Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

03
Nov 13

Foto de: A&M ART and Photos

 

acreditava que eras em pedra maciça e que tinhas no cabelo uma seara de trigo

havia nuvens de poeira que envolviam o teu olhar

e sempre que chovia

uma janela acordava no teu peito

acreditava que não choravas porque as flores não choram

e eu

acreditava

que eras em pedra maciça

e eu

acreditava

que eras uma flor

com perfume de desejo

 

acreditava que pertencias às gaivotas de asas em papel

que vivias no mastro dos barcos doentes

e que amavas os homens como eu

esqueletos vadios

rolando as calçadas em direcção ao Tejo

acreditava que tu eras diferente

e que a escuridão da tua pele sangrava espinhos de chocolate...

doces desenhos no suor cuticular da vaidade solar

e tinhas na boca as palavras de vento que vomitavam bandeiras brancas em dias de tristeza...

acreditava

que eras uma flor

acreditava

 

que eras... um desejo

um corpo

um beijo de sílabas enlouquecidas numa tarde de Sábado

e no entanto

a tua escura pele adormeceu nos agrestes desenhos do Baleizão

que eras uma flor

lábios pintados de encarnado

beijos doirados

acreditava

e tudo parecia a mão da Inquisição sobre o púbis da saudade

havia ruas da cidade submersas em ti

como cordas de nylon aprisionando pêssegos carcomidos dos pássaros pretos

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 3 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:29

foto de: A&M ART and Photos

 

podíamos aproveitar os desenhos da sala de jantar

podíamos fazer das paredes húmidas telas com alegria

e palavras em espuma

à espera do Oceano

sentávamos-nos sobre a soleira da porta de entrada

e esperávamos o regresso das almas impregnadas no mármore livro onde dorme o avô Domingos

é Domingo

visitei-o e percebi que um dia

eu

não tenho quem faça o mesmo por mim

pertencerei a uma sepultura solitária

entre riachos e pedras dentárias

prédios e alicerces de vidro

é Domingo

e o avô Domingo parece satisfeito com a minha visita

não o consigo ouvir

não o consigo ver...

mas sei que ele vagueia nas minhas mãos enquanto nascem delas as palavras dele

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 3 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:54

Termina a noite e sinto-me um desamor, desalmado, um pedaço de papel sem endereço ou palavras, sinto-me uma flor sem pétalas, ou

Uma boca?

Sou a boca sem lábios, a boca sem desejos, sou a boca das palavras envenenadas pela noite, vigio a luz que ilumina a minha mão, oiço a voz do teu sofrimento, oiço a voz dos teus anseios, oiço a sombra transformada em voz, oiço a pele sedosa da manhã na límpida chuva dos orvalhos clandestinos que aparecem nos dias de ansiedade, oiço a voz do desejo proclamando os inocentes divãs com pernas de cetim, oiço dos cortinados os vãos confusos que a tua língua deixa sobre a mesa-de-cabeceira do quarto duzentos e dezassete, e oiço a voz do simpático cortinado vomitando orgasmos; amo apaixonadamente a noite e a embriaguez das luzes encarnadas dos teus seios.



@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 3 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:36

Novembro 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO