Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

19
Fev 13

Pilotavas corações nos jardins suspensos da Babilónia, às Segundas, Quartas e Sextas voavas sobre as searas de sorriso que submergiam nos mares distantes das nuvens de gelo que desajeitadamente acordavam dos pulmões de porcelana dos homens prateados com cintos de Cobre, às Terças e Quintas dançavas sobre as mesas do Karamelo Doirado Bar, e aos Sábados e Domingos, dormias como os pássaros nos ramos de papel das árvores de prata, não respiravas, não sorrias, apetecia-te ficar

Triste,

Não havia em ti uma simples corrente de ar que se erguesse dos teus olhos, não havia em ti um aparo à espera de uma caneta recheada com tinta e uma maço de papel mata-borrão, E triste, dizias-me tu quando eu acordava do meu sono longínquo que me levava a atravessar as loucas montanhas do sono,

Triste não haver em nós uma corda de luz enrolada numa janela de mar com periscópio para observação da cidade dos quatro tristes cadáveres de areia, insónia, insónia com poucas palavras entre paredes, pilares e vigas de aço, triste não haver em nós

Eu, tu e ele, Tristes

Um sofá com pele cuticular espera-nos para se alimentar dos nossos ossos, o teu corpo e o meu corpo, esqueléticos, são absorvidos pelas mandíbulas das molas dos assentos com almofadas de orvalho, o lago onde te sentavas a olhar-me enquanto eu pilotava os corações dos jardins suspensos da Babilónia desapareceu quando decidiu a noite esconder-se dentro de uma larva com olhos mórbidos, também eles

Tristes, como nós, Eu, Tu e Ele, e todas as árvores de prata,

Também eles, todos, os habitantes dos jardins suspensos da Babilónia na expectativa de uma nova revolução entre palavras e canções, pedaços de cartão alimentavam os cobertores daqueles que sem casa, iam vivendo nas ruas com edifícios de sofrimento, e quando lhes perguntávamos se eram felizes

Que sim, muito, como nós, Eu, Tu e Ele,

Como nós ao acordarmos e as lâmpadas dos candeeiros poisados sobre as mesas-de-cabeceira, todas, fundidas, sem seguro e inspecção periódica, às vezes, o corredor, é literalmente abraçado a uma coima simbólica por parte de um sombra com braços de cinza, o excesso de velocidade, fatal, contra a porta da casa de banho, de um pequeníssimo postigo de morte, três costelas e um pulmão queixam-se do fumo das plantas que fazem sorrir os homens que pilotam corações de chocolate que vivem nos jardins suspensos da Babilónia, felizes

(Um sofá com pele cuticular espera-nos para se alimentar dos nossos ossos, o teu corpo e o meu corpo, esqueléticos, são absorvidos pelas mandíbulas das molas dos assentos com almofadas de orvalho, o lago onde te sentavas a olhar-me enquanto eu pilotava os corações dos jardins suspensos da Babilónia desapareceu quando decidiu a noite esconder-se dentro de uma larva com olhos mórbidos, também eles), abrem-se as carapaças dos submarinos encalhados nos bancos de areia, à escotilha, um homem e uma mulher e uma criança (não tivemos tempo de determinar o respectivo sexo e a idade), provavelmente do sexo masculino com cerca de seis anos, cor da pele (não determinada), olhos (com a distância não nos foi possível verificar a cor dos olhos), e sem qualquer dúvida trazia ao nível dos ombros um par de asas azul marinho, como os sapatos de verniz que o tio Francisco lhe tinha oferecido, eles, os três orgasmos de sémen perdidos na ocidental praia das línguas de serrim, Tristes, todas, e todos

Esperavam,

Acordavam,

Inseminavam,

Um sofá com pele cuticular sobre os joelhos da cansada nuvem em descidas bruscas dos céus pintados de fresco nos bancos de madeira debaixo dos plátanos-poemas que escrevíamos antes do jantar, triste não haver em nós uma corda de luz enrolada numa janela de mar com periscópio para observação da cidade dos quatro tristes cadáveres de areia, insónia, insónia com poucas palavras entre paredes, pilares e vigas de aço, triste não haver em nós

Eu, tu e ele, Tristes

O cio mergulhado no rio Xisto, barcos de medo pendurados nas janelas viradas para a seara de gelo, nuvens poeirentas nas abraçadeiras das pernas dos pássaros e flores livres entre os corações avermelhados que o saudoso amor engolia nas profundas goelas de saliva que a paixão deixa ficar nas mãos dos pequenos livros de poesia, ontem

Eu, tu e ele, Tristes

Numa cidade de madeira, e

E

E às Segundas, Quartas e Sextas voavas sobre as searas de sorriso que submergiam nos mares distantes das nuvens de gelo que desajeitadamente acordavam dos pulmões de porcelana dos homens prateados com cintos de Cobre, às Terças e Quintas dançavas sobre as mesas do Karamelo Doirado Bar, e aos Sábados e Domingos, dormias como os pássaros nos ramos de papel das árvores de prata, não respiravas, não sorrias, apetecia-te ficar

Triste.

 

(texto de ficção não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:20

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