Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

04
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Rosa bravia como castelos de areia envenenados pela chuva da madrugada

silêncios de nada quando das mãos sobejam as porcelanas poéticas lágrimas nocturnas

rosa bravia como tu quando acorda a noite e dás-te conta que ficaste sentada

sobre uma cadeira imaginária

tempos infinitos

tempos... tempos sisudos,

 

Dizias-me que eras tua e que vivias no meu jardim

tínhamos um lago invisível com peixes de brincar

tínhamos flores, muitas flores...

mas rosas, como tu, nenhuma, nenhuma no meu jardim

construído apenas para te acolher

e embrulhar-te num lençol de água doce,

 

Despias-te

e brincava com as tuas pétalas de vinil voando sobre as melancólicas avenidas

que uma cidade louca

(louco és tu, talvez o penses em baixinha voz)

que uma cidade louca inventava para nós

e ias à janela do Adeus e lembravas-te da saudade e dos amigos loucos poetas,

 

Rosa bravia tu

comestível e amarfanhada entre os dedos da paixão

aos sons melódicos da tua respiração

ouvia-te os sussurros de mim

atirando-me as palavras sisudas

que as abelhas em cio deixavam sobre a tua pauta poeirenta e adormecida pelo cansaço de ti...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:21

foto de: A&M ART and Photos

 

Dia de voar sobre as árvores..., estava escrito no teu braço esquerdo, li, fiquei indiferente, regressei e percebi que sim, que era Domingo, e que aos Domingos voávamos sobre as árvores,

E que dos teus olhos Margarida brincavam as pálpebras encarnadas do desejo, cerrei os meus olhos, e vi, começaste a levitar em pedacinhos milímetros de cada vez, e quando percebi, pouco importava já, tinhas-te diluído com a neblina acabada de nascer,

Dia de voar?

E vi, e aos poucos entraste nos meus olhos, despias-te, e vagueavas como uma andorinha de íris em íris..., até que acordei, abri os olhos, e tu, não estavas, e tu, não existias em mim..., dobravas-te sobre a neblina, o sombreado teu corpo mergulha no espelho do calendário suspenso na parede da cozinha, cheiravas a naftalina, a roupa despida numa tarde de Domingo, dia, de voar,

voar?

Sim, minha querida, sim, voar sobre a planície dos arbustos domésticos, voar sobre as árvores, porque

Hoje é Domingo,

Porque uma criança em birra não come a sopa, porque um palhaço no circo, triste, deixa de fazer rir, porque...

Hoje

Domingo,

Porque vejo nos teus olhos o desejo de seres desejada, porque invento histórias quando as nuvens descem sobre nós, eu, e tu, e lá fora a mesma criança que muito há pouco fez uma enorme birra devido a não querer,

Não quero, não gosto de sopa,

Tu, tu esqueceste-te de mim, tu cerraste os lábios e proibiste-me os beijos, tu, tu cerraste os olhos e proibiste-me os olhares Primaveris de quando passeavas nos jardins do Palácio, Belém fervilhava, fervilha, como tu, quando te despes, como tu, quando te desembaraças de todas as tuas roupas e me dás as mãos e

Domingo,

Dia de voar sobre as árvores..., estava escrito no teu braço esquerdo, li, fiquei indiferente, regressei e percebi que sim, que era Domingo, e que aos Domingos voávamos sobre as árvores, e que hoje vamos começar a voar sobre as árvores, sem roupa, apenas tu, apenas eu, e um dia, não Domingo, um outro dia

Vais, sim, acredito, um outro dia vais tocar para mim, só para mim,

Um outro dia, os sons melódicos do teu piano e as gotículas de suor da tua pele poética, não Domingo, não, um outro dia, tu, tu vais tocar só para mim, e eu, e eu poisarei a minha cabeça sobre o teu ombro, inventarei uma tempestade para ficares dentro da sala, eu, tu e o teu piano, Domingo, não

Domingo não,

Talvez um dia, talvez uma bela manhã, talvez numa feliz noite de inverno, livros, o piano, tu e a lareira..., mas

Domingo?

Mas...,

E vi, e aos poucos entraste nos meus olhos, despias-te, e vagueavas como uma andorinha de íris em íris..., até que acordei, abri os olhos, e tu, tu não estavas, e tu, não existias em mim..., dobravas-te sobre a neblina, enrolavas-te como uma rosa bravia, ias à janela e ficavas a olhar as notas musicais dos teus dedos a despedirem-se do Domingo...

Não, Domingo, não, não Domingo,

E sorrias no prazer dos pássaros, antes, muito antes do teu corpo silenciar-se na nocturna insónia em pequenos desejos masturbais...

Desejar-te desejo, como às palavras ainda não escritas, soltas e vagabundas...

Domingo?

Não, não Domingo.

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:30

foto de: A&M ART and Photos

 

Lias-me nos esconderijos de cartão

quando a varanda voava sobre os olhos dos telhados de vidro

lias-me no reflexo do espelho vadio que habitava nas tuas mãos

e quando pegavas em mim

folheavas-me como se estivesses a saborear a manga adormecida

e acabada de ser escrita,

 

Lias-me como se eu fosse

sou

talvez... um pássaro apaixonado pelo vento

e pelas árvores comestíveis dos jardins da insónia

lias-me e eu não percebia que tinha palavras em mim

dentro do meu esqueleto de papel,

 

Lias-me como um tonto peixe procurando o amor debaixo das algas

e de verso em verso

descíamos as escadas da dor

embebia-te e embrulhava-te nas canções clandestinas dos rochedos de amar

vivíamos parecendo flores em plástico

que as doiradas abelhas comiam... e deixavas de pertencer à minha biblioteca,

 

Morrias

ardias na fogueira dos cigarros infestados pelas malditas ratazanas que habitavam a caserna tuas coxas...

morrias e lias-me como se não existisse amanhecer

madrugada

palavras reescritas nos teus silêncios seios com desenhos por pintar

e imagens escurecidas e inabitáveis nas nossas vidas...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:02

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