Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

22
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

O negro silêncio que o teu sorriso ilumina

as pedras em cubos

como chocolate adormecido nos lábios de uma menina

uma porta encerra-se e a rua vai ficar deserta

a janela aberta

porque o velho mendigo

vai seguro e está vivo

e a rua... morta de sono... e a rua... consumida pelo fogo da vaidade,

 

O negro acorda

sabendo ele que os rios são de brincar

que os barcos são filhos dos rios

e as madrugadas

amantes dos homens apaixonados

que trazem com eles o mar

e as nuvens

a as cores do teu amanhecer olhar.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 22 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:38

21
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

há um traço descontínuo que nos separa

nuvens que encobrem o teu olhar

abraços dispersos pela madrugada

há um traço descontínuo

um ruído ensurdecedor que acorda com o amanhecer

há um poster de uma mulher nua na paredes da tua insónia

descontínuos

as pernas e a sombra dos triciclos em madeira...

há uma casa dentro de uma estrada

rodeada por um fino traço descontínuo

há chuva

há crianças correndo e saltando as sebes do invisível

há uma menino especial

com dentes em marfim

há uma menino que dizem ser filho do sol

e do cacimbo...

há um traço de ti que é descontínuo...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 21 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

FRANCISCO LUÍS FONTINHA (Participa no II Volume de PALAVRAS DE CRISTAL)

ALIJÓ

Nasceu em Angola, Luanda, a 23 de Janeiro de 1966. Em 1971 vem para Portugal com os pais e fixam-se em Alijó, Vila Real, onde faz os estudos, primários, secundários, e mais tarde, já como desenhador, frequenta o curso de Engenharia Mecânica, em Bragança, que por dificuldades económicas, não concluiu.
Apaixonado por livros, gosta de ler, escrever, desenhar, e colecciona cachimbos. Escreve regularmente no seu blogue Cachimbo de Água (http://cachimbodeagua.blogs.sapo.ao/). Tem um texto de ficção escolhido pelo escritor José Luís Peixoto, publicado na rubrica Conte Connosco 2 – pág. 72/73, livro apenas digital. Ultimamente tem um poema publicado na pág. 465/466 na “Antologia de Poesia Contemporânea Vol. IV, Entre o Sono e o Sonho”, Chiado Editora, participou nas colectânea de poesia “Palavras de cristal I” e “Aqui há Poetas – Poesia sem gavetas parte II”.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:15

foto de: A&M ART and Photos

 

O meu cabelo absorve a cidade, vive debaixo dele a manhã dilacerante, há um perfume desconhecido que vai subindo até aos meus cabelos, encosto a cabeça ao espelho da manhã, trinco os lábios e sinto as madeixas das árvores engomadas por um velho ferro de engomar, não me sinto bem, estou estonteante, estou... em desequilíbrio, e oiço as finas gotas que o horário suspenso na parede da sala de jantar, essas... em pequenas lágrimas pergaminho, como húmus derretido sobre a terra árida das velhas mãos que serviram para alimentar o calendário nocturno

O meu cabelo morre,

E a tua boca silencia-se como se vivêssemos em permanente ditadura, como se vivêssemos... sem sairmos de casa, à varanda do silêncio, choras-me porque perdeste os cigarros, porque perdeste o emprego, porque perdeste... a vida

O meu cadáver de costas sobre a cidade, de um salto em falso... voo sobre a calçada camuflada com pequenas pedras de chocolate, alguém grita o meu nome,

O meu cabelo morre,

A minha pobre vida, aos poucos... também ela morre, como o meu loiro cabelo, como o sombreado vento, como a grade da varanda que me aprisiona e não me deixa ser livre, livre como as gaivotas de Belém, ir a bares, beber em esplanadas a vodka que sobeja dos veleiros acabados de regressar da Rússia, e

O meu cabelo morre, e a minha vida morre, e tu, e tu morres-me... porque a água salgada do mar começou a subir pelo ascensor, entrou no terceiro esquerdo, entro no terceiro direito,

Nós

E o teu cabelo quase em chamas,

E nós quase, porque habitamos o sexto frente, e daqui a pouco, a tua cabeça, encostas-a à grade enferrujada e lanças-te em

Queda livre,

O meu cabelo morrer,

Nós, nós quase engolidos pelas caravelas que a noite lança pelas ruas para nos aprisionarem, como acontece com o teu cabelo, como acontece com o teu corpo...

Ambos prisioneiros, vagabundos, quase em

Queda livre,

A cidade,

Morre,

O meu cabelo morre,

E o teu cabelo quase em chamas,

E nós quase, porque habitamos o sexto frente, e daqui a pouco, a tua cabeça, encostas-a à grade enferrujada e lanças-te em granito polido, cubos em gelo, pregos de madeira rompem os sargaços dos teus beijos, e nós, porque habitamos o sexto frente

Morre, morre o teu cabelo quando te lanças sobre os veleiros desgovernados das Clarissas abandonadas, ouvi-o, ouvi-lhe os cabelos agarrarem-se à velhíssima grade e voavas, e dançavas, e

E o teu cabelo quase em chamas,

E os meus braços enrolados no teu pescoço, a cidade, a cidade com o teu corpo como húmus, sobre a terra ressequida, feia, dilacerante...

E morre,

E desce... até encontrar a lápide cinzenta onde está escrito o seu nome,

A criança rodopia,

E a vida, a vida também morre, e a vida espera por um digno salto, e ela

Ela morre,

O meu cabelo morre, o meu cabelo... em flor, sobre as árvores dos teus seios, transparentes, como as velas do veleiro estacionado junto à Torre de Belém,

E ela?

Ela... ela morre, morre, até encontrar a lápide cinzenta onde está escrito o seu nome,

A criança rodopia.

 

(não revisto – Ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 21 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:55

foto de: A&M ART and Photos

 

seus olhos em movimento curvilíneo

seus braços baloiçando como uma criança em queda livre

voando sobre os sons de um piano desafinado

há uma janela aberta com sombra sobre a cidade do medo

e ela

ela esconde-se nos abraços cerrados do cortinado amanhecer...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 21 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:14

foto de: A&M ART and Photos

 

Qualquer coisa estranha

na flor que brinca em tua mão de porcelana

qualquer coisa vã

ínfima

que esconde o teu olhar,

 

Qualquer coisa geometricamente sombra nos teus lábios

estranha

castanha

que de nuvem em nuvem

caminha e sonha e sonha e caminha,

 

E morre estranhamente como um pássaro de asas em papel

qualquer coisa estranha na tua mão branca

silenciosamente só

tristemente sentada numa cadeira sem coração...

que vive em ti e de ti se alimenta.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 21 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 09:44

20
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

apetece-me comer-te

morder os teus lábios em chocolate

fervilhar como tu dentro de uma chávena de chá

olhar-te

saborear-te quando entras em mim

pela manhã sem manhã

 

mastigar os teus olhos de néon

sem que tu percebas que os teus olhos são comestíveis como as castanhas

no Outono

sentados a uma lareira invisível

enquanto eles se dissipam através da chaminé do desejo

voando sobre os velhos telhados da tua aldeia

 

apetece-me comer-te

saborear-te como saboreio um copo com água

como saboreio as gotículas de suor do teu corpo bronzeado...

mastigar-te e saborear-te e engolir-te

como se tu e os teus olhos e a manhã sem manhã... fossem pedaços de vento

também eles comestíveis e saboreáveis...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 20 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:35

foto de: A&M ART and Photos

 

Dir-me-ás que a vida é um número de magia, conheci um ilusionista (confesso que não é ficção, conheci e conheço e tenho amizade por ele – Didier Ferreira – e quanto mais olhava os seus números de magia, confesso, confesso que mais dúvidas ficavam em mim, e menos percebia do que se passava à minha volta), e a vida não é mais do que um lindo e belo número de ilusionismo, um espelho gigante, olho-a e percebo que é tudo uma mentira, a imagens é ma mentira, os olhos, os olhos... são uma pegada mentira vestida com tecidos verdes, e os braços, e os braços também eles, eles

Mentiras,

Caixotes vindo de lá, trazíamos o muito que tínhamos, que era nada,

Mentiras,

(muitas das vezes servi de cobaia dele na preparação de alguns dos seus números, e parecendo aos olhos que quem nos via, eu, eu um parvalhão nas mãos de um verdadeiro artista, confesso que nunca me senti como tal, mas que me irritava o facto de eu não perceber como aconteciam as coisas... lá isso era verdade)

Os caixotes magoados, desdentados, meio adoentados, e vertendo um líquido esquisito, que mais tarde fomos informados que era o líquido da saudade

E coisa eu nunca tinha ouvido na minha curta vida,

“Líquido da saudade?”

És parvalhão, ouvia-o. E hoje percebo que ele tinha razão,

Eu era mesmo um verdadeiro parvalhão aos olhos do meu pai, porque como era possível existir um líquido chamado... “Líquido da Saudade”...

Eu, negro, nasci e cresci negro, eu uma árvore a que chamavam de mangueira, que às vezes sentia-a chorar, que às vezes... também eu chorava, quando da sua sombra renasciam os palhaços do circo, o ilusionista fazia com que as cartas de um baralho aparecessem na

“Líquido da saudade?”

