Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

31
Jul 13

Foto de: A&M ART and Photos

 

O silêncio, vestido, o silêncio das palavras mergulhadas nas ínfimas gotículas de insónia, um olhar, uma cena construída nas cavernas da montanha adormecida, o poema redefine-se, vive, e parte em direcção ao mar..., os olhos fixam-se na parede húmida da escuridão, o silêncio absorve a musicalidade de um piano de cauda, as mãos finas e longas, entrelaçam-se e distribuem-se no teclado negro com sorrisos brancos, a pianista sorri, e tem nos olhos a alvorada das notas musicais, a pianista é como um livro na mão do poeta, manuseada, folheada... e acariciada, a pianista em lágrimas de desejo, voa sobre o palco inventado com um pequeno banco em madeira, há aplausos, há beijos nos lábios da pianista, e o poeta sussurra-lhe ao ouvido

Desejo-te como és, de mãos finas e longas perdidas nas manhãs de Primavera,

Ao ouvido (Amo-te?) amará o poeta a pianista misteriosa? Estará o poeta louco? E a pianista... será uma árvore com olhos verdes? Azuis? Descoloridos? Emagrecidos...

Como? Como serão os olhos da pianista?

Desejo-te (Amo-te) sussurra-lhe o poeta em duodécimos sons das palavras com sabor a gotículas de suor, o corpo permanece sentado e o piano, e o piano toca-se e masturba-se nas mãos da pianista, há um espelho, há pássaros, há...

Mendigos pássaros, loucos, loucos silêncios, vestidos, os silêncios das palavras mergulhadas em ti, nas ínfimas gotículas de insónia, não dormes, sonhas? Pensas num corpo sobre o teu, imune, vagueando como mórbidas Sereias no fundo do mar, sentindo, tu, entre o piano e o cortinado de fumo, os cigarros movem-se como carnívoras plantas em vasos de porcelana, desejas o desejo e tens medo de desejar,

Há,

Há pássaros em ti, voando, brincando, há pássaros nos teus cabelos de ébano cristalino, a tua boca, a tua doce boca, silencia-se na minha, permanece imóvel, ausente... e dorme, dorme como uma criança depois do almoço, da tua doce boca os lábios peregrinos começando as desvairadas lâmpadas de néon...,

Medo de desejares, medo de amares, há uma janela com vidros de pólen estacionada junto ao teu piano, ama-lo? Pareces cansada, triste, desiludida..., como eu, o poeta prisioneiro nas mãos da pianista, como eu, o poeta estátua, imóvel, nu, tu, numa cama embrulhada em livros e discos de vinil, uma cama camuflada no sofrimento da cidade, há

Como mórbidas Sereias no fundo do mar, sentindo, tu, entre o piano e o cortinado de fumo, os cigarros movem-se como carnívoras plantas em vasos de porcelana, desejas o desejo e tens medo de desejar, há em ti de mim... coisas desconhecidas, palavras não ditas, por escrever, doidas, doidas como os sons que das tuas mãos vomitam melodias de madrugada menina, vaidosa, alegre, como tu, menina, menina dos mimos, menina...

Há,

Há pássaros e pianos, há árvores e gaivotas, há poetas e livros,

Diz-me tu, o que escolherias?

Diz-me tu, como são os teus lábios quando sentes o invisível desejo do piano vagabundo descer a calçada em direcção ao rio,

Diz-me, diz-me tu..., menina do piano com graníticas pautas de oiro...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:23

foto de: A&M ART and Photos

 

Sisudo complexado como um piano

triste

velho

desafinado,

 

Eu um transeunte indefinido correndo calçadas

bebendo palavras

eu

como tu

mergulhando em lençóis de prazer,

 

Sisudo tu...

sisudo eu?

 

Foges

escondes-te nas amarras rochas de arroz

cerras os lábios

e colocas em volta do coração uma corrente de aço...

uma âncora de sofrimento embebida em sílabas

foges

sisudo tu...

sisudo?

