Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

19
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

O teu fogo extingue-se no meu corpo, e as cinzas, essas, voam em direcção ao mar... há marinheiros em cio deitados sobre os braços de outros marinheiros, como barcos, em aço, soldados uns nos outros, rebitados, até que a morte os separe, novamente em fogo, derretem-se e novamente são barcos, e novamente abraçados, agora não a outros barcos, mas

As flores, as jangadas de silêncio caminhando junto ao mar,

Mas, os teus braços, meu amor, rebitados no meu peito, também ele em aço, também ele sofrível, mendigo, vagabundo, e como eu, também tu, aos poucos, deixaste de olhar o mar, e também tu, aos poucos, deixaste de olhar os lábios encarnados do luar,

Amo-te, oiço-te,

Despir você... acariciar seu corpo entranhado em finas bolhas de champanhe, oiço-te na escuridão nocturna da insónia, desejar-te cansa. e ao mesmo tempo, alimenta-me os volantes e êmbolos que trago dentro de mim... e fazer amor com você até deixar de haver dia, noite, luzes, ventos, mar, chuva...

Depois, a noite trouxe os três navegantes de olhos verdes, e as flores, a jangada de silêncio junto ao mar, vive neste momento nos seus seios de capim, oiço-a gemer e sussurrar...

Amo-te, meu querido,

E no entanto, há vento, e no entanto, há tempestades, neve, granizo, ossos cerâmicos... vidros, olhos de vidro, lâmpadas incandescentes, e sinto-a dentro de mim, em fogo, como se o meu corpo fosse uma janela aberta na montanha branca, excitada... quase húmida... como a chuva, devagarinho a entranhar-se na terra

E

E oiço-a, amo-o meu querido, amo-o...

E

E oiço-o, amo-te meu querido, amo-o...

E a terra infestada de minhocas com asas, e a terra , na terra, devagarinho a entranhar-se-lhe... e as árvores, as mais frágeis, tombaram sobre o sobrado do cacimbo, eu, eu sempre a ouvi-la

Amo-o,

Eu

Eu sempre a ouvi-lo

eu

Amo-o,

Como amo as borboletas e as abelhas,

Na terra, curvas de nylon suspendem o céu, e as tuas mãos agoniam-se de encontro aos rochedos, tenho a leva sensação, que, que uma das tuas mãos, acabou de suicidar-se,

E agora, meu amor?

Oiço-a

Oiço-o

E a vida é um carrossel de mentiras embebidas em vodka, palavras... e sexo.

 

(não revisto – Ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

foto de: A&M ART and Photos

 

Éramos comestíveis como as ervas junto à ribeira

e tínhamos nas mãos o sabor do cansaço

e da dor oferecida pelo mendigo entardecer,

 

Éramos dois corpos voando sobre a cidade dos Deuses

ancorávamos algumas vezes

sobre as árvores em delírio que sobejavam das finas lareiras do desejo...

e sonhávamos com porcelanas beijos

que viviam na madrugada,

 

Éramos comestíveis como as ervas junto à ribeira

e tínhamos um coração de papel

onde escrevíamos as palavras em segredo,

 

Gritávamos como os pássaros

e amávamos como as ervas comestíveis...

éramos dois círculos de vidro

em osciladas rotações em cima dos barcos enferrujados

éramos e tínhamos um cais em madeira para aportarmos...

 

vivíamos construindo o amor com pequenos paus espalhados pela floresta

e quando nos sentávamos debaixo da nuvens cinzenta

sentia-te nos meus braços de sisal...

éramos o mar com a areia branca

e de ondas navegantes... e de lábios cor de amêndoa.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:31

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:49

foto de: A&M ART and Photos

 

Eu deixo a conversa fluir... como a água da chuva a cair sobre o teu nu corpo, saboreando as partículas de desejo que descem das nuvens..., ouvem-se as bolhas de sabão a cair nas tuas costas, ouvem-se as sílabas mergulhadas nos teus lábios coloridos, e aos poucos desces pelas minhas mãos como sandálias envenenadas por uma calçada íngreme, e ao fundo, o rio, o Tejo, ele que te espera, e te acaricia entre as medusas de olhos castanhos, sinto-te dentro de mim, e sei, sei que amanhã não estarás na minha cama...

Vamos juntos... enrolados como duas serpentes envenenadas pelo sémen do amanhecer... e lá fora uma maçã acaba de tombar sobre os teus seios, afago-os e mordo-os com os meus finos dedos, e sabes que penetrarei em ti como se fosses um livro de poemas dentro da algibeira do espelho encarnado que acorda antes de acordar o teu orgasmo, é tarde, o relógio da sala cansou-se de ouvir-nos em latidos estranhos que atravessam as paredes de gesso e ripa, o tecto olha-nos, e inveja-te, porque permanecerás eternamente nas suas mãos, como um candeeiro suspenso e que ilumina a noite derretida em pura seda como lençóis sobre o teu corpo de areia, é tarde, lá fora dormem os homens e as mulheres, nós, nós permanecemos eternamente acordados, e procuramos entre os estilhaços dos líquidos sobejantes e adormecidos sobre a cama a saudade, e os beijos,

É tarde, para ti, quase que dormes, olho-te como se fosse o tecto, e vista de cima, tu, pareces um jardim com flores em papel... que voam quando tocas no meu peito, e fincas os lábios ficando entre eles... uma pétala de orvalho,

Estás loucos, oiço-te,

Louco porque a poesia derrete-se como a manteiga sobre os teus seios, louco porque mergulhas na chuva diluída em pequenas lâminas de fogo, tu, tu ardes como um livro depois de lido, folheado, manuseado cuidadosamente, e o papel da tua pele cola-se-me como uma borboleta desesperada depois da tempestade, oiço-te

Estás louco,

Louco porque inventaram o amor, louco porque inventaram o desejo e os jardins junto ao Tejo, e louco, louco porque oiço os uivos teus beijos de encontro à prateleira onde moram os livros de António Lobo Antunes, e louco

Estás louco,

E loucos, loucos barcos em gaivotas saciando o cio nas noites que atravessam o Tejo, e do outro lado, os edifícios em esqueletos vadios, que correm e comem,

Meninos, meninas,

Debaixo da tenda do circo que aportou por aquelas bandas, o vento dá-lhes força nas velas e começam em corridas vagarosas como palhaços velhos, e de bengala, e sorrisos nos seus rostos

Meninos, meninas,

Procurando a fome nos vultos zumbis da avenida adormecida, debaixo da tenda do circo, e todos os sonhos realizáveis... O encontro – A chuva e o nu corpo dela.

 

(não revisto - Ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 18 de Agosto de 2013 / Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:00

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