Os palhaços do circo, o ilusionista fazia com que as cartas de um baralho aparecessem na minha algibeira, ela sempre, ou quase sempre, vazia, e lá estava ela, assinada por mim

Pode lá isso ser possível, menino?

Verdade verdadinha... Senhor Anacleto, verdade....

Acredito mesmo, menino Francisco, “Líquido da Saudade”..., e ainda por cima aparecer na sua algibeira e assinada por si, consegue prová-lo?

Claro que sim, claro que sim Senhor Anacleto... ainda a guardo na prateleira juntamente com os meus livros, os caixotes babavam-se como se fossem caracóis acabados de confeccionar, e afinal não eram caracóis, e afinal

Quitetas,

E o molho, Senhor Anacleto, Ai nem me fale no molho... menino Francisco, que saudades..., e um líquido estranho pingava dos três tristes caixotes que trouxemos, pouca coisa, coisa nenhuma, e afinal, afinal era mesmo o “Líquido da Saudade”,

Em finas fatias sobre o pão quente de Favaios, e que coisa, que coisa... Senhor Anacleto, um Líquido verde com sabor a manga..., talvez pedaços de sombra, talvez... as chuvas quando adormeciam a terra queimada e ressequida pelo abrasador Sol... e sabe, sabe Senhor Anacleto?

Não, não o sei menino Francisco, não o sei,

As cartas, as cartas voavam durante a noite e de manhã apareciam na minha algibeira, vazia, ou... quase vazia, como sempre, ou com quase nada,

Quitetas.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

Terça-feira, 20 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:15

foto de: A&M ART and Photos

 

das sombras longínquas do sono

habito como um sonâmbulo ambíguo desejável pelas serpentes da floresta vermelha

das sombras à noite inconstante que as minhas mãos percorrem debaixo do fogo teu olhar

e depois de folhear o livro teu corpo

dou-me conta que a madrugada hoje

hoje ela não acordou

hoje ela

ela me abandonou

e sinto em mim

o sono dilacerante

das tuas mandíbulas carnívoras em teus lábios de sangue...

as sombras... hoje sou uma recta sem coração como os homens e as mulheres da cidade dos cães

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 20 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:35

19
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

O teu fogo extingue-se no meu corpo, e as cinzas, essas, voam em direcção ao mar... há marinheiros em cio deitados sobre os braços de outros marinheiros, como barcos, em aço, soldados uns nos outros, rebitados, até que a morte os separe, novamente em fogo, derretem-se e novamente são barcos, e novamente abraçados, agora não a outros barcos, mas

As flores, as jangadas de silêncio caminhando junto ao mar,

Mas, os teus braços, meu amor, rebitados no meu peito, também ele em aço, também ele sofrível, mendigo, vagabundo, e como eu, também tu, aos poucos, deixaste de olhar o mar, e também tu, aos poucos, deixaste de olhar os lábios encarnados do luar,

Amo-te, oiço-te,

Despir você... acariciar seu corpo entranhado em finas bolhas de champanhe, oiço-te na escuridão nocturna da insónia, desejar-te cansa. e ao mesmo tempo, alimenta-me os volantes e êmbolos que trago dentro de mim... e fazer amor com você até deixar de haver dia, noite, luzes, ventos, mar, chuva...

Depois, a noite trouxe os três navegantes de olhos verdes, e as flores, a jangada de silêncio junto ao mar, vive neste momento nos seus seios de capim, oiço-a gemer e sussurrar...

Amo-te, meu querido,

E no entanto, há vento, e no entanto, há tempestades, neve, granizo, ossos cerâmicos... vidros, olhos de vidro, lâmpadas incandescentes, e sinto-a dentro de mim, em fogo, como se o meu corpo fosse uma janela aberta na montanha branca, excitada... quase húmida... como a chuva, devagarinho a entranhar-se na terra

E

E oiço-a, amo-o meu querido, amo-o...

E

E oiço-o, amo-te meu querido, amo-o...

E a terra infestada de minhocas com asas, e a terra , na terra, devagarinho a entranhar-se-lhe... e as árvores, as mais frágeis, tombaram sobre o sobrado do cacimbo, eu, eu sempre a ouvi-la

Amo-o,

Eu

Eu sempre a ouvi-lo

eu

Amo-o,

Como amo as borboletas e as abelhas,

Na terra, curvas de nylon suspendem o céu, e as tuas mãos agoniam-se de encontro aos rochedos, tenho a leva sensação, que, que uma das tuas mãos, acabou de suicidar-se,

E agora, meu amor?

Oiço-a

Oiço-o

E a vida é um carrossel de mentiras embebidas em vodka, palavras... e sexo.

 

(não revisto – Ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

Agosto 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO