sentenciava-me com quatro simples palavras

 

- quero as tuas lágrimas,

 

lágrimas,

 

- quero

 

- eu

 

as minhas e as tuas,

 

- pergunto-te

 

o que são lágrimas em quatro palavras com muitas árvores até encontrarem o meu quintal onde brincavam as flores da minha avó e as pombas da minha mãe, eu

 

chorava, quando o cavalo branco com asas brancas, quando a minha irmã vestida de branco sobre o cavalo branco..., desapareciam em direcção ao mar.

 

(texto de ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:03

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