Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

30
Mai 13

Significo nada

como uma pomba sem pátria

significo muito pouco ou quase nada

quando das ilhargas manhãs de Primavera

oiço as vozes camufladas

por nuvens e gaivotas acorrentadas,

 

Significo apenas um número com dígitos assombrados

significo quase nada no jardim das plumas árvores vestidas em purpúrea

entre migalhas de porcelana

e beijos inseminados nas ventosas gargantas da montanha branca

significo... não o acredito depois de ver desaparecer os muros em cartão

que separavam o meu quintal dos tristes fins de tarde,

 

Contávamos os barcos com letras pintadas a oiro

e bandeiras em pano de alecrim

gritávamos como os loucos entre janelas com grande ferrosas

e pequenos arbustos de asas de algodão...

significo nada

como uma pomba tristemente abandonada num País sem Pátria.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:48

foto: A&M ART and Photos

 

Atravessávamos o lótus húmido da manhã

como eram as escadas que deslizavam ruela acima

sentávamos-nos sobre uma sombra gargantilha

e dos pinheiros mansos de Carvalhais

ouvíamos as eiras graníticas correrem em direcção à ribeira dos aflitos,

 

Éramos novos e crianças

mal sabíamos ler e escrever

e falávamos entre sons desconexos como pedras a invadirem a montra de uma ourivesaria

tínhamos livros

e apenas víamos as imagens deslizantes como serpentes sem cabeça,

 

Gostava de ti ainda

como às paisagens de África circunflexas no interior do osciloscópio

e mágicos invadiam as janelas com cinco vidros pintados de encarnado anoitecer

vinha a noite

e via-te encostada a uma jangada invisível na esperança de voares,

 

Nunca o fizeste como comigo depois de eu ter caído no poço da angústia

tínhamos na boca o sabor a ervas ou a bolhas castanhas com asas verdes

deslizavam sobre uma lâmina de alumínio como correm todas as bolhas

quando chovem diamante e lábios de areia

entre canoas e pedaços de osso argamassado contra os eléctricos da Baixa,

 

O rio da saudade ornamentava-se e entrava em nós como silêncios gemidos

sobre uma cama de pensão com paredes rendadas e crucifixos suspensos sobre a cabeceira

olhávamos-nos no espelho

e os nossos corpos nus misturavam-se com o reflexo do velho crucifixo

… e assim deixávamos em suspenso o amor canino com dentes de marfim...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:55

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:01

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