 

Inventas-te inventando-me nas paredes da tua solidão

pareces um barco com asas de gaivota

uma menina saltando à corda junto às amoreiras em flor...

… sisudo eu

carrancudo perdido como pedra de ruela

varanda com vista para o Oceano petroleiro da vida...

inventando tu o amor

foges

escondes-te das flores e da miudinha chuva sobre a madrugada...

foges

sisudo tu...

sisudo?

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:15

foto de: A&M ART and Photos

 

Ossos vestidos de desejo adormecido

canções do mar

perdidamente sós sobre os pilares invisíveis da alvorada

e os teus olhos mergulhados em palavras papel...

e os teus olhos correndo a calçada das desgraçadas pedras de solidão

tristes

cansadas

ossos os teus e os meus

amargurados como pincéis embebidos em beijos de amar...

sonhos teus entre os sorrisos navegar

ossos vestidos de desejo

desejando-te na escuridão noite do prazer...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:05

30
Jul 13

foto de: A&M ART and Photos

 

imagino-te sentada numa rocha, nua, cansada, despida... imagino-te, nua, triste, alegre, vadia... correndo sobre o mar, imagino-te, Mulher do mar, veneno, palavras não escritas, nas mendigas folhas de papel, imagino-te, nua... nua voando sobre os lençóis da alvorada, um anjo com asas de vidro e lábios de cristal, a preciosa mulher do mar, a mulher do verdadeiro amar..., como as árvores de porcelana vagueando sobre os cabelos nocturnos da alvorada, saciando o teu desejo, construindo em ti os prazeres infinitos das equações diferenciais,

Triplas integrais correndo sobre o rio agoniado,

Sentávamos-nos um sobre o outro, brincávamos como artistas plásticos desenhando corpos invisíveis nas clarabóias do imaginário sofrimento, gemias, uivos e pingos de suor como pássaros vaiados nas manifestações do amor,

Equações dos mamilos heterogéneos como sílabas de cansaço, teus braços nos meus braços, teus lábios nos meus lábios..., tu dentro de mim, assim, uma rocha recheada de sémen, uma lâmina de luar deitado na varanda virada para o rio, ao longe, o petroleiro esquecido procurando anzóis envenenados e pequenas migalhas de ferrugem, saciar-me de ti como tu sem dizes,

Existo, e sou mulher,

O que é ser feliz?

Imagino-te sentada sobre mim, imagino-te em trapézios de mãos entrelaçadas, fugindo, correndo, escondendo-se..., imagino-te, assim, nua, em mim, imagino-te sendo o mar vestido de gaivotas com sorriso encarnado, o pôr-do-sol, ou...

Existo, e sou mulher, existo e preciso de prazer, de ser acariciada, e amada, simplesmente como são as flores, e as abelhas, e os poemas esquecidos sobre a mesa-de-cabeceira, escritos para ti, poemas, palavras embriagadas, estonteantes, palavras mendigas, vagabundeando a cidade amaldiçoada, imagino-te amada, mal amada, imagino-te só... enrolada no travesseiro, embrulhada nos lençóis de seda com nuvens verdejantes, triplas integrais correndo sobre o rio agoniado, barcos e barcaças e velhos cacilheiros, vomitando, agoniados, frases de paixão adormecida, peixes comendo algas, as tuas algas, e tu, sobre mim

Nua, recheada de sémen e incenso, em tridimensionais desenhos, cubos olho-te e de nua nada tens, olho-te e de integral... apenas o símbolo, escorrendo da tua boca como saliva, como ninguém,

Existo, e sou mulher,

O que é ser feliz?

E lábios de cristal, a preciosa mulher do mar, a mulher do verdadeiro amar..., como as árvores de porcelana vagueando sobre os cabelos nocturnos da alvorada, saciando o teu desejo, construindo em ti os prazeres infinitos das equações diferenciais,

Triplas integrais correndo sobre o rio agoniado, vogais suicidadas no mural da felicidade, vejo-te e sinto-te, dentro de mim, nua, apenas em esqueleto de desejo como melódicas canções de amor, imagino-te, imagino-te... imagino-te,

Chorando, rindo, sonhando, imagino-te..., imagino-te sentada numa rocha, nua, cansada, despida... imagino-te, nua, triste, alegre, vadia... correndo sobre o mar...

Nua, dentro de mim, cambaleando como tempestades de areia...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:15

29
Jul 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Cortas em fatias douradas a triste madrugada

corre em ti sonâmbula um rio nas linhas de aço do amanhecer

cortas as nuvens silvestres percebendo-se nelas as cansadas manhãs de solidão...

carnívoras palavras alimentam-se de ti

e em ti

comestíveis poemas sobre as velhas searas adormecidas,

 

Entranhas-te no meu peito fumegante em cinzas invisíveis dos cigarros vegetais

amar-te-ei como o mar que engole silêncios de velhos barcos enferrujados

inscritos em ti os últimos desejos da noite com sabor a ébano das montanhas de espuma

entranhas-te como a água salgada nas rochas da solidão...

e em ti

de ti... o sabor da tua língua procurando os milímetros quadrados dos meus braços,

 

Saborear-te ensanguentada de gemidos uivos e pequenas gotículas de suor

o odor embriagado dos teus seios que sobejaram das tempestades de areia

os vómitos das pequenas árvores abandonadas

sobre o oceano desencanto navegável...

não esqueço os desenhos em prata

que dos teus mamilos voam sobre a cidade do amor...

 

Desenhar-te como um rio vagabundo

indomável como eu correndo sobre as calçadas de granito sapateado...

sou como tu eu nu

invisível saborear-te em pedaços papel amarrotado com chocolate

desencanto desenhar-te não percorrendo com os meus dedos

o corpo teu que tu inventaste para mim...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:19

foto de: A&M ART and Photos

 

O corpo viciado em pequenos pedaços de espuma, mergulha, flutua..., o corpo sensível e volátil, voa, voa livremente sobre as acácias em flor, o corpo viciado em poema, disfarçado de personagem imaginária, o corpo vivo, do prazer, ao sonho, como um livro, um livro recheado com palavras, desenhos... um livro teu corpo de ler,


Define paixão!
Define… definição
Corpo
Coração,

Define amor!
Define… definição
Corpo
Canção,

Define madrugada!
Define… definição
Criança
Zangada,

Define flor!
Define… definição
Mulher
Dor,

Define prazer!
Define… definição
Sexo
Escrever.

 

O corpo mergulha, transpira, vive, vive como uma sílaba embebida numa simples folha em papel de parede, o espelho, a vida, o corpo que é o teu, simples, complexidade, circular, cúbico, os teus olhos, mergulhas, és esfinge, és literatura, espuma, mar, o corpo teu que voa, que tem asas, tua, minha, deles... destruída, a paisagem, tua, como uma janela despedaçada, húmida, partida, forçada..., tua, Tua..., um corpo e uma parede, nua, mergulha, cintila, e as pálpebras ao rubro, o desejo percorre as mandíbulas da rua,

Nua, tu, tua, o corpo, o teu, aquele que alimenta os espelhos, aquele que acompanha a Primavera, aquele que embrulha os tristes lençóis de seda, aquele teu corpo de ler, invisível, como as palavras nele, como as palavras nele escritas, desenhadas, premeditadas...

O corpo, o teu belo corpo em cerâmica e pintado com os dedos finos às lâminas da mão do prazer, uivos, gritos, gemidos, pedras partidos vidros, o corpo, teu corpo de ser...

Escrever,

Sexo?

Quando a mulher existe, quando a mulher se transforma em pedra anelar, em Lua, luar..., em planeta, foguetão, em astronauta, quando o corpo da mulher submerge até ao infinito cubo silêncio dos pássaros vadios, rebeldes, como tu, em teu corpo, simples, de palavras, as palavras do ser...

