Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Nov 13

Foto de: A&M ART and Photos

 

Não entendo as tuas insignificantes estórias, parecias-me cansada devido à azafama das cearas verdes enquanto dentro do palheiro cresciam as amarguradas tempestades tuas, as viagens sem regresso minhas, os transeuntes emagrecidos como sombras depois de correrem sobre a ponte dos abismos, e do outro lado, lá bem distante de nós, ouvíamos os pequenos uivos das paixões rasuradas no pergaminho corpo das donzelas nocturnas do desejo, e os automóveis envenenavam-se com as gargalhadas dos embriagados candeeiros de néon que a cidade alimenta com as sobejantes flores dos canteiros quadrangulares dos círculos prateados que os espelhos de luz transmitem para os muros doentios do ciume, amava-la?

Não, nunca a amei como amo as tas palavras de cetim adormecido...

Queria-la para procurares o mar?

Não, nunca a amei como amo as tuas saudades de verga enrolada nas dentaduras em marfim dos crocodilos de brincar, escrevia-lhe e deixei de o fazer,

Porquê?

Perguntas-me porque é triste a morte quando nenhum dos dois morreu, como se nós soubéssemos a dor que provoca a morte nos objectos, nas coisas, nas pessoas,

Quando morrer que tenha a tua mão entrelaçada na minha, e no entanto

Porquê?

Há pessoas assim, assim como? Assim... e no entanto descobrimos que a paixão é um bicho com asas de gaivota, e boca de pedestal abandonado, esperando o regresso de uma qualquer estátua, e

Porquê?

Porque elas gostam, porque eles gostam, porque a paixão é um bicho com corpo de mulher e dentro do corpo dessa mulher..., o tempo eterno, o tempo gasto com as superficialidades dos simples relógios de parede, alguns lixados com F Grande, outros, outros bruta-montes carregando caixotes em madeira do cais de desembarque até à pensão, chegando ao duzentos e dezassete...

Dormíamos,

Acariciávamos os tentáculos abraços das sombras de papel dos mendigos travestidos como lâmpadas clandestinas e apaixonadas pela letra de uma canção, sofrias, amavas e não eras amado, amada depois de crucificada nos cobertores diurnos das vertigens tardes de sexo prometido, e a cara -de-pau que o espelho absorvia do bengaleiro esperando a subida dos ditos homens carregadores que em cada degrau perdiam as réstias caixas em madeira,

Porquê?

E afinal, nada, vazios, perfeitos idiotas vestidos de camareiros carregando objectos inacessíveis, carregando objectos invisíveis, carregando memórias sem que tenhamos descoberto que a morte

Porquê?

Às vezes veste-se de alegria, como muitas das vezes a vida se veste de tristeza, e muitas outras

De nada,

Nada como dantes,

(Quando morrer que tenha a tua mão entrelaçada na minha, e no entanto

Porquê?

Há pessoas assim, assim como? Assim... e no entanto descobrimos que a paixão é um bicho com asas de gaivota, e boca de pedestal abandonado, esperando o regresso de uma qualquer estátua, e

Porquê?)

Não entendo as tuas insignificantes estórias, parecias-me cansada devido à azafama das cearas verdes enquanto dentro do palheiro cresciam orgasmos circunflexos, orgasmos recheados com vegetarianas mãos de orvalho, sentíamos a geada nas nádegas e sabíamos que lá longe, uma ponte atravessava o cais de desembarque, despediam-se os amantes, despediam-se os mortos dos vivos e os vivos das árvores e as árvores dos pássaros e os pássaros

Pai, o que são pássaros?

Bichos com asas...

A Paixão?

(Não entendo as tuas insignificantes estórias, parecias-me cansada devido à azafama das cearas verdes enquanto dentro do palheiro cresciam)

Cresciam dois corpos atravessando a puberdade em direcção às Termas de S. Pedro do Sul..., e hoje, hoje apenas fantasmas, e nada mais do que isso, fantasmas vivendo entre os lânguidos campos de milho, e ele, e ela, os dois

Espantalhos,

A Paixão?

Pai, o que são pássaros?

Bichos com asas...

 

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha

Quarta-feira, 6 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:09

foto de: A&M ART and Photos

 

 

uma lápide de silêncio sem sentido nos teus lábios

havíamos conversado quando nada o fazia acreditar

que a noite trazia as correntes verticais da chaminé do desassossego

havia uma janela no teu peito

e sempre que te visitava

desenhavas-me um beijo nas minhas mágoas de Salomão

tínhamos descoberto o olhar e os olhos e as pálpebras que escondem o olhar

quando terminava o dia e recomeçava o amanhecer nas coxas de uma flor esverdeada

tinhas-me desenhado com lápis de cor nas nuvens dos três ângulos

e eu sentia-me envergonhado por pertencer às estrelas sem nome

vagueando entre poeira e pedaços de madeira tristemente abandonadas

como o Céu onde pensavas que eu habitava

não não meu amor

sou alérgico ao Céu e aos habitantes do Céu

não não meu amor

sou alérgico às palavras e às lápides negras com bocas de porcelana

não

não meu amor...

uma lápide de silêncio sem sentido nos teus lábios

não quer dizer saudade

um cigarro na tua boca não significa tempestade

vento

beijos impregnados num lenço de claridade

não não meu amor... uma lápide é uma lápide

um beijo é um beijo

e a noite

às vezes

e a noite nem sempre é a noite

porque tínhamos descoberto o olhar e os olhos e as pálpebras que escondem o olhar

e descobrimos o verdadeiro amor...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 6 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

foto de: A&M ART and Photos

 

oiço as tuas sílabas adestrais nas amoreiras vãs da cidade dos desejos vagabundos

tenho-te aprisionada no coração de pedra que a saudade deixou ficar em mim

sinto-te mergulhada nas palavras órfãs dos vadios poemas de encantar

e vêm da madrugada os guindastes mórbidos dos arvoredos em flor

sou um barco desgovernado

apaixonado

desamado

e desalmado

porque vendi a minha alma

ao Oceano mar dos defuntos poemas sem nexo

oiço a minha voz transformada em migalhas de areia

e pedaços de marmelada

 

sou um vagabundo?

sou um homem sem sentido procurando o sentido de viver

amar

sofrer

e chorar

oiço de ti os milímetros quadrados das janelas viradas para o mar das caravelas adormecidas

que sobejaram dos cobertores húmidos do desejo

o teu corpo evapora-se nas minhas doces e tristes mãos de arbusto desiludido

sei que me esperas numa rua da cidade

sem nome

sem saudade

das sílabas adestrais nas amoreiras vãs da cidade dos desejos vagabundos

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 6 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:40

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