Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

19
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Éramos comestíveis como as ervas junto à ribeira

e tínhamos nas mãos o sabor do cansaço

e da dor oferecida pelo mendigo entardecer,

 

Éramos dois corpos voando sobre a cidade dos Deuses

ancorávamos algumas vezes

sobre as árvores em delírio que sobejavam das finas lareiras do desejo...

e sonhávamos com porcelanas beijos

que viviam na madrugada,

 

Éramos comestíveis como as ervas junto à ribeira

e tínhamos um coração de papel

onde escrevíamos as palavras em segredo,

 

Gritávamos como os pássaros

e amávamos como as ervas comestíveis...

éramos dois círculos de vidro

em osciladas rotações em cima dos barcos enferrujados

éramos e tínhamos um cais em madeira para aportarmos...

 

vivíamos construindo o amor com pequenos paus espalhados pela floresta

e quando nos sentávamos debaixo da nuvens cinzenta

sentia-te nos meus braços de sisal...

éramos o mar com a areia branca

e de ondas navegantes... e de lábios cor de amêndoa.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:31

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:49

foto de: A&M ART and Photos

 

Eu deixo a conversa fluir... como a água da chuva a cair sobre o teu nu corpo, saboreando as partículas de desejo que descem das nuvens..., ouvem-se as bolhas de sabão a cair nas tuas costas, ouvem-se as sílabas mergulhadas nos teus lábios coloridos, e aos poucos desces pelas minhas mãos como sandálias envenenadas por uma calçada íngreme, e ao fundo, o rio, o Tejo, ele que te espera, e te acaricia entre as medusas de olhos castanhos, sinto-te dentro de mim, e sei, sei que amanhã não estarás na minha cama...

Vamos juntos... enrolados como duas serpentes envenenadas pelo sémen do amanhecer... e lá fora uma maçã acaba de tombar sobre os teus seios, afago-os e mordo-os com os meus finos dedos, e sabes que penetrarei em ti como se fosses um livro de poemas dentro da algibeira do espelho encarnado que acorda antes de acordar o teu orgasmo, é tarde, o relógio da sala cansou-se de ouvir-nos em latidos estranhos que atravessam as paredes de gesso e ripa, o tecto olha-nos, e inveja-te, porque permanecerás eternamente nas suas mãos, como um candeeiro suspenso e que ilumina a noite derretida em pura seda como lençóis sobre o teu corpo de areia, é tarde, lá fora dormem os homens e as mulheres, nós, nós permanecemos eternamente acordados, e procuramos entre os estilhaços dos líquidos sobejantes e adormecidos sobre a cama a saudade, e os beijos,

É tarde, para ti, quase que dormes, olho-te como se fosse o tecto, e vista de cima, tu, pareces um jardim com flores em papel... que voam quando tocas no meu peito, e fincas os lábios ficando entre eles... uma pétala de orvalho,

Estás loucos, oiço-te,

Louco porque a poesia derrete-se como a manteiga sobre os teus seios, louco porque mergulhas na chuva diluída em pequenas lâminas de fogo, tu, tu ardes como um livro depois de lido, folheado, manuseado cuidadosamente, e o papel da tua pele cola-se-me como uma borboleta desesperada depois da tempestade, oiço-te

Estás louco,

Louco porque inventaram o amor, louco porque inventaram o desejo e os jardins junto ao Tejo, e louco, louco porque oiço os uivos teus beijos de encontro à prateleira onde moram os livros de António Lobo Antunes, e louco

Estás louco,

E loucos, loucos barcos em gaivotas saciando o cio nas noites que atravessam o Tejo, e do outro lado, os edifícios em esqueletos vadios, que correm e comem,

Meninos, meninas,

Debaixo da tenda do circo que aportou por aquelas bandas, o vento dá-lhes força nas velas e começam em corridas vagarosas como palhaços velhos, e de bengala, e sorrisos nos seus rostos

Meninos, meninas,

Procurando a fome nos vultos zumbis da avenida adormecida, debaixo da tenda do circo, e todos os sonhos realizáveis... O encontro – A chuva e o nu corpo dela.

 

(não revisto - Ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 18 de Agosto de 2013 / Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:00

18
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

dizer-te que as minhas ervas são felizes

como são felizes os sons melódicos das tempestades de areia

orgasmos invisíveis que as plantas constroem na penumbra ilha do amor

dizer-te que os barcos são cinzentos

lentos

como o coração apaixonado

como o corpo em desejo

perdidamente perdido

em ti

no teu beijo

dizer-te que as minhas ervas são tão felizes

que vivem no meu jardim sem o saberem

 

amam

sofrem

fazem amor no silêncio pôr-do-sol

e dizer-te que tal como as minhas ervas

que não o sabem

também tu

nunca saberás se amo

amei

porque também o teu jardim

é escuro

e tem muitas árvores vestida com sobretudos verdes

e sofrem e são felizes porque eu... dizer-te

 

tu

não acreditarás nas magnólias e sem o dizeres

dizes-me que amanhã haverá um barco em regresso

um piano vomitará sons como do terceiro andar descem pingos de sémen

que o vizinho deixa sobre as ervas da querida vizinha

tu

não acreditarás em mim

nem saberás que as minhas palavras

vivem

choram

e dormem no meio de nós

como se fossem um Deus à procura das almas perdidamente perdidas...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 18 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:10

foto de: A&M ART and Photos

 

A voz mais bela, talvez, profundamente triste, há uma janela com línguas de fogo, e a voz, adormece, como vida vestida de vida, a voz, ela, deitada sobre o corpo circular da paixão, ouvem-se de dentro da caverna, as outras vozes, as outras palavras disfarçadas de vozes, mergulhávamos nos corredores de acesso a elas, às vozes e às cavernas, choravas pela partida do presente, pelo teu futuro incerto, choravas com o medo, de partires e deixares... a caverna e a paixão, que de dentro da caverna, vivem, comem, fazem amor ao final do dia, e no entanto, há uma janela, uma janela de onde se ouve o silêncio do mar a bater contra os rochedos do desejo, fervilhas como água em ebulição, pegas na minha mão, oiço os teus dedos longos e poéticos, de onde

Há sons melódicos em perfeita paixão,

Amam-se eles, e elas, digamos que, há uma paixão sem nome entre os sons melódicos e as palavras poéticas, fazíamos amor quando acordava o final do dia, sentavas-te em frente ao piano, esticavas os dedos no meu pescoço... e recomeçavas onde tínhamos ficados na noite anterior,

Dirias que eu

És louco, Francisco!

Dirias que... o piano do meu corpo está perro, velho, enferrujado... e brevemente

Dirias que eu

És louco, Francisco!

No fundo do mar, deitado sobre a areia húmida das tuas coxas, dirias que eu... e brevemente voávamos como pássaros sobre as tangerinas que dormiam na nossa caverna,

Conta-me uma estória, Francisco!

(Amam-se eles, e elas, digamos que, há uma paixão sem nome entre os sons melódicos e as palavras poéticas, fazíamos amor quando acordava o final do dia, sentavas-te em frente ao piano, esticavas os dedos no meu pescoço... e recomeçavas onde tínhamos ficados na noite anterior,

Dirias que eu

És louco, Francisco!)

A de um piano enferrujado com a mais bela voz da caverna da paixão, um piano disfarçado de piano, com braços, pernas, cabeça, um esqueleto com duzentos e seis ossos, um velho como eu, vivendo que faz de conta viver, sinto-te mergulhada em mim, sinto-te dentro de mim, como quando as tuas mãos se entranham no teclado do meu corpo... e tocas-me, e ouvem-se as vozes, os sons, e todas as palavras que a paixão alimenta,

És..., és louco, és louco Francisco Luís!

A voz mais bela, talvez, profundamente triste, há uma janela com línguas de fogo, e a voz, adormece, como vida vestida de vida, a voz, ela, deitada sobre o corpo circular da paixão, ouvem-se de dentro da caverna, se me é permitido o fazer! Diz-me tu!

Que és louco, Francisco, que és simplesmente louco...

E não o sou, Francisco, e não o sou...

Porque és tão querida, porque és tão desejável e desejada, porque há uma janela em nós de onde podemos ouvir o mar, e os sons do meu corpo... quando entranhas os teus dedos nele, e tocas, e tocas... os mais belos solos de piano, o meu corpo, ele, vestido de piano...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 18 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:12

foto de: A&M ART and Photos

 

Como será o poço da morte

vestido de madrugada

sem flores

sem... sem quase nada,

 

Como será o teu olhar

entre horas e desgovernados ponteiros de papel

como habitas tu em mim...

como? Se eu para ti sou uma gaivota suspensa por um cordel,

 

Como será o teu cabelo

embrulhado no vento

como? Diz-me tu? Se o amor é uma árvore

adormecida no jardim do sofrimento...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 18 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:59

17
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Faltam-me as drageias comestíveis da paixão

reescritas no corpo incenso que a tempestade leva

longe chegam as nuvens tristes

silenciosas

tâmaras teus olhos prisioneiros de mim

tuas mãos de porcelana

amam

fazem sexo com as minhas mãos de areia

inventas-te como inventaste a chuva

como inventaste as janelas viradas para o mar

transgénicos barcos navegando em teus seios de prata

com velas de púbis desgovernados dentro do fumo incandescente do amanhecer,

 

Amávamos-nos como duas árvores de papel

aprisionadas a um cordel...

