foto de: A&M ART and Photos
ouvíamos os mabecos embrulhados na insónia do amanhecer
e tínhamos sobre o imaginário silêncio
as palavras pergaminho de sons invisíveis que as árvores desenhavam nos teus lábios de gaivota apaixonada
tombavam como enxadas derramando suor e lágrimas nos socalcos do desejo
descendo o teu corpo
e mergulhando no rio como pequenos delírios de luz
ouvíamos os cubos de gelo gorgolando na tua garganta de caverna madrugada
e ao longe
o vento trazia-nos a flor embalsamada com pequenos colarinhos em prata
e uma mão desalmada
entranhava-se nas tuas coxas de xisto
o muro da solidão tombava
a árvore tombou
e as tuas mãos de porcelana
partiram-se enquanto a noite sorria à janela do cinzento cobertor da dor
como um longínquo fôlego caminhando nos carris da tristeza
ouvíamos
e ao longe a andorinha desassossego morria em pedaços de saudade e melancolia
ouvíamos...
chovia
a cansada abelha dos triângulos de chocolate
e ouvíamos
e chorávamos
as palavras sem palavras dos cigarros adormecidos em palavras semeadas
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 24 de Setembro de 2013