foto de: A&M ART and Photos
tenho nas mãos a enxada da solidão
pronta a rasgar o silêncio do corpo embalsamado da insónia
tenho nas mãos o sorriso inocente das palavras adormecidas
tenho o papel de embrulho pronto para afagar as tuas lágrimas
que sobejam das tempestades vínicas do teu olhar em espelhos castanhos
oiço-os desalmadamente gritar contra o tabique dos sonhos em construção
vejo o teu cabelo voar sobre as ardósias invisíveis dos tentáculos da paixão
tenho nas mãos o sabor dos teus lábios
a garganta da tua voz embrulhada em cortinados de areia
o teu púbis mergulha no mosto pergaminho dos beijos embainhados
oiço-os
e vejo-os
tenho dentro de mim os sargaços montes de xisto
onde escrevo as tuas coxas pérfidas dos pássaros sem amanhecer...
tenho nas mãos as nuvens dos teus seios
como lâmpadas fundidas brincando em cada nova madrugada
tenho a canção do desejo
dispo-te desajeitadamente sem perceber os sons melódicos das falsas flores
tenho-as sobre a mesa-de-cabeceira como se elas fossem um livro em despedida
ou
ou uma andorinha vagueando nas tuas nádegas de porcelana
ou
tenho nas mãos os simples rolamentos das cristalinas janelas de zinco
oiço-os e vejo-os e amo-os...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 12 de Outubro de 2013