Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

26
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

encerraram-se as torneiras da saudade

como se evaporaram os cortinados do desejo

num ápice

entre nuvens e corações de pétalas encarnadas

fiquei sem o jardim da felicidade

e apenas um banco onde me sento

e observo a triste paisagem

nua

escura

sombria

como um calendário esquecido no tabique adormecido

da casa imaginária onde apareceste pela primeira vez

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 26 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:36

25
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

hoje és um mendigo igual a mim

uma pérfida folha de papel não correspondida

hoje és um cadáver envergonhado deitado na minha sombra

uma triste e cansada sombra debaixo dos lábios do púbis incenso

hoje és um sexo amargurado

triste como as sílabas empapadas dos livros de nada dizer

como as noites a arder

dentro de ti o comestível prazer

 

hoje finges que não te pertenço

que sou um muro em xisto

balançando sobre a encosta

atiro-me e encontro o rio

hoje és um mendigo igual a mim

fugindo da claridade

e dos beijos zangados em cinzentos fios de sémen...

e dizes-me que sou um palhaço

 

um voador corpo com asas em papel

hoje desperdicei os abraços sobre a lua em fúria

que deus deixou na mão da madrugada

hoje não sou nada

como ontem

como amanhã

hoje és...

apenas uma defeituosa maré de linho com coloridos olhos em verniz...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 25 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:54

foto de: A&M ART and Photos

 

Porquê?

Os navios em fúria de apitos, amontoavam-se à porta de casa, lá dentro, eu e ele, tentávamos esconder as amarras dentro da gaveta da cómoda, eles cá fora, gritavam

Porquê?

Marinheiros famintos, procuravam qualquer objecto que servisse para derrubar a frágil porta, escondemos-nos junto ao corredor que dava acesso à casa de banho, o peitoril fumegava, alguém já nos tinha lançado algo de combustível, algo de destruidor, abracei-me a ele, e com toda a minha força

Porquê?

Fiquei não sei quantas noites pensando que nunca mais terminaria a sangrenta guerra de palavras da cidade dos desejos, multipliquei abraços, dividi beijos, e hoje

Porquê?

Hoje pareço um íngreme cavalo de areia correndo sobre o mar,

E com toda a minha força apertei-o como quem aperta o único filho, e pela madrugada, não sei qual delas, ele partiu, consegui desembaraçar-se dos meus abraços, e

Nunca mais o branco fumo dele nos meus lábios,

Nunca mais

Porquê?

O silêncio pergaminho das suas mãos no meu rosto,

Nunca mais a voz desajeitada dele no espelho da casa de banho, irritava-me

Vens jantar logo, meu querido?

Irritava-me

Três torradas chegam, meu querido?

Assim não, assim sentia dentro de mim uma escada rolante em direcção ao poço profundo da tristeza, irritava-me

Querido

Sim, diz?

Querido, logo chegas cedo a casa?

E apetecia-me gritar, não regressar, nunca, irritava-me

Sim, diz?

Que coisa... a tua...

Os navios em fúria de apitos, amontoavam-se à porta de casa, lá dentro, eu e ele, tentávamos esconder as amarras dentro da gaveta da cómoda, eles cá fora, gritavam

Porquê?

Eles cá fora pareciam um exército de mendigos, procuram-nos como quem procura o vento antes de levantar âncora, o veleiro poisava-se sobre um banco de areia, rodopiava em pequenos círculos... e dali não zarpava nunca,

Porquê?

Os marinheiros famintos, o azedume dos versos que o poeta louco tinha deixado sobre a mesa-de-cabeceira no quarto da amante voavam porque o vento que antes se fazia sentir no corredor começou aos poucos a avançar em direcção ao quarto, a amante tinha desaparecido, ele e o amante, também desaparecidos, apenas os famintos marinheiros enrolados em poemas de “merda” que o louco poeta ante de suicidar-se tinha esquecido, tal como a janela aberta

Porquê? Esta chuva de papeis com pequenas palavras...

Os marinheiros

Porquê?

O poeta louco

Onde está ele?

A amante do poeta louco

Irritava-se com as palavras do seu amado, algo de destruidor, abracei-me a ele, e com toda a minha força

Porquê?

