Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

02
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

volúpia madrugada em ti

quando te tocavam as minhas pétalas mãos

ouvíamos o silêncio desejo subir os andaimes da paixão

sentávamos-nos sobre a pedra emagrecida da vaidade

acariciávamos os vampiros olhos da noite sem nome

éramos dois vagabundos

mergulhados na tristeza

éramos dois corpos de açúcar ínfimos nos alicerces da beleza

não sabíamos que as palavras viviam em nós

como viviam em vós os pedaços de papel da alvorada

cansados em sexo de ocasião...

sentávamos-nos sobre a almofada e sorriamos para o espelho carrancudo da noite

os outros éramos nós em volúpias canções de amor

quando roubávamos às palavras as almas e os sinos da transatlântica corrente de aço

ouvíamos os gonzos das esplanadas que entravam logo pela manhã na cidade dos vícios...

fumávamos e fodíamos

fumávamos e dormíamos

fumávamos e... nada como volúpias madrugada em ti

quando as minhas pétalas mãos fecundavam as sílabas do prazer

e nascia o teu e só teu poema

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 2 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:20

foto de: A&M ART and Photos

 

A musicalidade das tuas mãos poéticas, sinto em mim as teclas do piano onde poisas o teu silêncio, e mergulhas no Sol e és levada para as nuvens invisíveis que habitam no meu peito, a rua está deserta, e chove, e a lareira ficou acesa, há um cadeirão pronto a receber-te e um livro esguio e macio para abraçar a tua doce pele de chocolate,

Sinto-me criança envolta de farrapos e antigos utensílios de cozinha, quero ligar o interruptor do amor, aquele que há muito foi desligado pela intempérie do desejo e não consigo, sou tão pequeno, sou tão baixinho... que não o alcanço com os meus dedos de arame envergonhados pelo reumatismo e pela insónia de procurar-te entre as fotografias e de nunca ser eu capaz de te encontrar, sem

Atrasado?

Sempre ignorado, vergado, mergulhado nos lençóis da infância quando apenas tínhamos um cobertor que servia para nós os três, não havia divisões na nossa casa,

E apenas

Chita suspensa num cordel,

A vedação de nós, separados por milímetros de estampados impregnados com cheiros do outro lado da rua, e uma varanda, de vez em quando, agoniava-se com a nossa presença,

E apenas pássaros sobre o teu cabelo curto de alfazema...

E apenas

Chita suspensa num cordel,

Sempre impermeável como um oleado telhado sobre a velha estrutura em madeira, chovia-nos e às vezes parecíamos candeeiros de parede esperando a mão de quem os acende, a chama era ténue, e tremíamos como arbustos esperando o regresso do Tejo dos tempos que nos visitava, entrava pela varanda, os primeiros dias ficava à nossa espera até que um de nós lhe pegava e o trazíamos para dentro, depois

E apenas

Chita?

Depois ele mesmo fazia as cerimónias da casa, subia à varanda, ora fica a fumar o seu cigarro ora entrava logo após regressar, e sentava-se no colo de um de nós, quase sempre fazia-o no meu, talvez porque eu era o que mais saudades tinha dos tempos dos barcos paquetes rasgando os Oceanos meninos das floreiras em tristezas Primaveras,

Chita suspensa num cordel,

E apenas queríamos viver como todos os outros viviam, e apenas esperávamos o regresso da vida condigna como todos os outros a tinham, e apenas..., sentíamos o pulsar dos corações da geada nos vidros estilhaçados, tínhamos janelas incompletas, vazias, doentes, janelas com quadrados espaços onde tudo entrava menos o calor e a saudade, tínhamos vergonha da vergonha quando em nada tínhamos de nos envergonhar, e sabíamos que as escadas graníticas, durante a noite, desapareciam, e ficávamos sem acesso à rua, madrugada dentro

Sempre,

A chita?

Entravam, embriagadas como varões em aço esperando a mão do operário especializado em ferro, e logo pela manhã, e logo que fosse dia, deitávamos-lhe água a ferver, desaparecia-lhe a embriaguez e o gelo e após alguns minutos voltávamos a ter escadas de acesso à rua, chita suspensa num cordel, metralhadoras ouviam-se em volta do chafariz junto à igreja, gorgulhos de felicidade cresciam nos arrozais dispersos dos teus lábios de lânguida manhã de Outono, e os outros besouros adormeciam na nossa varanda enquanto não regressava o Tejo, e de cigarro na boca, e de pulseira no braço, e de lenço ao pescoço...

Gargantilhas voando entre gafanhotos e portas de madeira prensada, tristes e belas, e envergonhadas pelas janelas sem vidros, e da casa

Sem paredes, nada, apenas

Chita?

E um cordel de medo a atravessar o espaço vazio de nós...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 2 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:57

foto de: A&M ART and Photos

 

eu me confesso aos teus secretos desejos

oiço em ti a sinfonia melancólica da paixão louca que acorda as palavras poucas

eu me confesso aos teus olhos de espiga solitária

no infinito cereal pergaminho

vejo e sinto os animais vadios

e os pássaros mendigos

eu me confesso sabendo que tens em ti a diurna estória sem sombras

ou os pequenos laços no pescoço da morte

ou da lápide o sofrimento ensanguentado beijo da despedida

a partida é uma forma de viver

ser feliz

e sonhar com as madrugadas de alecrim

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 2 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:49

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