Se eu tivesse dinheiro até que lhe comprava a merda da mala preta e oferecia-a à miúda, coitadinha dela, triste, amargurada, ela
Roça-se na morte como os sonâmbulos desejos que a noite da cidade atravessa quando caiem as estrelas nas mãos dos sonhos indeferidos, coitadinha, foram-se as torradas, foram-se as lanternas da claridade nocturna, coitadinha, foram-se
A ela,
A puta de uma mala preta, feia, zangada com todas as letras do abecedário, STOP à PARVOÍCE, e acreditávamos que era possível atravessar o céu e visitar o todo-poderoso deus criador, não conseguimos, perdemos força, perdemos altitude, e batemos com a cornadura nas antenas parabólicas de alguns seres criativos, coitadinhas das andorinhas, e ela
Às sete horas em ponto,
Foram-se
A ela,
Em Janeiro quando o AL Berto sentia o mar a entra-lhe pela janela, e hoje
Sem papel não sou corno, resmunga o amigo Nacib perdoando a Gabriela
Moço Bonitooo,
As malas pretas com asas brancas, a firmeza das palavras engasgadas no púbis da estupidez quando lá fora, oiço-o murmurar
“O mar entra pela janela”, tudo lá para dentro
Entra o mar, as rochas e o mastro, afunda-se o barco do tesão, conseguimos
Os espermatozóides depois do peque-almoço, os olhos brilhavam, as mãos de gelo tacteavam as sílabas castanhas da parvoíce, e os corações de amendoim corriam pelas escadas até chegarem ao patamar do trezentos e dez, lá dentro
As malas pretas com asas brancas, a firmeza das palavras engasgadas no púbis da estupidez quando lá fora, oiço-o murmurar
Moço Bonitooo,
Fumavam-se com os poemas dele, vivíamos dançando nas esplanadas dois coirões sem destino algum, parecíamos vagabundos desnorteados pela fragrância amargurada de uma mala preta, de cartão, em cio, todos os homens com arames
Às sete horas em ponto,
Foram-se
A ela,
Em Janeiro quando o AL Berto sentia o mar a entra-lhe pela janela, e hoje
Sem papel não sou corno, resmunga o amigo Nacib perdoando a Gabriela
Moço Bonitooo,
Com arames de aço disfarçados de abelhas com malas pretas, e sobre a cabeça
A eterna estupidez,
Melancólica dos gemidos em flores de papel cansadas, dos gemidos em flores de papel completamente fodidas pela vaidade que a argila de incenso rompe pelas entranhas das claras meigas folhas de mangueira quando caiam e sobre o velho triciclo
A ela,
Em Janeiro,
O verão sorria-me e deitava-se sobre mim, em voos frigoríficos das mangas chapinhando na língua da ave mestra, vaidosa, burra
A ela,
Quando caiam as perdizes sobre as coxas de uma triste mala preta, velha, com as coxas desventradas, como eu quando acordei e olhei-te pela primeira vez, no meu colo, parecias-me uma amêndoa, feia, ranhosa, burra
Eu
A ela,
“Roça-se na morte como os sonâmbulos desejos que a noite da cidade atravessa quando caiem as estrelas nas mãos dos sonhos indeferidos, coitadinha, foram-se as torradas, foram-se as lanternas da claridade nocturna, coitadinha, foram-se”
A ela e comeram-na como se comiam as sandálias de couro e os calções com listras em Luanda, e descia a noite, e descia, e vinha-se
Entre os parêntesis das palavras proibidas.
(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó