Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

16
Set 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Há uma estrela cansada de viver, há uma estrela apaixonada pela tempestade invisível das cidades com edifícios carnívoros, os homens, como eu, são comidos por poderosas guilhotinas de aço inoxidável, o carbono sabe a poeira de marfim, e ela passeia-se pelos jardins com árvores de papel,

Equações com muitas incógnitas dormem docemente na palma da tua mão, tu tocas os mamilos pelo integrais triplas, e diferenciais equações desenhadas no coração da areia, o mar, o mar regressa a ti e leva-as, como levas os ossos nossos que as guilhotina de aço

Comeram? Comem? Adormecem na tua face as abelhas claridade das manhas de Outono, sinto o frio entranhar-se em mim, serás tu, tu

Disfarçada de cetim?

Tecido barato, chita, ou...

O cigano refila com ela, o cigano tenta embrulhar a menina num cubo de vidro, mas a menina, toda sabida, consegue aldrabar o cigano...

Perguntas-me

Quem, quem consegue enganar um cigano?

Fico sem música, Wordsong silencia-se e oiço o AL Berto sobre a minha secretária a discursar, pergunto,

Quem, quem consegue enganar um cigano?

Outro cigano? Outro homem como eu, comido e bebido pela guilhotina de aço? Não, Não poderá ser... assim choviam navalhas sobre o cansaço das tardes de Carvalhais, e sempre tive uma paixão secreta por ela, por S. Pedro do Sul... pelas Termas de S. Pedro do Sul...

O avô Domingos,

“Olha meu menino... a filha do Zé é única como tu e têm muitos bens...”

É maluca como eu..., segredava-me o meu outro eu,

O avô Domingos,

“Muitas terras, casas...”

E eu e o outro eu... Queremos lá saber disso, nós queremos viver livremente, correr, atravessar o mar em direcção a Sul, depois viramos à direita logo à saída de Castro Daire, e é lá, é lá que está ela à espera de um fedelho em círculos, prisioneiro à mão do avô Domingo, nessa altura

Não “Fingertips”,

O avô Domingos,

Finger quê menino?

Nada, nada avô... estava a falar da Teresa, daquela que você diz ter muitas terras, e casas... e parvoíce a mais dentro do pequeno cérebro misturado em areia e teias de aranha,

Sina de dinheiro,

O quê? Finger quê?

Nada avô... nada... é a janela que está empenada, e quando o tio Serafim liga o desgraçado do moinho eléctrico... a luz murcha

Damos-lhe Viagra, meu menino..., não avô, não podemos...

Porquê, meu menino?

Porque ainda não inventaram o Viagra e ainda não existem os Fingertips...

Finger quê, meu menino, Finger quê?

Nada, nada avô, nada, porque o sol vem sempre acompanhado, nada, nada avô, nada, porque a chuva traz sempre outro amigo, e esse amigos traz um pedaço de vento e o vento

Leva-te os papeis onde escreves, não é meu menino?

(nada avô... nada... é a janela que está empenada, e quando o tio Serafim liga o desgraçado do moinho eléctrico... a luz murcha

Damos-lhe Viagra, meu menino..., não avô, não podemos...

Porquê, meu menino?

Porque ainda não inventaram o Viagra e ainda não existem os Fingertips...

Finger quê, meu menino, Finger quê?)

E sentava-me junto às bananeiras, pertinho dos antigos balneários, e havia um banco só meu, tinha sempre na mão um livro, um caderno e uma caneta, e passava tardes inteiras a conversar com o enxofre da fonte incandescente junto a mim...

Nunca mais ouvia as palavras dele. Nunca mais.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha

Segunda-feira, 16 de Setembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:41

foto de: A&M ART and Photos

 

saberás que ainda existo

eu

disfarçado de insónia

dormindo solitáriamente debaixo do teu cabelo

olho-os

são os teus lábios de melancolia que ornamentam as minhas mãos tristes

mórbidas

olho-os

são os teus seios embrulhados nas flores doiradas das atmosferas inventadas pela solidão

eu

saberás que ainda existo

que tenho fome

 

como-as (as horas) aos insignificantes relógios de pulso mergulhados na neblina

eu

que ontem percebia as andorinhas

conversava com as gaivotas

e quando atravessava o Tejo...

olhava-as

as coxas tuas como cavernas traçadas no xisto cinzento dos sonhos encarnados...

saberás que existo?

 

as noites horas

sem estrelas

janelas

ruas e ruelas

calçadas

e rios embriagados pelo incenso do teu corpo húmido outrora em tons de negro

como as rochas

quando se extingue a maré

quando tu te extingues

e procuras-me nas migalhas do jantar

saberás que ainda existo

eu? o homem de vidro com cabeça de seara planetária... sobre os alicerces do inferno...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 16 de Setembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:43

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