Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

08
Set 13

pois vou... estive esperando na tua cama... e tu? voando entre quatro paredes... e tu? sorrindo rosas com pétalas de cetim, pois vou, vou, claro que vou, dormir, sonhar, ficar apenas acordado, olhar o tecto, desesperado, cansado, pois vou... estive, estou... esperando por você... e a sua cama parece um manicómio com muitas janelas, um corredor longínquo, grandes de beijos nas janelas, voando, dançando, pois vou, claro que vou... sonhando, brincando, até que a tempestade traga as tuas mãos disfarçadas de gaivota, mar, barco... ou... nada,

só isso, buscar água? e eu que pensei que foste procurar-me entre sombras, debaixo das bananeiras do teu quarto... mas não, não

pois vou,

dormir... estive esperando na tua cama... e tu?



@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 8 de Setembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:12

foto de: A&M ART and Photos

 

Aqui não há nada,

pensava eu,

aqui vive-se acreditando nos lençóis de insónia que durante a noite acordam das madrugadas incolores, os corpos vagueiam como pedras caindo do terceiro andar, depois uma fina chuva de sorrisos cai nas esplanadas cinzentas das avenidas ainda incógnitas, ainda virgens como árvores por descobrir no quintal lá de casa, abriam-se a janelas, abriam-se as portas e

pensava eu

aqui não há nada,

Depois diziam-me que as coisas iam melhorar, diziam-me que amanhã o sol acordaria dentro de mim, e eu, chateado

(acorda o caralho... porque só vejo calhaus e ferros em aço pedindo migalhas de pão)

chateado ouvia-os no varandim da casa amarela escrevendo frases de revolta na sombra dos lábios inchados pelos pequenos morcegos de negras asas em cartolina, e diziam-me que amanhã

Amanhã tudo será diferente,

(o caralho que será)

Amanhã como hoje, amanhã como ontem, amanhã como há vinte e cinco anos, as palmeiras, os semáforos avariados, as tuas coxas magricelas parecendo esteios de xisto mergulhadas em ocas palavras em desejo, amanhã, amanhã e ontem, e hoje, e amanhã as tuas mesmas coxas de ontem, iguais nada em ti mudou, nada... nem a cor dos olhos, da pele, do púbis, tudo igual, porra

(muda, amanhã, o caralho...)

Amanhã,

Muda, muda de coxas, muda de seios, muda a cor à pele de marinheiro poisando os cotovelos na escotilha do submarino que há dentro de ti, muda, alimenta-te de mim, alimenta-te dos pedaços de rosa que deixaste meus no interior de um livro, ainda existe?

Existes tu, coxas magricelas, leves, invisíveis quando o sol levanta voo e alicerça-se no teu peito doirado, chovia em ti, molhavas-te para te esconderes em mim, e de mim, e o amor és isto

(uma merda escrita num papel e outra merda descrevendo círculos numa branca tela, virgem, fina, magricelas, igual às tuas lâminas coxas)

Amanhã...

Existes em mim?

Claro que não, claro que n ã o...

Nunca

(muda, amanhã, o caralho...)

Porque aqui, aqui não há nada.

 

(Não revisto – Ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 8 de Setembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:08

foto de: A&M ART and Photos

 

sinto-o correr nos poços escuros do meu corpo

quando escarpas e ventos se alicerçam nas minhas tristes mãos de areia

sinto-o como se ele fosse uma lâmpada de cristal vomitando palavras

tracejados traços no sorriso de uma abelha

e sinto-o e sinto-a

em mim depois de adormecer a solidão

sinto-o correr nos poços escuros... do corpo

e há uma corda invisível em cada esquina do sofrimento

que as cidades descobrem depois de acordar a manhã

e as ruas absorvem as lágrimas tuas

que correm nos poços...

escuros nus dormentes ausentes das sílabas de prata

 

vazios como o silêncio desgovernado

dos teus íngremes cabelos com sabor a naftalina

e de uma gaveta fechada

uma sombra disfarçada de imagem

emerge no espelho da dor

estás triste

como se o teu barco naufragasse no profundo Oceano mar...

e no entanto

sem o perceberes

uma jangada voa nos teus olhos magoados

como uma gaivota de oiro envenenada pela insónia de uma velha estória...

e sinto-o e sinto-a... dentro de mim em gritos de revolta

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 8 de Setembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:49

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