Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

28
Nov 13

Aquele beijo que ficou esquecido sobre a mesa-de-cabeceira, aquele sorriso impregnado na vidraça estilhaçada da janela com fotografia para o quelho, aquele abraço perdido dentro dos cobertores da inocência, aquele beijo, aqueles teus lábios em pétalas que o desejo sobejou das tardes perdidas, aqueles livros poeirentos abandonados na estante do corredor, aquele teu alicerçado seio sobre a minha solidão, claro... imortal na cama em tardes de neblina, imortal no jardim dos clandestinos Domingos...

Sábados à tarde,

Sexta-feira à noite,

Aquele beijo, aquela melodia adormecida sobre os abajures da melancolia, aquele dia com palavras de luar, aquela madrugada com talheres em prata, e corpos, corpos de nata...

E ouvíamos o beijo esquecido das gaivotas em cio, e ouvíamos os tristes carris da liberdade mergulharem nas montanhas de papel como lagartas e outros bichos, coitados

Procurando,

Coitados...

Caminhando..., o beijo esquecido das gaivotas em cio, procurando as cinzas do casebre abandonado depois de partirem todas as árvores do destino que acompanhavam as alegres palavras comedidas pelas mãos de giz... aquele divã onde te deitavas, e eu, eu sobre ti entranhava-me nos teus gemidos invisíveis dos xistos borboletas em voos de andorinha, coitados...

De nós...

Deles...

O beijo esquecido das gaivotas em cio, o barco apodrecido no cais que alguém pintou nas paredes do velho bar de marujo embriagado, dizes-me que não, e eu, eu sinto-me dentro de ti como se eu fosse o teu feto indesejado, aquele que não queres, nunca quiseste... a gaivota dilacerada nas velhas nuvens de oiro... imortal no jardim dos clandestinos

Domingos...

Sábados à tarde,

Sexta-feira à noite,



(….........)

@Francisco Luís Fontinha - Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:14

foto de: A&M ART and Photos

 

serei o velho relojoeiro com olhos de carvoeiro

aquele que deambula pela cidade

de pêndulo suspenso na alvorada

dá-lhe corda

fá-lo correr quando se ouve a maré dos silvados xistosos nas encostas íngremes do Douro...

há um leve apito de um novo marinheiro

o cachimbo geosmina como serpentinas voando sobre os candeeiros da saudade

o velho relojoeiro engata uma nova carvoeira

decidem os dois romperem os lençóis do desejo quando os segundos ficam suspensos nas ardósias tardes de literatura

há uma cama estonteante com tonturas e pequenos enjoos...

coisa de loucos

 

drogas dizem logo os transeuntes da rua dos abismos...

cansaço... sussurra o Psiquiatra Manel...

 

o homem do homem esconde-se nas ventosas térreas das searas negras

o velho relojoeiro dá a sua mão milagrosa à menina acabada de engatar

ouvem-se as sílabas castanhas borbulhando sobre uma prata de alumínio

chovem as lágrimas da menina engatada

se é a carvoeira ou a mendiga empregada da livraria... eu não o sei...

o homem chove

desculpem... os homens não chovem

choram

não choram

se fodem ou não fodem...

o silêncio sabe-o como sabe o cinzento eléctrico das noites que ejaculam migalhas de pão

sobre uma mesa... uma mesa sem vaidade

 

uma mesa sem...

sentido

pratos

húmidas abstractas colectâneas

toalhas bordadas...

comida pouca

serei o velho relojoeiro com olhos de carvoeiro

aquele que deambula pela cidade?

 

uma mesa vestida de eléctrico palmilhando medos

voando sobre a cidade das searas negras

parte de Cais do Sodré e adormece sobre a lápide encarnada do cemitério da Ajuda

não...

não AJUDA nada

pertenceres aos mosquitos de prata que brincam nos relógios de cacimbo

procurando a menina engatada pelo velho relojoeiro

carvoeiro... ejaculam

toalhas bordadas...

comida pouca

serei o velho relojoeiro com olhos de carvoeiro

aquele que deambula pela cidade?

 

- que horas tens meu querido?

 

uma mesa sem...

sentido

pratos

húmidas abstractas colectâneas

toalhas bordadas...

 

… fá-lo correr quando se ouve a maré dos silvados xistosos nas encostas íngremes do Douro...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 28 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:01

foto de: A&M ART and Photos

 

Conheço-te como antes pertencias aos endereços indefinidos dos mórbidos edifícios de fachada apodrecida, tinhas velas na cabeça, panos distintos bordados por donzelas meninas de dedal encarnado, vivíamos escondidos nas palavras empobrecidas dos cansaços dias, éramos felizes, e tínhamos dentro de nós as roldanas sobejantes das angustiantes vertigens dos serões de prata, vestias-te de bronzeado loiro como palavras embebidas no cinzento alvor dos antigos combatentes que as ruas desordenadas vomitavam antes de acordar a madrugada,

Sinto-te triste, infeliz,

Distantes

Ancorado aos infinitos orgasmos das planícies de areia,

(maldito cancro que te come como um vampiro ensanguentado nas sílabas tristes dos homens que choram depois do rio se esconder nos arbustos das alegres soalheiras horas de sol, havia em nós palavras impropriáveis, palavras proibidas, palavras inconfessáveis... palavras da merda que tu e eu... fazemos de conta não existirem...)

Sinto-te triste, infeliz,

Distantes

Como?

Alimentos, algerozes empobrecidos caindo dos telhados de zimbro que tu engoles antes de saíres de casa, havia neblina nos teus olhos, havia cacimbo nos teus ossos... havia

Distantes?

Os desenhos meus na tua face oculta, amargurada, como?

Percebendo que as estrelas são pedaços de papel...

Desistires?

Percebendo que o Sol é uma lanterna mágica, um cinzento vidro com olhos verdes, e cabelo castanho, vestias calões e sandálias em couro maciço, habitavas em mim como habitavam em ti os mabecos desgostosos das sanzalas de cetim que a madrugada construía...

Desgostosos?

Os desenhos meus na tua face oculta, amargurada, como?

Percebendo que as estrelas são pedaços de papel...

Que sofres e adormentas as tuas mágoas nos cacifos metálicos do recreio da escola, partia os vidros com vista para azeitona verdejantes do silêncio dos peixes, tínhamos duas vagueantes ruas com algibeira de alicerce prateado, contávamos as poucas moedas da manhã sem pudor...

E o teu corpo

E o meu corpo

Tinham manchas de bolor como as paredes do duzentos e dezasseis... como fendas e brechas, frestas... coloridas mãos que se masturbavam nos teus seios... maldito cancro que te come como um vampiro ensanguentado nas sílabas tristes dos homens que choram depois do rio se esconder nos arbustos das alegres soalheiras horas de sol, havia em nós palavras impropriáveis, palavras proibidas, palavras inconfessáveis... palavras da merda que tu e eu... fazemos de conta não existirem...

 

 

(não revisto – ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 28 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:35

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