Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

07
Jun 13

foto: A&M ART and Photos

 

É sexta-feira, atiram-se pedras contra as palavras que poisam no estendal do quintal onde juntamente com demais roupa, de homem e senhora, uma criança grita pelos patos que brincam no lago, são três, podiam ser quatro, o ideal seriam cinco, mas é o que eles têm, e já não é pouco, de essa criança existem alguns brinquedos espalhados ao redor das mortas árvores de papel grosso, pouco maneável, não chove, o tempo seco ressaca-lhe os pulmões desabituados ao fumo do cigarro, e hoje, não sente saudades de fumar, mas não se cansa de recordar o cheiro, as imagens inventadas pelo fumo esbranquiçado, penumbro, arrancando bonecos de palha do campo de milho da tapada do avô Domingos, Carvalhais existe, S. Pedro do Sul padece das minhas mãos quando me sentava no jardim junto ao Município, ou ficava horas a imaginar o rio Sul em círculos enquanto do meu corpo uma sombra de planaltos deambulava pelas encostas em frente às Termas, queria atravessar o rio, voando, como pássaros, os melros invadiam-se da gaiola do senhor Joaquim, tio,

(o tio Joaquim não percebe porque chamam ao grande José Eduardo Agualusa, falso escritor, não percebe, não entende, talvez porque o tio Joaquim já tenha morrido, talvez porque o tio Joaquim só tinha a quarta classe, ou, porque apenas e só, quem o afirma, o escreve por inveja, ou pior, por ignorância, ou porque não lhe interessa ou interessam os temas dos livros de Agualusa, é verdade que todos têm direito à opinião, livre, mas dizer falso escritor... porquê? Tínhamos três patos, eu passeava-me em volta do lago imaginário onde perto do lago existia um canastro, atulhado de milho, a eira ao lado do canastro, ambos, pertenciam ao outro tio, o artista, Serafim, grande homem, este, e o outro também, o Joaquim, mas tinha um defeito, um grande defeito, não percebia a razão de escreverem que Agualusa é uma falso escritor..., tantas falsas coisas, e os livros, são todos eles verdadeiros, e aquele que escreve, será ele um falso homem? Só não percebo, querido tio Joaquim, questiona-se a possível fortuna de Agualusa, e não se questiona a fortuna de certas pessoas que em Angola vivem sem que se perceba como conseguiram tão grandes fortunas, essas sim, colossais, quando não ainda há muito tempo, alguns, mal sabiam ler e escrever e andavam de G3 no mato... e agora, alguns deles, passeiam-se de avião e vêm às compras a Lisboa)

O tio, o outro, o artista, cantava fado e declamava poesia na sua adega, rodeava-se de amigos, alguns de simplicidade invejável, outros, que deixavam o respectivo canudo à porta da adega e madrugada depois, saiam, felizmente o conseguiam fazer, alguns de gatas, outros, outros cambaleando sobre rodas de incenso e lápis de cor,

(hoje percebo que não nasci em Angola, que jamais regressarei porque felizmente não compactuo com determinados comportamentos, sempre o fui e sou, a favor do livre pensamento, recuso-me a aceitar o insulto apenas pelas diferenças de opinião, não concordo que José Eduardo Agualusa seja um falso escritor, e para terminar, percebi hoje que os destaques do meu blogue Cachimbo de Água no Sapo Angola, de hoje em diante, terminaram; paciência, sou e sempre fui assim, mesmo sabendo que posso perder tudo, o pouco que tenho, e não te preocupes tio Joaquim, um dia, um dia vamos ver o Mussulo, e depois, levamos duas cadeiras de vime, sentamos-nos junto à Baía e esperamos pelo regresso da...)

E dos lápis de cor, ele, o tio, o Joaquim, deitou fora o de cor azul.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:51

foto: A&M ART and Photos

 

Esqueço abismos e inglórias

acordo sabendo que deixaste de me esperar no banco granítico

do jardim invisível

o nosso pequeno quarto sobre as rochas viradas a Norte,

 

Esqueço palavras e sonhos

imagens

esqueço os sofrimentos das nocturnas esplanadas que a escuridão engole

e transcreve para o muro em betão que divide os nossos corpos separáveis hoje,

 

Acorrentados ontem

(lembras-te – querida solidão de areia?)

como barcos prisioneiros em pilares de sombra

e esperando que o luar desça as escadas dos cais desassossegados,

 

Esqueço a ti

como as serpentes envenenadas debaixo do divã

esqueço a ti embrulhada no capim húmido dos lençóis da madrugada

e sei que deixaste de me esperar,

 

E nunca mais te vi na janela da manhã

como o fazias ontem

antes de ontem...

quando regressávamos dos corredores de aço com sulcos finos em papel de parede,

 

Rosas em decomposição

corpos de poemas em putrefacção não sabendo eles que deixaste de olhar o sol

e começaste a caminhar mar adentro

como um paquete sem rumo,

 

Descendo calçadas de vidro

versos cansados

palavras e palavras e palavras

para quê?

 

Versos malvados

esqueço abismos e inglórias

acordo sabendo que deixaste de me esperar no banco granítico

do jardim invisível...

 

Tristes

estas noites quando os relógios morrem

e o tempo cessa as suas garras

no pescoço teu onde dormem as gaivotas embriagadas.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:27

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