foto de: A&M ART and Photos
a água dilacera-se nos caminhos da minha mão teimosa
agreste
triste
defeituosa
a água entranha-se nos meus ossos apodrecidos
findas as crateras dos vulcões da tua insónia
agreste
triste
sinto-os mergulhar nos Oceanos de cartão
como peixes plastificados como livros esfomeados
sinto-os gritar enquanto uma manhã acorda e me atormenta como um sôfrego mármore
sobre a lápide da inocência
a água é apaixonada pela terra despovoada
e chapas em zinco dormem como cogumelos debaixo das árvores com boca em porcelana
a água é um transeunte de sobretudo e sapato bicudo
caminha junto ao rio
não tem no rosto sorrisos
é carrancuda
e padece de juízo
como janelas com gradeamento em palavras nauseabundas
a água chora
a água é obrigada pelo homem com olhos de solidão
a brincar com bolhas de sabão
e a inventar madrugadas sem pão
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 21 de Outubro de 2013