 

Faltam-me as drageias comestíveis da paixão

como uma cidade que arde dentro de ti

incendeias-te vomitando as palavras proibidas

gemidas da tua boca

em loucas avenidas

correndo subindo correndo e subindo...

como guindastes de ossos procurando o prazer nos sexos dos marinheiros

mórbidos entre o cais

e os travestidos bares do amor

cai o cortinado do teu peito

e encerra-se para sempre o desejo em ti

das tristes janelas viradas para o mar.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 17 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:32

foto de: A&M ART and Photos

 

As hormonas fervilham, cobre-se a lua com um fino manto de sémen, há delírios dentro dos calções brancos, tínhamos deixado na atmosfera um leve e intenso cheiro a sonho e a desilusão, ela diz que o dinheiro tudo compra, eu

Não o tenho,

Ela diz que eu

Tu nada podes comprar,

Vende-se, prostitui-se intelectualmente como se tratasse de um livro ainda por escrever, as hormonas

Fervilham,

Transparente como a chuva depois de se masturbar sobre os zinco telhados das sanzalas, a sombra desce da cidade, cobre os ombros da mulher emagrecida, triste, como o tecido depois de molhado, depois

Fervilham,

Diz ela,

Porque para mim, um simples aldeão esquecido no musseque da escuridão, não fervilham hormonas, nunca existiram os calções brancos, nunca... como o sabor da manga depois de dissipado o Cacimbo das margens íngremes do rio, mabecos, girafas, zonzos, todos os bichos da selva, lá fora fumava-se erva e outras raízes, que só

Diz ela

Fervilham as hormonas,

Ai se não fervilham, que só em África existem, que só em África fervilham, e diz ela, que a cidade dorme, extingue-se no silêncio vestido de cansaço, acabam-se as realidades virtuais, e começam verdadeiramente os

(nem uma foto de calções brancos encontro, coloco a mulher onde quando em criança rabisquei todo o seu corpo, tinha... cerca de cinco anos, pobre, sem dinheiro, e ela, ela deixou-o fazer, por caridade, por nada)

Textos infestados por pequenos insectos, os calções, os calções brancos dançam no interior do ânus ao som de Pink Floyd, o escritor lê poemas de AL Berto e alguns textos de Luiz Pacheco, cobre-se a lua com um fino manto de sémen, há delírios dentro dos calções brancos, tínhamos deixado na atmosfera um leve e intenso cheiro a sonho e a desilusão, ela diz que o dinheiro tudo compra, eu

Não o tenho,

Ela diz que eu sou um sonhador perpétuo, difícil de construir, fui feito a partir do barro e dizem elas, lá do velho musseque, que,

Tu nada podes comprar,

Oiço-o dizer (“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto) e dos calções brancos, nada, nem barcos, âncoras, fins de tarde no Rossio, nada, nem o pobre cimento que segura as asas do vento, e tu

Diz ela

Nada podes comprar,

Não o tenho,

Ela diz que eu sou um sonhador perpétuo, difícil de construir, fui feito a partir do barro e dizem elas, lá do velho musseque, que, o barro é como o cristal, lindo e belo, só que... muito mais barato, ele diz-me que eu com cinco anos escrevi todo o corpo das películas em desejo que chegavam até mim, bebíamos, e comestíveis cinzentas neblinas junto ao porto camuflavam todos os barcos em regresso, e ficávamos

A ouvir o mar,

E ficávamos...

Simplesmente a ouvi-lo,

(“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto)

Fervilham as hormonas dentro dos finos calções brancos, (nem uma foto de calções brancos encontro, coloco a mulher onde quando em criança rabisquei todo o seu corpo, tinha... cerca de cinco anos, pobre, sem dinheiro, e ela, ela deixou-o fazer, por caridade, por nada), e uma nuvem de gelo entra porta adentro da miséria cubata invisível...

Uma placa sobre a porta de entrada,

“Há caracóis”, e vivíamos felizes como serpentes no interior do ânus abraçados à fina réstia em tecido dos calções brancos,

Definitivamente,

Hoje, Hoje há caracóis...

(“tão triste mário sobre o tejo um apito” - de AL Berto).

 

(não revisto – texto de ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 17 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:52

foto de: A&M ART and Photos

 

as pedras castanhas filhas da noite cinzenta

fundem-se-lhe nas mãos clandestinas que a dor adormece

faz de conta que vive

sem viver

sem resmungar com os transeuntes vestidos de negro

que se fazem passear

entre os gladíolos do jardim da insónia

e a triste numeração da calçada sem memória,

 

caçávamos borboletas dentro do escuro quarto com janelas gradeadas

e o aço que antes gemia

hoje morto

derretido como os dedos do poeta amaldiçoado,

 

as pedras castanhas filhas da noite cinzenta

em vidros de pergaminho...

 

cinzentas as árvores de linho

que adormecem nos teus cortinados

a fome emerge

submerge

como pregos semeados na seara tua cama

as pedras castanhas... como ravinas de azoto...

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 17 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:21

16
Ago 13

foto de: A&M ART and Photos

 

procuro-te nesta encruzilhada de caminhos

como um leão fingindo dormir

ou como a gaivota madrugada

não fingindo nada

simplesmente vivendo a vida como se a vida tivesse vida

fosse comestível

tivesse força própria

como se ela

a vida

a tua vida em encruzilhada de árvore ancorada

fosse... uma alma

penada

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

sexta-feira, 16 de Agosto de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:31
tags: , ,

Agosto 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO