Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

24
Jul 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Me desencontro na encruzilhada dos teus braços,

Pergunto-me, quem és?

Ninguém sabe, ninguém percebe porque são os teus lábios doces e a tua boca tem o sabor da Primavera, ninguém sabe quem és, o que fazes entre as flores mais belas dos jardins imaginários, mas dizem-me que te veste de noite, que passeias em frente ao mar com sorriso de gaivota, dizem-me, porque sinceramente... confesso... não sei, quem és tu?

Os barcos são de papel, os rios vasos comunicantes, abraçados, ou não, braços de prata com pulseiras de xisto, montanhas desgovernadas, montanhas solitárias, que os teus olhos tão bem conhecem, e eu, não

Não dizias que havia mar dentro da algibeira dos sonhos?

E tu, que fazes disfarçado de homem do circo, como palhaço, trapezista, como malabarista ou... ilusionista, sim, diz-me tu, quem és, o que fazes, porque são azuis os teus olhos? E eu, não, não percebo, não entendo a madrugada quando não acorda, cerra os olhos, as portas e as janelas, morre-se dentro da cidade como ardem pedaços de papel, e tu, e tu o que fazes?

Nada, indiferente, ausente de mim, e no entanto... nem sei quem és...

Uma cegonha de incenso invade a tua privacidade, iluminam-se-te os pretos cabelos com folhas de pequenas lâminas de luz... há rochas incompletas dentro de hipercubos à beira da paixão, há triângulos de desejo no centro do teu círculo púbis, e eu, sem saber quem és, onde moras, o que fazes dentro do mar com velas de linho,

Barcaça?

Me desencontro na encruzilhada dos teus braços, permaneço impávido como uma cerejeira na sombras dos castelos de areia, finjo morrer e fujo para o outro lado da montanha, desenho linhas, muitas linhas no térreo pavimento, sou só, solitáriamente só, sou como as árvores antes de nascerem, sou nuvem, e tu, quem és,

Quem és, mar ausente dos barcos transversais das janelas de Janeiro, tu, heroína das pesadas roldanas nas tempestades verticais quando os cortinados caem sobre o azul olhar da Princesa manhã, saberias acariciar-me com os teus dedos de seda se ouvisses o borbulhar das malignas gotas de suor do amanhecer desconhecido? Tu?

Eu, barcaça?

Sim, tu, tu aí... mulher de ébano!

Não dizias que havia mar dentro da algibeira dos sonhos? E o amor, como será o amor vivido dentro dele, tu, ou eu, ambos, mergulhados em espuma de insónia... como dos corredores longínquos dos seios teus perdidos nas catacumbas da paixão,

Amar-me-ás, um dia? Apenas num qualquer dia..., numa qualquer cidade...

Tu, barcaça?

Eu, o quê? Sim... tu, uma barcaça desnorteada enrolada em ventos convexos e pulmonares corações de silêncio; o teu. O Teu simples silêncio...

 

(não revisto – ficção?)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:20

Desenho de: Francisco Luís Fontinha

 

Há uma cidade com janelas de vidro

tem ruas e pessoas

há uma cidade com jardins invisíveis

e marés transparentes... que nem todas as pessoas

as pessoas dessa cidade

… há uma cidade

que nem todas as conseguem olhar

como persianas marteladas em papel hortelã,

 

Há marinheiros

filhos da cidade

vagabundos dos mares inavegáveis como rochas íngremes nas estradas de brincar...

há uma pobre cidade com braços de porcelana

e palmeiras

e pássaros...

há uma cidade em penumbras madrugadas

uma cidade embriagada,

 

Há uma cidade que renasceu do teu olhar sobre a ponte inoxidável...

uma cidade com seios prateados e coxas de plátano...

há conversas perdidas nas sombras desta cidade

uma cidade com beijos de lábios em néon imaginário

e pássaros

e palmeiras

há uma cidade com janelas de vidro

e toalhas de linho... sobre a mesa nocturna dos sexos débeis das flores perdidas na calçada...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:37

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