Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

07
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Tu persegues a escuridão vadia dos tristes Domingos sem literatura

há uma janela onde habita o quebra-corações

escrevem-se-lhe palavras no corpo difuso como música suave

vagueando sobre os móveis trôpegos sem asas

e ouvem-se as gaivotas

o piano

os barcos loucos quando entram casa adentro

e o sexo acontece antes de ancorarem ao cais do medo,

 

A menina sorri

e ao de leve

pega na chávena levando-a aos lábios de diamante onde poisam favos de mel

pétalas de rosa e alguns versos desajeitados

que nasceram da mão do quebra-corações

que nasceram numa tarde de Domingo

sujo e vagabundo

como as flores do teu jardim,

 

Sento-me sobre ti e esqueço-me da vida

do amanhã

oiço os sons teus em teus dedos que de um piano de infância brota

como fluidos dentro do vácuo

perdidos

apaixonados

como lâmpadas de silêncio procurando os teus beijos

que vivem nas tuas mãos com dedos longos e imaginários,

 

Tu

tu persegues a minha escuridão

retiras as sombras

e semeias sobre o meu corpo

fios de nylon embebidos em azevinho

tu

tu libertas-me da noite e fazes-me regressar à vida dos vivos

tu o teu piano e os teus dedos perdidamente esquecidos nos meus cabelos fazem de mim o quebra-corações sisudo e envelhecido...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:54

foto de: A&M ART and Photos

 

Sinto-me verdadeiramente encaixotado nos aranha-céus que o teu querido pai me prometeu, entre um deles e um qualquer livro, escolho um qualquer livro, e entre um qualquer livro e um copo de vodka, escolho obviamente...

Um qualquer vodka, porque dispenso o livro, porque dispenso um qualquer poema, porque dispenso o copo, sinto-o e sinto-me encaixotado nas tuas mãos vendadas pelo sono, cerras os olhos dos ténues pulsos de areia, pertences aos corpos clandestino como os pequenos grãos e as distintas óbvias gotículas do suor tua pela, cerras os olhos que jazem nos teus pulsos, suicidadas-te como uma menina mimada, singela, como uma flor vagabunda num qualquer palco, onde se ouve, uma qualquer banda, o piano melódico, e da voz poética, ela, ele, transformam

“Demito-o obviamente”,

E demiti-me,

Deixei se ser o amantes nocturno das noites de Verão, deixei de ser o clandestino mendigo passeando-se pela Avenida ribeiro das Naus, enquanto escrevo, oiço a melódica voz de “Joana Gomes” e dos “Fingertips”, e obviamente

Recordo, as saudades, de Carvalhais, e de S. Pedro do Sul, e dizem-me que o rio ainda corre como corria, e dizem-me que a eira ainda é a eira de ontem, pouca coisa mudo, apenas que o avô Domingo deixou de passear-se de bengala e dorme debaixo da lápide granítica onde alguém escreveu

“Eterna saudade”,

E demiti-me,

Hoje, hoje não amante, hoje, hoje não escravo do amor “Slave to love”, STOP, e na primeira rotunda a segunda saída, a respectiva plana de sinalização

“Precisa-de amor”,

Penso, devo estar perto, ao que tudo indica... uns míseros oito quilómetros, estrada sinuosa, encurvada, subo a serra como um caracol mal disposto, paro, peço um café mal tirado, por dificilmente encontrarei um bom café, e fico especado a ouvir a voz melódica do piano, debaixo da mesa, uma criança traiçoeiramente apanha um chupa-chupa, lembro-me de quando ainda era eu, muito antes de me demitir, lembro-me do Baleizão, lembro-me dos palhaços e dos malabaristas, lembro da tenda do circo dançar sobre a minha cabeça de menino

Mimada, tu

Eu, eu mimado, filho único, tinha um cavalo em madeira, saltava o portão de entrada e entrava cidade adentro, a cada machimbombo que encontrava gritava

Avô Domingos?

Nada

Avô Domingos?

Nada, nada de nada

Outra vez... Avô Domingos?

E encontrava-o numa transversal em Luanda com um cordel na mão a puxar um machimbombo com olhos azuis e missangas no pulso esquerdo, no direito

Machimbombo? Outra vez... Avô Domingos?

Penso, devo estar perto, ao que tudo indica... uns míseros oito quilómetros, estrada sinuosa, encurvada, subo a serra como um caracol mal disposto, paro, peço um café mal tirado, por dificilmente encontrarei um bom café, e fico especado a ouvir a voz melódica do piano, debaixo da mesa, uma criança traiçoeiramente

Triste,

Penso, devo estar perto, ao que tudo indica... uns míseros oito quilómetros, estrada sinuosa, encurvada, subo a serra como um caracol mal disposto, paro, peço um café mal tirado, por dificilmente encontrarei um bom café, e fico especado a ouvir a voz melódica do piano, debaixo da mesa, uma criança traiçoeiramente

Infeliz,

Penso, devo estar perto, ao que tudo indica... uns míseros oito quilómetros, estrada sinuosa, encurvada, subo a serra como um caracol mal disposto, paro, peço um café mal tirado, por dificilmente encontrarei um bom café, e fico especado a ouvir a voz melódica do piano, debaixo da mesa, uma criança traiçoeiramente

Cansada de ti,

E obviamente... demito-me.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:56

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:04

foto de: A&M ART and Photos

 

São frágeis os teus olhos de água
Transparentes como a noite
Em cio
São castanhos, azuis, verdes… são olhos demónio
Tamanhos verdejantes dos abraços de um rio
São frágeis
Como a noite sincera de ti quando entras dentro do espelho
São teus os teus pseudónimos olhos vagueando na paisagem
Destino
Viagem
São eles
Tão frágeis…

E tão lindos quando as palavras se escrevem
E vivem
E crescem
Neles, os teus frágeis olhos de água,

Mágoa
A alvorada em travestidos sorrisos
A menina tem lume?
Juízo?
A menina ama?
É amada?
A menina… é tão linda
Como os seus olhos de água…

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:31

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