Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

05
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

imagino-te sentado sobre a minha mão

e sinto as tuas adormecidas palavras nos meus olhos verdejantes

oiço-te sussurrar-me as migalhas ínfimas dos desejos prometidos

como se o meu corpo ainda existisse para ti

a tua falta em mim

parece um transatlântico paquete vergado pela vadia arquitectura do sono

imagino-te em sombras de espuma

como um sonâmbulo esqueleto procurando fotografias de ontem

imagino-te sentado sobre os meus seios de pálpebra encalhada nos rochedos das lágrimas

vejo o cascalho cintilante da insónia dor nos clandestinos orvalhos

e tu voas sobre os cinzentos veleiros com asas de papel

submersos no cansaço da madrugada

 

sinto a tua falta

e percebo que nunca mais terei os teus beijos

e as tuas acariciadas mãos de andorinha sideral

imagino-te dentro de um espelho esperando a minha mão

e o cheiro do meu corpo...

serei eu a tua fechadura a onde te acorrentaste quando das tempestades de areia?

sinto

sinto a tua falta quando as manhãs se tornam enormes

quando os beijos ficam inacessíveis

e os pássaros loucos como as tuas palavras nas montras da cidade

imagino-te

imagino-te sentado em mim

 

esperando a abertura da janela da semana passada

imagino-te impregnado no livro de mármore em lápides de paixão

oiço-te

e quero-te

como te quis

como te ouvia

sentado em mim

semeando lenços de seda sobre os socalcos adormecidos do xisto pergaminho

imagino-te em mim

quando tu pertences aos Deuses andaimes das saudades invisíveis

amar-te-ei eternamente como acontece com as lâmpadas nocturnas do sexo?

despeço-me de ti... imagino-me em ti perdidamente só como uma lagarta solitária

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 5 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:03

04
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

sentíamos as toupeiras dos milhafres romperem as lágrimas tuas

das pequenas aldeias em flor

sentíamos os rios e riachos e ribeiras e ribeiros e o mar

o mar amar vagueando no peito de quem não dorme

sentíamos os telhados vergarem ao peso da claridade

e dos relógios envergonhados

sentíamos a escuridão da escravidão

debaixo das mesas do café com esplanadas entrelaçadas

havia abraços de palha

e mãos de hortaliça

tínhamos beijos na algibeira

e fumávamos livros de poesia

 

sentíamos os carros vagabundos trilharem a cidade dos Oceanos

víamos os barcos encalhados no silêncio da paixão

sabíamos que os candeeiros eram fictícios

e invisíveis como sempre o foram as volúpias pálpebras da sanzala encarnada

sentíamos o sangue cortejar os telhados em zinco

corredores da morte transformados em lojas de luxo

roupas angustiosas em corpos apodrecidos

mortos

sem sentido

e sentíamos o cacimbo mergulhar nos ossos da madrugada

rompiam as sombras com janelas de cristais de iodo...

e uma bala tracejante vomitava ais e uis junto a um charco de alegria

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 4 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:44

foto de: A&M ART and Photos

 

permaneço intocável como uma folha caduca

como palavras semeadas numa tarde de Outono

ao abandono

voando entre as campânulas preguiçosas das Primaveras adormecidas

sou uma mulher invisível dentro de um corpo convalescente

emagrecido

dorido

sofrido

sou uma mulher cansada de chorar

alegre por amar

e não perceber todos os nomes dos jardins do meu País...

sou uma mulher em desejo

 

(acorrentada à varanda do medo

fumo cigarros vegetarianos e sonho com papagaios de papel)

 

sou uma mulher em desejo

prisioneira da saudade

sou feliz

sou alegre

sou uma gaivota poisada na ponte da eternidade

sou a madrugada em flor

permaneço intocável

e sofro

e morro

e choro... nas lágrimas da chuva como barcos de esferovite

molhados

os meu lábios

 

(e húmida

a minha doirada boca)

 

sou uma mulher mergulhada na melancolia

sou feita em pedaços de vidro

tenho laços de cetim em volta do meu pescoço

sou uma mulher de aço

alicerçada ao mês de Agosto

sou bela e moça bonita

sou linda e mulher donzela

sou filha das flores do amanhecer

e húmida

a minha doirada boca...

alimenta-se das vozes esquecidas

nas árvores mendigas das tuas mãos de gafanhoto

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 4 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:49

03
Nov 13

Foto de: A&M ART and Photos

 

acreditava que eras em pedra maciça e que tinhas no cabelo uma seara de trigo

havia nuvens de poeira que envolviam o teu olhar

e sempre que chovia

uma janela acordava no teu peito

acreditava que não choravas porque as flores não choram

e eu

acreditava

que eras em pedra maciça

e eu

acreditava

que eras uma flor

com perfume de desejo

 

acreditava que pertencias às gaivotas de asas em papel

que vivias no mastro dos barcos doentes

e que amavas os homens como eu

esqueletos vadios

rolando as calçadas em direcção ao Tejo

acreditava que tu eras diferente

e que a escuridão da tua pele sangrava espinhos de chocolate...

doces desenhos no suor cuticular da vaidade solar

e tinhas na boca as palavras de vento que vomitavam bandeiras brancas em dias de tristeza...

acreditava

que eras uma flor

acreditava

 

que eras... um desejo

um corpo

um beijo de sílabas enlouquecidas numa tarde de Sábado

e no entanto

a tua escura pele adormeceu nos agrestes desenhos do Baleizão

que eras uma flor

lábios pintados de encarnado

beijos doirados

acreditava

e tudo parecia a mão da Inquisição sobre o púbis da saudade

havia ruas da cidade submersas em ti

como cordas de nylon aprisionando pêssegos carcomidos dos pássaros pretos

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 3 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:29

foto de: A&M ART and Photos

 

podíamos aproveitar os desenhos da sala de jantar

podíamos fazer das paredes húmidas telas com alegria

e palavras em espuma

à espera do Oceano

sentávamos-nos sobre a soleira da porta de entrada

e esperávamos o regresso das almas impregnadas no mármore livro onde dorme o avô Domingos

é Domingo

visitei-o e percebi que um dia

eu

não tenho quem faça o mesmo por mim

pertencerei a uma sepultura solitária

entre riachos e pedras dentárias

prédios e alicerces de vidro

é Domingo

e o avô Domingo parece satisfeito com a minha visita

não o consigo ouvir

não o consigo ver...

mas sei que ele vagueia nas minhas mãos enquanto nascem delas as palavras dele

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 3 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:54

Termina a noite e sinto-me um desamor, desalmado, um pedaço de papel sem endereço ou palavras, sinto-me uma flor sem pétalas, ou

Uma boca?

Sou a boca sem lábios, a boca sem desejos, sou a boca das palavras envenenadas pela noite, vigio a luz que ilumina a minha mão, oiço a voz do teu sofrimento, oiço a voz dos teus anseios, oiço a sombra transformada em voz, oiço a pele sedosa da manhã na límpida chuva dos orvalhos clandestinos que aparecem nos dias de ansiedade, oiço a voz do desejo proclamando os inocentes divãs com pernas de cetim, oiço dos cortinados os vãos confusos que a tua língua deixa sobre a mesa-de-cabeceira do quarto duzentos e dezassete, e oiço a voz do simpático cortinado vomitando orgasmos; amo apaixonadamente a noite e a embriaguez das luzes encarnadas dos teus seios.



@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 3 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:36

02
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

volúpia madrugada em ti

quando te tocavam as minhas pétalas mãos

ouvíamos o silêncio desejo subir os andaimes da paixão

sentávamos-nos sobre a pedra emagrecida da vaidade

acariciávamos os vampiros olhos da noite sem nome

éramos dois vagabundos

mergulhados na tristeza

éramos dois corpos de açúcar ínfimos nos alicerces da beleza

não sabíamos que as palavras viviam em nós

como viviam em vós os pedaços de papel da alvorada

cansados em sexo de ocasião...

sentávamos-nos sobre a almofada e sorriamos para o espelho carrancudo da noite

os outros éramos nós em volúpias canções de amor

quando roubávamos às palavras as almas e os sinos da transatlântica corrente de aço

ouvíamos os gonzos das esplanadas que entravam logo pela manhã na cidade dos vícios...

fumávamos e fodíamos

fumávamos e dormíamos

fumávamos e... nada como volúpias madrugada em ti

quando as minhas pétalas mãos fecundavam as sílabas do prazer

e nascia o teu e só teu poema

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 2 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:20

foto de: A&M ART and Photos

 

A musicalidade das tuas mãos poéticas, sinto em mim as teclas do piano onde poisas o teu silêncio, e mergulhas no Sol e és levada para as nuvens invisíveis que habitam no meu peito, a rua está deserta, e chove, e a lareira ficou acesa, há um cadeirão pronto a receber-te e um livro esguio e macio para abraçar a tua doce pele de chocolate,

Sinto-me criança envolta de farrapos e antigos utensílios de cozinha, quero ligar o interruptor do amor, aquele que há muito foi desligado pela intempérie do desejo e não consigo, sou tão pequeno, sou tão baixinho... que não o alcanço com os meus dedos de arame envergonhados pelo reumatismo e pela insónia de procurar-te entre as fotografias e de nunca ser eu capaz de te encontrar, sem

Atrasado?

Sempre ignorado, vergado, mergulhado nos lençóis da infância quando apenas tínhamos um cobertor que servia para nós os três, não havia divisões na nossa casa,

E apenas

Chita suspensa num cordel,

A vedação de nós, separados por milímetros de estampados impregnados com cheiros do outro lado da rua, e uma varanda, de vez em quando, agoniava-se com a nossa presença,

E apenas pássaros sobre o teu cabelo curto de alfazema...