Porque hoje é Domingo, porque hoje há quitetas e cerveja Cuca...

Porquê?

Porque uivam os navios quando estão em sossego?

 

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 25 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:22

foto de: A&M ART and Photos

 

Tinhas-me prometido o sono

o sossego

e o negro

que alimenta a noite de ti,

 

tinhas-me prometido o silêncio

e as pequenas árvores do bosque

perto

antes do amanhecer acordar e levar-te,

 

Tinhas-me a mim

e trocaste-me por um velho espelho recheado de ranhuras...

tinhas-me prometido o desejo

e apenas cacos e pedaços de beijos sobejaram sobre a mesa da sala,

 

tinhas-me e nada de ti era a verdade

nunca tivemos manhã

nunca existiu em nós alegres madrugadas...

tinhas-me e deixaste-me fugir pela fechadura do medo,

 

tinhas-me prometido o prometido

as palavras que escrevo

que tenho medo de escrever e

as palavras vorazes como um rio em ti perdido,

 

tinhas

tinhas-me prometido o sono

o sossego

o desejo,

 

(e o negro

que alimenta a noite de ti)

 

tinhas-me prometido o fogo

e todas as lareiras de todas as bibliotecas das casas abandonadas

tinhas-me

e deixaste-me suspenso no tecto da insónia...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 25 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:19

24
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Sem muros, a seara livremente em movimento, a seara alegremente voando como os teus doces dedos quando se entranham no meu branco cabelo, e algumas das minhas folhas, ainda por escrever... vão-se alicerçando nos braços da madrugada, venho de ti chorando porque percebi que as cadeiras da vida, algumas, não muitas, estão a morrer, primeiro o maldito bicho, depois... depois... a maldita morte, e depois, bom, depois a tua aspereza dos violinos em flor, havia sons que mal distinguíamos nos soníferas luzes da noite, e o castanho corpo teu... amaldiçoado pelo cansaço

Tomba,

O musseque engorda,

A sanzala incha como pequenos frascos em vidro quando miúdo colocávamos grilos e outros bichos, nãos os que matam as cadeiras da vida, estes, estes apenas nos roubam os sonhos, roubavam, porque hoje, nem bichos, nem sonhos, nem... nem o teu corpo castanho,

Tomba,

Entre os charcos acabados de preencher como o impresso de candidatura com o respectivo currículo, depois de entregue

Lixo,

Depois de entregue

Nem para limpar o cu serve,

“Brancooo é papel e só serve para limpar o cu”, gritavam elas,

E a sanzala inchava, crescia, multiplicava-se,

Lixo,

Sem muros, como vértices de areia engolidos por sexos baratos, regressava da feira da Ladra apenas com as cuecas e pouco mais, a vida de difícil passou a horrível,

E a diferença

Está no número, de autocarro é um, de eléctrico... talvez seja outro, mas todos vão dar ao mesmo, e todos me levavam de regresso, entrava em casa, subia as escadas tão devagar que nem as ratazanas davam pela minha presença, mas ela

Isto são horas de chegares?

E eu perguntava-me se existem horas certas para regressar a casa, mesmo apenas em cuecas, se existem horas certas para as refeições...

Horas, tem horas?

Não, não as tenho, sou alérgico,

Mas ela entre perguntas e respostas, entre o vai e o vou, fui e nunca mais voltei à sanzala, cansei-me das viagens nocturnas pelas avenidas transatlânticas com bancos em madeira e pássaros de pedaços papel, fartei-me da cubata apenas só com uma porta de entrada, e juro

Detesto,

Juro que me irrita entrar e sair sempre pelo mesmo sítio, parece de loucos, e de loucos, juro, preferia entrar pela porta e sair pela janela, mas a cabra da cubata nem janelas tem, nem cortinados tem, nem tecto onde suspender um par de calças

Tem?

