Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

13
Out 13

foto de; A&M ART and Photos

 

poderíamos ter um cão

uma cabana na montanha

uma cama

uma canção

uma flor com sintomas de paixão

 

poderíamos ter o mar

os filhos e as filhas do mar

as maré e o pôr-do-sol

poderíamos ter um cão

um letreiro e a esmola do mendigo que sentado na calçada suspira como gente ofegante

 

um olhar penetra no teu corpo doirado

poderíamos ter um cão

uma cabana na montanha

um sofá com asas de carvão

poderíamos... mas não mas não um triste sorriso de adormecer

 

uma noite mal dormida

chuva

neblina

chuveiro depois de fazermos amor...

poderíamos

 

poderíamos ter um cão

um rio com lábios de sangue

uma gaivota poisada sobre os andaimes do tos teus seios...

poderíamos ter um cão

beijos e uma lanterna com fotografias de sonhar

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 13 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:17
tags: , ,

foto de: A&M ART and Photos

 

Nunca sei como começar, nunca sei porque me sento em frente a esta secretária, nunca sei porque escrevo estas palavras, às vezes, mortas, às vezes

Sem sentido?

Às vezes perco-me na escuridão do dia e acordo na neblina da noite, às vezes escondo-me nos rochedos do medo, outras vezes

Sem sentido?

As nozes caem como papelinhos de anjos mergulhadas no desespero de que as vê cair, e depois de inertes no chão ensanguentado de cascas e pequenas ervas daninhas, os olhos da papoila dançam canções de Domingo noite fora, tínhamos uma vara de aço, ouvíamos alguém na sombra a remexer os ramos escondidos nos alicerces da montanha, tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,

Sem sentido...

Às vezes?

Ficávamos abraçados a sentir a morte das nozes,

Nunca sei porque o faço, nunca sei porque o comecei a fazer, no passado, muitos anos antes de aqui e agora sentir o

Telintar das nozes?

Sem sentido, escrevo-te como se fosse a minha última vontade, e a minha ultima vontade é não ter vontade nenhuma, quero ser como fui, quero ser como nunca consegui ser, caminhar sem

Sentido?

Ouvimos-las descer o talude em direcção ao rio, em queda livre, elas parecem pássaros a despedirem-se dos voos nocturnos da paixão

Conheces alguém que tenha conseguido sobreviver ao impossível amor?

Os ratos,

As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de

Rochedos?

Vozes e nozes,

O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se

De ti?

Não o creio, porque o teu corpo de cascalho tombou antes de elas caírem do céu, diziam-nos que as nozes tinham saborosas palavras que juntas

Poemas?

Rochedos?

Vozes e nozes,

O mar, o mar vê-se

Sente-se...

Sentido?

Prometi e não consigo cumprir, porque as nozes não o deixam, porque as vozes não mo deixam, porque não o consigo realizar, porque não sei

Como começar?

Era uma vez...

Não, não o quero, não o consigo fazer

Porque elas caem?

As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de

Rochedos?

Vozes e nozes,

O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se e beija-me, o mar ama-me, o mar acaricia-me e deixa a minha pele desejada em palavras de caserna, da despensa ouvíamos as latas de conserva revoltadas porque hoje é Domingo, porque lá fora

Caem as nozes

E as vozes,

Fazes-me um bolo de chocolate com nozes e vozes e

Palavras?

Sim, sim,

Palavras inanimadas sobre a mesa da cozinha, e depois de fazermos amor, ouvimos-las...

Caírem sobre o talude da paixão,

Rolavam como serpentes sobre os lençóis húmidos que o teu corpo de solstício de Outono deixava ficar junto à janela onde a nogueira embriagada pela tempestade gritava uivos sons de

Palavras?

Sim, sim,

Não, não o consigo fazer, despedirem-me dos versos molhados, despedirem-me das pedras vestidas de branco e dançando no centro da noite de

Domingo? Tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,

Sem sentido...

Às vezes?

Que às vezes nada parece fazer sentido, depois do corpo adormecer e dos ossos magoados do miolo da noz...

As palavras ejaculam sílabas de arame.

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 13 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:42

Outubro 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5

6
7
8
9





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO