Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Out 13

Solidificado no vórtice da mentira quando sei que das tuas mãos linhas transversais dividem dois corpos em duas laranjas, solidificado este meu triste olhar quando sinto no espelho teus lábios sofridos, teus molhados lábios, a boca estremece, desce ao mais intimo poço da insónia, no meu “mundo” vive-se sentado sobre uma placa de xisto, no meu “mundo” vives húmida como as árvores depois da neblina, solidificado no meu “mundo”

Nosso “mundo”,

vives húmida como cavernas em sais de prata a preto e branco, a imagem bloqueia, a imagem deseja a tela sobre ela sabendo que do outro lado do abismo, o

Nosso “mundo”?

Vive e diverte-se,

Chora, grita entre uivos e orgasmos doirados, no nosso “mundo” há uma clarabóia com olhos de gaivota e asas em papel, no meu “mundo”, vive-se, chora-se, deseja-se

Desejam-se as fotografias, as minhas e as tuas, as nossas imagens tridimensionais multiplicam-se, dividem-se... e acordam os teus seios depois da madrugada partir, sem deixar rasto ou paixão como fazem os barcos quando abandonam o porto de abrigo e sente-se uma corda esmorecer, coitada, e aos poucos vê-se o corredor na morte o teu púbis comestível nas páginas de um livro,

O meu “mundo”

No nosso “mundo” tudo pertence às fotografias, tudo é sombra, tudo é desejo...

( ….... )



@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 6 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:42

foto de: A&M ART and Photos

 

porque te alimentas do néon moribundo das portas em ruína

e percebes que os meus olhos são cristais vagabundos

sem número de policia

apenas uma simples janela de porcelana

quando regressa a noite

disfarça-se de gaivota

deixa ficar os poucos vidros sobre a mesa-de-cabeceira

e voa na cidade do medo

 

leva na algibeira o candeeiro mordomo

que sua senhora adorada lhe ofereceu um dia longínquo

quando ainda existiam lábios de borboleta

nas plantas marginais

do silêncio com algas

e dentro de um velho caderno

o esqueleto de duas ou três integrais

simples duplas triplas... como o teu corpo em despedida

 

partias no primeiro autocarro da carreira sem rumo definido

entre curvas e lagartos

livros e camaradas apaixonados pela vodka da menina Alice

partias

e eu deixava de ver-te logo a seguir à curva junto à ravina

despedia-me de ti dentro do meu quarto escuro

e chorava

chorava medalhas de prata que me ofereceste e nuca fui capaz de as usar...

 

(porque te alimentas do néon moribundo das portas em ruína

e percebes que os meus olhos são cristais vagabundos

sem número de policia

apenas uma simples janela de porcelana)

 

por medo

ou vergonha

nunca encontrei as tuas mãos no meu rosto triangular

e chegava a casa

e a casa parecia-me um cubo em betão armado

com braços em aço

com olhos em cristal

como os meus

 

(cristais vagabundos)

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

(não revisto)

Domingo, 6 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:50

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