Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

23
Jun 13

Real Palácio Hotel. Apresentação de “Palavras de Cristal – Volume 1” Colectânea de Poesia. Participação de Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:21

foto: A&M ART and Photos

 

Sinto-me como um panfleto manuscrito, rasurado em determinados centímetros quadrados de área, sinto-me uma pulga vagueando no interior do pêlo fiel amigo meu canino, escondo-me das luzes, escondo-me dos paralelos desconformados, defeituosos, alicerçados a um passado que nunca, nunca existiu em mim um mar verdadeiro, silencioso, com ondas coloridas, calmas, docemente cinzentas como as flores do teu olhar, sento-me e esqueço-me da tua existência como mulher, criança, menina mimada, sempre em revolta, a brincar, às vezes, dentro da minha oca cabeça, recheada, a minha oca cabeça, com papel de parede floreado, que me servirá para alimentar o medo do quarto onde me deixam adormecer, deixavam? Também o desconheço, o ignoro, penso nas mãos dele e tenho-lhes medo, medo de ser acariciado como uma rosa quando acorda no jardim em desejados corações de incenso,

Tenho-os dentro do meu esqueleto os antigos panfletos manuscritos, rasurados, nojentos, tenho-os, mesmo antes do nascimento do amor, em mim, recordo a primeira paixão, talvez fosse o mar, o meu primeiro amor, ou... as mangueiras, ou... o meu fiel amigo chapelhudo, ou o abraço do velho Domingos quando regressava a casa, abria-me os braços... e eu, entrava dentro dele, até ao dia seguinte, até ser novamente manhã,

Lembro-me das tuas carícias, recordas-me tu em apenas três imagens, três simples desenhos inventados por ti numa noite de desenhos com literatura e vodka, ouvíamos “Dire Straits” sentados numas cadeira com uma estrutura flácida, como o sexo em noites de embriaguez, deitavas a cabeça no meu ombro, e voávamos sobre um Lisboa acabada de descobri, eu imaginava-te dançando sobre uma mesa num bar em Cais do Sodré, tu, não me imaginavas mas sabias que eu era um panfleto manuscrito, rasurado, como a montanha quando nascem os pássaros e a olham pela primeira vez, sorriem e exclamam...

Amo-o,

As tintas alimentava-te,

Amo-a,

Também, vestia-se de tela, e do corpo cresciam raízes pedestais em cúbicas cidades de areia, dançávamos como se não existissem madrugadas de poesia, como se não existissem rosas no jardim do amanhecer para alimentar-te os lábios pincelados de encarnado sangue, fluidos derramavam-se-te como espelhos em pedacinhos de luz, que reflectiam nos tectos das noites ausentadas, e percebia-se figuras não geométricas nos teus lençóis de insónia,

Hoje,

Amo-o,

As tintas alimentava-te,

Amo-a, o cansaço equacionado em triplas integrais numa ardósia junto à pastelaria onde comíamos os fabulosos pasteis de nata, Belém, a nossa casa, um relvado infinito de sombras, de braços entre beijos e sonhos, as árvores despiam-se e deitavam-se connosco, éramos muitos, muitas, o quê?

Amo-o, dizias-me tu enquanto te masturbavas no espelho invisível da noite, e no entanto, reconhecia os meus desenhos no teu corpo bronzeado, escuro, como os livros acabados de arder sobre as tuas coxas de silício, e ias à janela, e desaparecias como desaparece o fumo dos cigarros que hoje não fumo...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:22

foto: A&M ART and Photos

 

Tão só como as andorinhas em papel

que brincam na tua mão exagerada

as migalhas do xisto mendigo correndo montanha abaixo

e depois

as carícias que a tua pele de neblina inventam no meu corpo de Primavera,

 

Vejo a névoa que os teus olhos alimentam à roldana das horas

voando entre finas esparsas manhãs com chocolate em pó...

dos ponteiros do meu relógio sem pulso

uma deslumbrante doentia pulsação esmorecendo nos finais de tarde

e entra-me o rio no meu corpo de madeira,

 

Encharca-me o peito

e sinto a inundação do meu coração... coitado

… à deriva como uma barcaça perdendo as letras do nome

em cada esquina da cidade com as sombras árvores em silêncios nocturnos

e eram assim os meus dias aprisionado em ti não o sabendo,

 

Em mim perdido como um charco de lama derretido no musseque da lentidão

desce a noite

cobrem-se-me as pálpebras com as palavras de ti

vagueando no cansaço espelho do guarda-fato o meu destino imaginário

….............
tão só,

 

As andorinhas em papel ardendo na lareira dos teus seios

submersos no meu peito

se ainda o tenho

porque não o sinto

porque... também eu transformei-me em homem de papel...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:30

Real Palácio Hotel Apresentação de “Palavras de Cristal – Volume 1” Colectânea de Poesia. Participação de Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:34

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