Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

dentro do habitáculo do desejo

a bailarina Caliente voa sobre as gaivotas em flor

uma moeda insere-se na ranhura do piano embriagado

ouvem-se sons dispersos nas coxas dele

ele geme

ela sente cada milímetro quadrado dos gemidos dele

o piano enlouquece

o piano derrama a fina pauta de sémen sobre a geada da alvorada

sinto a lareira do ciume nas planícies do abismo coração solitário

e dentro do habitáculo

ela

ela ri-se e dos lábios sobejam as finas pétalas do prazer...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 11 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:56

foto de:A&M ART and Photos

 

Sei que me esperam a cada esquina da cidade, existem placas sinaléticas com o meu nome espalhadas pelas imensas ruas da cidade, obedeço e descubro que sou filho da cidade, obedeço e descubro que vivo clandestinamente na cidade, oiço-os, sinto-os galgarem os gradeamentos dos quintais de arame, sei que são eles porque o cheiro que chega a mim diz-me que são ele e pergunto-me

Que fazem os lobos na minha cidade?

Espero impacientemente o eléctrico para Belém, entre o vir e o desistir, eu ganho-lhe e antes que ele venha... desisto, começo trôpegamente e arrefeço e começo a extinguir-me conforme as sombras que a cidade constrói nas janelas envidraçadas dos táxis embriagados quando saem dos bares de Cais do Sodré, sinto-me não sentir as mãos que me acompanham, sinto-me vaguear como um louco nas cânforas lâmpadas dos candeeiros cintilantes da noite sem sucesso, oiço-os e tenho-lhes medo

Pergunto-lhe e ela responde-me que

Os lobos são filhos da cidade...

Eu paro e repentinamente imagino-me também um lobo, pois sou filho da cidade, pois... logo sou um lobo, solitário, vegetariano procurando os velhos quintais que aos poucos vão morrendo nos arredores da cidade, sinto-me voar sobre os meninos e meninas que brincam nos parques infantis, sinto-me voar sobre os lobos que fazem amor nas fina areia da praia, também ela

Filha da cidade,

Mãe dos lobos, minha mãe, sinto-me perdido dentro de um fino buraco que uma dessas crianças que brincava na areia fez, começo a descer, começo a acariciar-lhe as coxas encostas dos socalcos mergulhados no Douro, sinto-me a entranhar-me nos seios do pôr-do-sol quando há muito partiram as crianças que fizeram o buraco onde me encontro aprisionado, grito pelos lábios do desejo, e sinto a minha mão abraçada à cannabis língua dos soluços depois de acordarem os orgasmos do fumo transversal que também como eu, voam sobre a cidade, que tal como eu

Filhos da cidade,

Sinto os lobos vergarem-se quando o vento sussurra ao ouvido do púbis em cio, a cidade embrulha-se no clitóris da saudade, há momentos de silêncio, há solidões disfarçadas de insónia e mesmo assim, eles, dizem, que,

Ele... filho da cidade

Ele... irmão dos lobos e filho da praia,

Desisto do eléctrico, vou dançando pelas pedras das calçadas e eu descalço, e oiço-os, e oiço-os como martelos pneumático salpicando carne em sexo nas ruelas mal iluminadas, finjo-me de morto, finjo-me de sonâmbulo e eles abandonam-me dentro do cobertor dos sonhos, desisto do eléctrico, desisto dos corpos graníticos dos jardins de pedra, e sobrevoo como uma gaivota desnorteada o teu cabelo de papel com bolinhas encarnadas,

Ele... filho da cidade

Ele... irmão dos lobos e filho da praia, e sei que me esperam a cada esquina da cidade...

 

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 11 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:44

foto de: A&M ART and Photos

 

réstias de prata cinzenta

como sobrevoam os teus seios de xisto pergaminho

descem socalcos até encontrarem os moinhos do desejo

e desenham línguas de vento na boca em pincéis de beijo

réstias de prata cinzenta

nas mãos de um menino alimentado pelo silêncio medo

há palavras que acordam cedo

e constroem as manhãs do triste vizinho

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 11 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:10

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