Cortaste-me a cabeça oca como se eu fosse
(quem será a menina de tranças suspensa na prateleira dos sonhos...)
se eu fosse um comboio sem braços
com muitas poucas pernas de aço
acendias a luz e a noite desaparecia do cais das miseras galinhas chocas
enfadadas pelos atropelos das palavras
parvas
que a marmelada esconde na tigela doirada
cansavas-te curvada na roldana dos dias
quando das noites infernais
com os supositórios de vidro
à espreita agachados os uivos tristes da alvorada
ardiam os jornais
ardiam os orifícios curvilíneos das cancelas do palheiro
havia música nas tuas mãos de gesso
e brincavam
(quem será a menina de tranças suspensa na prateleira dos sonhos...)
será uma ela?
um ele?
coitado
coitada
não me interessam as tranças verdes da espuma que o mar saliva
contra os rochedos da paixão proibida
tristemente eu em pequeníssimas cabeçadas à areia ardida
perdida
tu
eu
perdido
sem tranças
com tranças à janela do vento
sinto
quando me sento
o quê?
Como
porquê?
assim não dá
(quem será a menina de tranças suspensa na prateleira dos sonhos...)
não sei talvez um dia
as asas das gaivotas sejas alegres
como a minha tristemente cabeça oca
(se eu fosse um comboio sem braços
com muitas poucas pernas de aço
acendias a luz e a noite desaparecia do cais das miseras galinhas chocas)
o galinheiro alimentava-se das tuas palavras
doces lábios do doirado orgasmo da tigela louca
descia a ti de ti
a marmelada macia que
cansavas-te curvada na roldana dos dias
quando das noites infernais
com os supositórios de vidro
a janela do teu ciúme abre-se aos beijos dos papagaios de papel.
(poema não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
P.S.
(cansavas-te curvada na roldana dos dias
quando das noites infernais
com os supositórios de vidro)