Não, não tem não,

E entro em casa de cuecas na mãos, ela

De onde vens tu'

Venho da lua, venho do mar, venho de onde não te interessa,

Adeus,

Era Domingo, acordei cedo, sem muros, a seara livremente em movimento, a seara alegremente voando como os teus doces dedos quando se entranham no meu branco cabelo, e algumas das minhas folhas, ainda por escrever... vão-se alicerçando nos braços da madrugada, venho de ti chorando porque percebi que as cadeiras da vida, algumas, não muitas, estão a morrer, primeiro o maldito bicho, depois... depois... a maldita morte, e depois, bom, depois a tua aspereza dos violinos em flor, havia sons que mal distinguíamos nos soníferas luzes da noite, e o castanho corpo teu... amaldiçoado pelo cansaço

Tomba,

E O musseque engorda...

 

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 24 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:09

foto de: A&M ART and Photos

 

tenho medo dos furações de areia

que fingem e mentem

como corações de manteiga

 

tenho medo da chuva

e do vento com sorriso de gente

como a cidade semeada no deserto

tenho medo dos teus olhos

quando desce a noite sobre os teus finos braços de árvore cansada

maltratada

doce

magoada

tenho medo dos silêncios que a madrugada esconde

que os teus lábios comem...

e que a tua garganta em palavras de incenso

grita...

 

choras

e as convulsões da tua pele

sobre o mar

como barcos

como homens empobrecidos

mortos

sentenciados por um criminoso diplomado

coitado

 

(do medo

do medo em furações de areia)

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 24 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:56

23
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Você voa?

Sim, eu voo, mesmo? Sim, mesmo...

A mulher dos longos cabelos foi impressa no espelho do meu desprezável quarto, com apenas uma velha cama e um ignorante guarda-fato, o dito que abraça o tal espelho, mais as teias de aranha e os mosquitos que durante a noite

Voam,

Sim amor, eu voo,

Você voa, amooor? Claro... quando bebo e coloco as asas de borboletas que utilizava na escola para me lançar da árvore do recreio... voava, voava, até que chegava ao mar, aí

Você voa, amooor? Claro, filha, eu voo, e aí...

Você me mata do coração, meuuu amooor!

E aí eu alcançava o mar, descerrava os olhinhos, e tu, você voa, amooor? E tu sentada sobre a onda castanha junto à rocha, coisa pouca, cerca de quinhentos metros da praia, eu poisava sobre você e lhe dizia baixinho

Sim, amooor, eu voo,

Lá em casa, nas vagas horas, praticávamos voo livre entre as teias de aranha e os caquécticos móveis do nosso quarto, você foi impressa ainda no tempo em que as noites tinham sorriso verde, ainda no tempo em que das noites vinham até nós as imagens a preto-e-branco e você no espelho

Você me ama, amooor?

Sei lá, não o sei, nunca percebi nada de impressoras, e este tipo a jacto de tinta... pior, nasci e habituei-me com impressoras de agulhas, não eram silenciosas, mas conseguiam imprimir-te tão facilmente no espelho do quarto que os teus seios conseguiam ser mais perfeitos de que os originais, e de conversa em conversa, deixávamos de perceber quem era quem, e quem era o verdadeiro...

Você me ama, amooor?

Porra... que você é chata, porra... que você me mata do coração, meuuu amooor!

… e quem era o verdadeiro das inúmeras imagens deitadas sobre o estirador, noites inteiras com a caneta de tinta na mão a inventar riscos sobre o papel vegetal, e você

Me ama, me dia, você me ama, amooor?

Porra... e mais um borrão, tudo de novo, lâmina de barbear, raspar, pegar no lápis borracha... e continuar com os risco até de manhã,

Depois,

Depois entranhava-se-me o sono, olhava-a e via-a impressa no espelho, bela, linda, de cabelo solto acabado de sair da água salgada, mulher do castelo com portas de aço, e ela

Você...

Não, por favor, hoje não,

E não mais, voei, poisei sobre a rocha, e não mais

Você me ama, amooor?

E não mais, e não... mas, do espelho a impressora de vinte e quatro agulhas não se cansava de imprimir os seios de chocolate da mulher do castelo com portas em aço, e sem janelas, e sem escadas, e alimentava-me dos sons desconexos da velhinha impressora, tão bela, ela, dentro do espelho, sempre em sorrisos de espuma, sempre

Você...

