Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

02
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

dois viajantes vagueando sobre o silêncio da noite

comendo pétalas de chocolate embrulhadas em poemas desejo

como o mar

amar os lábios da paixão

quando estrelas dançam nos teus cabelos de porcelana,

 

dois viajantes apaixonados nas palavras invisíveis

folheadas pelas mãos tuas em desenhos sonhos amanhecer

comendo-me

comendo-te...

dois simples braços e mãos... entrelaçadas na alvorada,

 

o corpo arde na tela da insónia como acrílico sombreado das nuvens embriagadas

sobre mesas e cadeiras

sobre ti e sobre mim

o corpo

o teu corpo rodopiando ao som da garganta de um relógio de parede,

 

sonolento os olhos teus dançando nos versos da manhã

o medo entranha-se-te nos dedos sisudos

e a melancolia absorve-te as pálpebras encarnadas que o Sol esconde

e alimenta comendo-te

comendo-me... sem saber que éramos de brincar...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:33

foto de: A&M ART and Photos

 

Embalavas o teu alegre piano como se ele fosse o teu próprio filho, abraçavas-lo e embrulhava-lo com os braços pendentes de caules verdejantes como as lâmpadas que a noite inventa nos teus olhos, ouvíamos-te longamente sentada num pequeno banco alegremente feliz, sentavas-te nele, rodavas o tronco e a cabeça, esticavas os longos dedos de porcelana... e saíam das tuas mãos os mais lindos melódicos sons,

Chamo-te A Pianista, sem o saber, sem sequer perceber se realmente sabes tocar piano, se realmente... algum dia tocaste com os teus dedos em algum, se realmente algum dia acariciaste algum, e sabes? Não o sei, talvez nunca tenhas tocado piano, talvez nunca tenhas adormecido ou acariciado algum piano, mas eu, eu imagino-te sentada num banco simples, feliz, voando dentro da sala de estar,

Ela vagueando como corpo sobre as teclas húmidas do piano em voz poética quando das manhãs ouvíamos-te saltitar entre os ramos cerâmicos dos teus abraços cúbicos nas equações complexas dos sons invisíveis do corpo teu piano..., havíamos inventado as janelas com vista para o mar, embalavas o teu alegre piano como se ele fosse o teu próprio filho, feliz, descendente do Sol, filho da nuvem cinzenta e da gotícula número mil quinhentos e vinte e três, gostava de ti, nua, sobre o teclado em tons de negro, descia sobre ti a tempestade, o ciúme, descia sobre ti o medo, e tu, rosa bravia, caminhas desordenadamente junto ao desejo, olhavas-nos, e sabíamos que nos teus olhos

Chamava-te A Pianista, sem o saber, sem sequer perceber se realmente sabes tocar piano, se realmente..., os teus olhos, vagabundos, escrevias nas pálpebras as notas musicais, deixavas adormecer nas tuas mãos os tão desejados silêncios dos beijos ainda não acordados, dormias, nua, eu, eu fumava desalmadamente cigarros que me cerravam os meus olhos, deixava-te de ver, apenas um sombreado ténue realçada o teu corpo deambulando entre o travesseiro e a cabeceira da cama, os teus cabelos soltos pelo imenso areal, a areia branca, silenciosa, e quando acordavas

Olá sisudo,

E quando acordavas, se ele fosse o teu próprio filho, feliz, descendente do Sol, filho da nuvem cinzenta e da gotícula número mil quinhentos e vinte e três, gostava de ti, nua, sobre o teclado em tons de negro, descia sobre ti a tempestade, o ciúme, descia sobre ti o medo, e tu, rosa bravia, caminhas desordenadamente junto ao desejo, tu vestida de desejo, e sentia-te nas minhas mãos antes de entrarmos mar adentro, o teu silencioso piano, o teu invisível teclado ténue...

Olá sisudo

Ténue como os teus dedos, ténue como os teus soltos cabelos escrevendo poemas sobre as rochas desassossegadas das palavras abelha que voavam debaixo dos velhos plátanos, deitada, tu, tu não propriamente, deitado o teu corpo, eu, eu fumava desalmadamente para não te ver, porque quando te via, eu, eu desejava-te loucamente como versos brincando numa calçada de Lisboa, ouvia, ouvíamos-te os sussurros sonhos,

Sisudo,

E a noite entrava nos teus mamilos cor de chocolate, uma borboleta poisava como se de uma folha de papel se tratasse, e sabíamos que não era uma folha de papel qualquer, e sabíamos que a noite não era uma noite qualquer, e sabíamos que o teu piano dançava no corredor entre o teu quarto e a casa de banho, e a borboleta que não era borboleta, mas apenas a imagem reflectida num espelho de uma folha de papel, a mesma

Sisudo,

A mesma folha de papel onde escondias as notas musicais, a mesma onde escondias o meus lábios e me proibias de te beijar, e era nessa mesma folha de papel onde guardavas as minhas mãos, para que eu, para que eu não te acariciasse o teu copo sonolento com sabor a melódicos sons e a poéticos suspiros, e os teus lábios acabavam, já de madrugada, por morderem-me o meu pescoço e o meu peito,

Sisudo eu, sisudo eu,

E fumava desalmadamente para não te morder os lábios e os teus seios poisados sobre o teclado sombreado de um piano, de um piano, que nunca ninguém viu, que ninguém sabe a idade, nome, ou a localidade onde habita, mas sinto-o, mas sinto-te na minha cama debaixo dos meus lençóis...

 

(não revisto – Ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:10

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