 

(não Revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:28

28
Jul 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Esquilos, nozes em vozes, mamilos denegridos, absortos, lábios lânguidos, corpos absolutamente sós, como eles, e como nós, os vizinhos quando lhe batiam à porta em maciça madeira, ele, ainda embriagado pela poesia não escrita, escondia-se, fazia-se... morria, não percebendo depois, que tudo era a fingir, acordava, voltava a dormir, deixou de sorrir, deixou de viver, não queria passear-se pelas cansadas margens de um doente rio, vivia-se, e ia-se vivendo, não sabendo, nunca, o horário penumbro das amendoeiras em flor,

Descia-se,

Subia-se,

E chorava-se,

Esquilos vaidosos roendo nozes de brincar, fantasia, histórias ao almoçar, sobre uma pequena mesa, de pedra, no quintal, uma árvore e um pássaro, preto, bico amarelo,

Melro?

Melro, talvez, porque não?

Inchados, os pilares de areia que seguram as amarras das tristes varandas com murchas flores, ao longe, a praia, o silêncio, o corredio de machimbombos vomitando sonhos adormecidos entre o Baleizão e o Mussulo, batiam-me à maciça madeira porta, eu, eu escondia-me, ou simplesmente berrava

Não estou em casa, hoje,

E eles, elas, acreditavam..., tão parvos, e continuava fingindo dormir, quando na verdade, eu, eu estava morto, desde criança, morri, recordo-me vagamente, tinha alguns poucos, não muitos, seis anos de vida, lembro-me como se fosse hoje, era Setembro, brevemente começavam as vindimas

O que são vindimas, pai?

É o apanhar das uvas...

Uvas, o que vão uvas, pai?

Não percebia que as videiras

Pai, sim filho, o que são videiras?

Não percebia que as videiras davam uvas, que existiam cachos, e lembro-me como se fosse hoje, era Setembro, quase, quase começavam as vindimas, e lembro-me, morri, depois, embrulharam-me num lençol de água salgada, permaneci assim cerca de vinte e oito dias, era Outubro, caiam as folhas das árvores, e eu, eu perguntava-me porque caiam as folhas das árvores,

O que são vindimas, pai?

É o apanhar das uvas...

Uvas, o que vão uvas, pai?

Não percebia que as videiras

Pai, sim filho, o que são videiras?

E pela primeira e última vez, eu, eu tive vergonha de perguntar ao meu pai

Pai, porque caem as folhas das árvores?

Eu tive vergonha de perguntar ao meu pai se esta terra era para sempre ou apenas para eu brincar, e começaram as chuvas, e o frio, a geada e a neve, e eu, eu morto, fui ficando, fui ficando... embrulhado num lençol de água salgada.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:58

foto de: A&M ART and Photos

 

imagino-a sonolenta

como as gaivotas de Agosto

partilho

não partilho

como o cacimbo das tuas mãos

quando mergulhadas no incenso partilhar...

 

… e partilhei

 

imagino-a sentada sobre o sorriso pôr-do-sol

como palmeira envenenada

partilho

não partilho

como a chuva miudinha sobre a terra queimada

 

… partilhei

e amei

 

quem sou imaginando-a sonolenta

aos espelhos verticais das cidades encantadas

partilho

não partilho

desejos e marés das velhas madrugadas

 

… e partilhei

e amei

 

as mãos tuas partilhadas.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:30

foto de: Francisco Luís Fontinha

 

Um silêncio de espuma com sabor a areia branca, o mar, as gaivotas poisadas em mastros invisíveis, brincando, correndo, sentado, inventando..., sonhando com um ferrugento triciclo com assento em madeira, pobre, apodrecida, um silêncio de espuma, saltitando os círculos da infância, com sabor a areia branca,

Mentiras descendo a calçada, abraços, como velhos guindastes de aço, perdidos entre a cidade dos vidros, mentiras, correndo, dançando, brincando como as crianças, que somos, ontem, que fomos, hoje, doces, vaidades imperfeitas, de espuma, os olhos brilhando entre mim e a minha pobre sombra, a criança, eu, imagino papagaios em papel descendo a calçada

As mentiras?