Por favor, não mais

Você me ama, amooor?

Não

E não mais, porque hoje és impressa e só dou conta quando tu

Você me ama, amooor?

E tu

Não, não mais, e tu

Você?

Voa?

 

 

(não revisto – Ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 23 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:50

foto de: A&M ART and Photos

 

canso-me das palavras que não posso gritar

aquelas palavras que ficam guardadas

aprisionadas dentro do espelho que alimenta o teu olhar

canso-me dos livros que leio e li

e daqueles que dormem sobre mim invisivelmente

sós...

e é tão triste ser um livro

que ninguém acaricia

e lê e só...

deitado sobre a prateleira número quatro

ao lado da solidão nocturna

das personagens envenenadas que se suicidam depois de terminar a estória...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 23 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:58

Participação de Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 09:43

22
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

O estranho... é a roulote estar sempre só, ausente, vazia, o estranho é a simples placa imaginária sobre a porta de entrada

Núria,

Numa letra muito artesanal, quase em gatafunhos, percebe-se que o autor(a) é de pouca instrução, alguém, alguém que provavelmente aprendeu a escrever a palavra

Nuria, só, sem assento,

Uma roulote simples, como a que eu sempre sonhei, desde criança, também simples, de terra em terra, eu simples e só, percorrendo campos não governados, desbravando montanhas íngremes, construindo caminhos, veias, artérias, até chegar ao coração

E Núria

Sobre a porta de entrada de uma pobre roulote,

E depois do coração... o espirrar... até atingir o tecto nocturno do Céu, e uma substância mucosa descendo, muito devagar, as entranhas das costas que sobejaram de ti, depois de teres partido... e apenas a placa ficou à espera pelo teu regresso

Nuria,

Não regressaste, não foste mais observada pelos morcegos da noite... e dizem que hoje já não te chamas Núria,

Nuria?

Não, não eu,

E nunca o fui...

E nunca o foste...

Pergunto-me hoje, quem serias tu, se não eras a Núria...

Juro, juro que nunca fui Nuria,

E jurado está jurado, e como a noite depois de acordar fica... fica assim num estado de sonambulismo, assim num estado de embriaguez..., e tu, tu Núria

Não, não Nuria, não eu,

Tínhamos um burrinho que baptizamos de foguetão, vivia junto à roulote, era assim como devo eu explicar...

O guardião da roulote?

Isso, isso mesmo, faltava-me essa palavra, às vezes tenho necessidade de comer palavras, às vezes tenho a triste necessidade de comer livros, papeis... coisas, e às vezes

Nuria? Não, eu não Nuria,

E às vezes ouvíamos-o durante a noite em conversas desconexas com quem passava, o foguetão percebia de tudo um pouco, sabia que a noite construía sótãos despovoados sobre a cidade argamassa depois de todas as cinzas

Voarem?

Núria, és tu?

Não, não eu, não Nuria eu,

E elas iam-se acumulando num qualquer vão de escada, baixavam as calças, e a literatura parecia línguas de fogo na boca da inocente Núria,

Não

Eu

Não Nuria, eu, não...

E quando lhe perguntavam o que fazia uma velha sanita no patamar da escada que dava acesso ao quarto esquerdo, ele, timidamente... respondia

Núria,

Eu não Nuria, não eu,

E a roulote encostada ao velhíssimo plátano espera, desespera, acorda, adormece, e tal como a noite, e tal como as estrelas do teu cabelo, e tal

Núria, és tu?

Não, não Nuria,

E tal como a vida, as cinzas da cidade poeirenta em pequenos cubos literários, em pequenos movimentos do foguetão, que assanhava com a cabeça quando alguém por ele passava e não o cumprimentava,

E o comprimento da dita roulote não mais do que três metros e cinquenta centímetros,

Cumprimentos, e Núria,

Não

Não eu Nuria,

Núria apenas sabia que o comprimento, todas as manhãs, se sentava ao lado do foguetão, e conversavam, e conversavam... até que um dia a cidade literária deixou de respirar, e Núria

Não, eu não Nuria,

E Núria ficou eternamente nos meus abraços.

 

(não revisto – Ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 22 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:21

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