Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

20
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

apetece-me comer-te

morder os teus lábios em chocolate

fervilhar como tu dentro de uma chávena de chá

olhar-te

saborear-te quando entras em mim

pela manhã sem manhã

 

mastigar os teus olhos de néon

sem que tu percebas que os teus olhos são comestíveis como as castanhas

no Outono

sentados a uma lareira invisível

enquanto eles se dissipam através da chaminé do desejo

voando sobre os velhos telhados da tua aldeia

 

apetece-me comer-te

saborear-te como saboreio um copo com água

como saboreio as gotículas de suor do teu corpo bronzeado...

mastigar-te e saborear-te e engolir-te

como se tu e os teus olhos e a manhã sem manhã... fossem pedaços de vento

também eles comestíveis e saboreáveis...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 20 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:35

foto de: A&M ART and Photos

 

Dir-me-ás que a vida é um número de magia, conheci um ilusionista (confesso que não é ficção, conheci e conheço e tenho amizade por ele – Didier Ferreira – e quanto mais olhava os seus números de magia, confesso, confesso que mais dúvidas ficavam em mim, e menos percebia do que se passava à minha volta), e a vida não é mais do que um lindo e belo número de ilusionismo, um espelho gigante, olho-a e percebo que é tudo uma mentira, a imagens é ma mentira, os olhos, os olhos... são uma pegada mentira vestida com tecidos verdes, e os braços, e os braços também eles, eles

Mentiras,

Caixotes vindo de lá, trazíamos o muito que tínhamos, que era nada,

Mentiras,

(muitas das vezes servi de cobaia dele na preparação de alguns dos seus números, e parecendo aos olhos que quem nos via, eu, eu um parvalhão nas mãos de um verdadeiro artista, confesso que nunca me senti como tal, mas que me irritava o facto de eu não perceber como aconteciam as coisas... lá isso era verdade)

Os caixotes magoados, desdentados, meio adoentados, e vertendo um líquido esquisito, que mais tarde fomos informados que era o líquido da saudade

E coisa eu nunca tinha ouvido na minha curta vida,

“Líquido da saudade?”

És parvalhão, ouvia-o. E hoje percebo que ele tinha razão,

Eu era mesmo um verdadeiro parvalhão aos olhos do meu pai, porque como era possível existir um líquido chamado... “Líquido da Saudade”...

Eu, negro, nasci e cresci negro, eu uma árvore a que chamavam de mangueira, que às vezes sentia-a chorar, que às vezes... também eu chorava, quando da sua sombra renasciam os palhaços do circo, o ilusionista fazia com que as cartas de um baralho aparecessem na

“Líquido da saudade?”

Os palhaços do circo, o ilusionista fazia com que as cartas de um baralho aparecessem na minha algibeira, ela sempre, ou quase sempre, vazia, e lá estava ela, assinada por mim

Pode lá isso ser possível, menino?

Verdade verdadinha... Senhor Anacleto, verdade....

Acredito mesmo, menino Francisco, “Líquido da Saudade”..., e ainda por cima aparecer na sua algibeira e assinada por si, consegue prová-lo?

Claro que sim, claro que sim Senhor Anacleto... ainda a guardo na prateleira juntamente com os meus livros, os caixotes babavam-se como se fossem caracóis acabados de confeccionar, e afinal não eram caracóis, e afinal

Quitetas,

E o molho, Senhor Anacleto, Ai nem me fale no molho... menino Francisco, que saudades..., e um líquido estranho pingava dos três tristes caixotes que trouxemos, pouca coisa, coisa nenhuma, e afinal, afinal era mesmo o “Líquido da Saudade”,

Em finas fatias sobre o pão quente de Favaios, e que coisa, que coisa... Senhor Anacleto, um Líquido verde com sabor a manga..., talvez pedaços de sombra, talvez... as chuvas quando adormeciam a terra queimada e ressequida pelo abrasador Sol... e sabe, sabe Senhor Anacleto?

Não, não o sei menino Francisco, não o sei,

As cartas, as cartas voavam durante a noite e de manhã apareciam na minha algibeira, vazia, ou... quase vazia, como sempre, ou com quase nada,

Quitetas.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

Terça-feira, 20 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:15

foto de: A&M ART and Photos

 

das sombras longínquas do sono

habito como um sonâmbulo ambíguo desejável pelas serpentes da floresta vermelha

das sombras à noite inconstante que as minhas mãos percorrem debaixo do fogo teu olhar

e depois de folhear o livro teu corpo

dou-me conta que a madrugada hoje

hoje ela não acordou

hoje ela

ela me abandonou

e sinto em mim

o sono dilacerante

das tuas mandíbulas carnívoras em teus lábios de sangue...

as sombras... hoje sou uma recta sem coração como os homens e as mulheres da cidade dos cães

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 20 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:35

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