Também, como eles, chegando até mim, cansados, fartos de me ver pendurado na nuvem número cinco do primeiro andar esquerdo, as escadas, muitas, cansadas, assobiavam como quando eu imaginava acariciar-te a pele de luminosidade sonsa, insossa, acabada de transcrever as últimas palavras de ti, o teclado preso nas minhas mãos, o papel prendia-se-me nos dedos, e eu

Nada fazia, em vez de tentar libertar-me..., sonhava beijar-te debaixo das acácias em flor, e eu, nada, fértil, as palavras deambulando sobre a velhíssima máquina de escrever, o teu corpo transpirava de prazer, a fita prendia-se nos teus seios, brotava pingos de tinta, o preto e o vermelho, misturavam-se nas janelas do palheiro de Carvalhais, ouvíamos um som esquisito, tonto, como as pedras descendo violentamente a montanha do Adeus, eu, eu desejava-te no meio de toda aquela canalhada porcaria de velharias, máquina de escrever sobre o teu peito, o zurrar da Singer comendo pedaços de tecido, os livros, esses, chorando como crianças, que fomos e que éramos, um dia seremos como os cacos cerâmicos que brincam na nossa sala de jantar, um dia, um dia

Tu e eu,

Seremos os espelhos desprovidos de quaisquer imagem nocturna, o preto e o vermelho, sobre o teu corpo, a fita desenrolada da máquina de escrever, o teclado, esse, mais pezorro do que as tuas coxas de rosa perfumada, deixavas o papel entalado na ranhura, batíamos as teclas como se estivéssemos a destruir a espessa e dura casca da amêndoa encontrada no sótão da casa que tínhamos inventado dentro de nós,

Tu e eu?

Nunca,

Tu e eu, dentro do silêncio de espuma com sabor a areia branca, o mar, as gaivotas poisadas em mastros invisíveis, brincando, correndo, sentado, inventando..., sonhando com um ferrugento triciclo com assento em madeira, pobre, apodrecida, um silêncio de espuma, saltitando os círculos da infância, com sabor a areia branca, eu, a criança brincando com a máquina de escrever que mais tarde, muitos anos depois, me foi oferecida, o teclado teus seios rangiam durante a ténue luz do quarto nu embebido no divã com a colcha azul com flores em sorrisos doirado, o papel, na ranhura, amarrotado, como hoje, a pele do teu corpo, deitado, sobre uma das prateleiras da biblioteca, estás misturada em três partes de ti e uma de livro, pareces o inferno quando corríamos calçada abaixo, quando o teclado de ti escrevia palavras lindas, como imagens a preto-e-branco, sempre, sempre antes de acordar o pôr-do-sol...

Tu, e, eu,

Nunca.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:28

foto de: A&M ART and Photos

 

... e ardes como pedaços de papel sobrevoando a poeira madrugada dos livros envenenados...

o putrefacto poema vagueia como infinitos gemidos suspensos na árvore do desejo

dormem como cadeiras vazias as lâmpadas húmidas do corpo teu mergulhado em sons melódicos

ardes como os beijos

que nascem nos lábios do amanhecer,

 

Amor mergulhado em silêncio poeira que a insónia deixa nas flores com esqueleto de pedra...

uma mão traiçoeira sobe cuidadosamente os degraus da manhã de porcelana

… e ardes

como invisíveis sílabas na lareira da fome

ou de uma janela o cansaço viver como cordas de nylon em pingos de sémen,

 

Oiço-te na sonolenta despedida do calendário de parede

e ardes...

como pequenas palavras em suor teus seios de ébano

percebo o teu olhar entre as cinzas da lareira nocturna...

nas flores com esqueleto de pedra encarnada,

 

… e ardes

dos livros envenenados...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:33

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