E apenas

Chita suspensa num cordel,

Sempre impermeável como um oleado telhado sobre a velha estrutura em madeira, chovia-nos e às vezes parecíamos candeeiros de parede esperando a mão de quem os acende, a chama era ténue, e tremíamos como arbustos esperando o regresso do Tejo dos tempos que nos visitava, entrava pela varanda, os primeiros dias ficava à nossa espera até que um de nós lhe pegava e o trazíamos para dentro, depois

E apenas

Chita?

Depois ele mesmo fazia as cerimónias da casa, subia à varanda, ora fica a fumar o seu cigarro ora entrava logo após regressar, e sentava-se no colo de um de nós, quase sempre fazia-o no meu, talvez porque eu era o que mais saudades tinha dos tempos dos barcos paquetes rasgando os Oceanos meninos das floreiras em tristezas Primaveras,

Chita suspensa num cordel,

E apenas queríamos viver como todos os outros viviam, e apenas esperávamos o regresso da vida condigna como todos os outros a tinham, e apenas..., sentíamos o pulsar dos corações da geada nos vidros estilhaçados, tínhamos janelas incompletas, vazias, doentes, janelas com quadrados espaços onde tudo entrava menos o calor e a saudade, tínhamos vergonha da vergonha quando em nada tínhamos de nos envergonhar, e sabíamos que as escadas graníticas, durante a noite, desapareciam, e ficávamos sem acesso à rua, madrugada dentro

Sempre,

A chita?

Entravam, embriagadas como varões em aço esperando a mão do operário especializado em ferro, e logo pela manhã, e logo que fosse dia, deitávamos-lhe água a ferver, desaparecia-lhe a embriaguez e o gelo e após alguns minutos voltávamos a ter escadas de acesso à rua, chita suspensa num cordel, metralhadoras ouviam-se em volta do chafariz junto à igreja, gorgulhos de felicidade cresciam nos arrozais dispersos dos teus lábios de lânguida manhã de Outono, e os outros besouros adormeciam na nossa varanda enquanto não regressava o Tejo, e de cigarro na boca, e de pulseira no braço, e de lenço ao pescoço...

Gargantilhas voando entre gafanhotos e portas de madeira prensada, tristes e belas, e envergonhadas pelas janelas sem vidros, e da casa

Sem paredes, nada, apenas

Chita?

E um cordel de medo a atravessar o espaço vazio de nós...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 2 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:57

foto de: A&M ART and Photos

 

eu me confesso aos teus secretos desejos

oiço em ti a sinfonia melancólica da paixão louca que acorda as palavras poucas

eu me confesso aos teus olhos de espiga solitária

no infinito cereal pergaminho

vejo e sinto os animais vadios

e os pássaros mendigos

eu me confesso sabendo que tens em ti a diurna estória sem sombras

ou os pequenos laços no pescoço da morte

ou da lápide o sofrimento ensanguentado beijo da despedida

a partida é uma forma de viver

ser feliz

e sonhar com as madrugadas de alecrim

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 2 de Outubro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:49

01
Nov 13

foto de: A&M ART and Photos

 

tínhamos medo do sono e inventamos o desejo

aprendemos a abraçarmos-nos enquanto lá fora rodopiavam as moléculas de suor dos teus olhos

e havia sempre uma lâmpada ténue nas pálpebras da solidão

tínhamos nas nossas bocas imundas os doces triângulos das planícies apodrecidas

e do relógio suspenso na parede da sala um fio esguio de seiva mergulhava nas entranhas da terra

ela era queimada

recheada de fendas

e marés embrionárias

as crianças brincavam na palma da mão da inocente manhã acabada de acordar

estávamos livres do sono

e pertencíamos às tristes janelas sem literatura viradas para o Tejo

ouvíamos os órfãos comboios guinarem na próxima curva do teu corpo

 

segurava-me a ti e sentia-te na ponta dos dedos

percebia que usavas um corpo esquelético

belo

como as rosas dos jardins públicos da cidade das insónias de papel

 

tínhamos descoberto o medo do medo

e não tínhamos as palavras para escrevermos nos muros da calçada

“amamos-nos”

tínhamos medo das nossas próprias bocas

e do nosso uno abraço de saliva

fugíamos da noite sabendo que havia em nós uma corrente de aço invisível que nos acorrentava enquanto a lua vomitava versos orgias em pequenos telhados de sémen

tínhamos

… “amamos-nos” provavelmente... sim

não sabemos se o éramos depois de romper a madrugada

e no entanto sentíamos as asas dos plátanos envelhecidos

poisarem nos nossos corpos húmidos em pequenas fatias de paixão

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 1 de Novembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:48

Novembro 2013
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO