foto de: A&M ART and Photos
imagino-te sentado sobre a minha mão
e sinto as tuas adormecidas palavras nos meus olhos verdejantes
oiço-te sussurrar-me as migalhas ínfimas dos desejos prometidos
como se o meu corpo ainda existisse para ti
a tua falta em mim
parece um transatlântico paquete vergado pela vadia arquitectura do sono
imagino-te em sombras de espuma
como um sonâmbulo esqueleto procurando fotografias de ontem
imagino-te sentado sobre os meus seios de pálpebra encalhada nos rochedos das lágrimas
vejo o cascalho cintilante da insónia dor nos clandestinos orvalhos
e tu voas sobre os cinzentos veleiros com asas de papel
submersos no cansaço da madrugada
sinto a tua falta
e percebo que nunca mais terei os teus beijos
e as tuas acariciadas mãos de andorinha sideral
imagino-te dentro de um espelho esperando a minha mão
e o cheiro do meu corpo...
serei eu a tua fechadura a onde te acorrentaste quando das tempestades de areia?
sinto
sinto a tua falta quando as manhãs se tornam enormes
quando os beijos ficam inacessíveis
e os pássaros loucos como as tuas palavras nas montras da cidade
imagino-te
imagino-te sentado em mim
esperando a abertura da janela da semana passada
imagino-te impregnado no livro de mármore em lápides de paixão
oiço-te
e quero-te
como te quis
como te ouvia
sentado em mim
semeando lenços de seda sobre os socalcos adormecidos do xisto pergaminho
imagino-te em mim
quando tu pertences aos Deuses andaimes das saudades invisíveis
amar-te-ei eternamente como acontece com as lâmpadas nocturnas do sexo?
despeço-me de ti... imagino-me em ti perdidamente só como uma lagarta solitária
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 5 de Novembro de 2013