Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

01
Dez 13

foto de: A&M ART and Photos

 

não tínhamos nome

perdemos-nos na idade enquanto poisava no tecto do desejo a saudade

inventávamos estórias com pequenos paus de fósforo

aqueles...

que sobejavam dos cigarros perdidos na madrugada

não dormíamos

e não tínhamos nada...

cama

roupa

ou comida

lavada

não tínhamos nome

(morada

idade

sexo

não éramos nada comparados com os tristes cortinados das alvoradas sem tempestade)

percebíamos nada de poesia

tínhamos medo da literatura

e durante a noite...

dormíamos embrulhados às personagens que tínhamos lido quando ainda existia em nós a tarde junto ao candeeiro cinzento do jardim nocturno dos abismos rochedos de néon

os sexos mergulhavam na ponte metálica das treliças mãos que o desejo deixava em nós...

calculávamos o momento fletor das nádegas tuas quando lá fora uma equação de tédio

sem nome como nós

também

perdia-se nas sanzalas dos olhos verdes

o medo absorvia-nos

e a morte aos poucos

comia-nos como come os marinheiros de ombros sombreados nos petroleiros do fantasma envidraçado...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 1 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:19

foto de: A&M ART and Photos

 

sábado

os caixões da insónia silenciados na parada dos sonhos

os ventos longínquos das manhãs que dormiam na tua mão

não mais dormirão

evaporaram-se como pequenas gotículas de suor depois da tempestade

solidão

palavra desconhecida que o meu corpo absorve como mandíbulas metálicas

os olhos cansam-se como se cansam as pernas de cristal dos azulejos brancos

sempre

desde que partiram as gaivotas teus abraços para destinos inventados

viagens sem limite

 

sábado

a solidão

eu só

sempre

os caixões da insónia

a serpente

e mente

ela

ele

as ruas numeradas que habitam a cidade dos reumáticos assentos de prata

fidelidade

feliz

 

infeliz

o sábado

à saudade

aplique depois de seco

mergulhar supérfluamente como Dálias em jardins de pedra

e eu minguado

e eu

eu triste

porque sábado

eu

 

(apenas eu

como uma cadeira onde te sentas e sinto a tua pele...)

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo. 1 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:00

foto de: A&M ART and Photos

 

um silêncio de sombras perfumadas emagrece na solidão noite desencantada

ouvem-se-lhes as palavras suspensas no armário do cansaço

a parede estremece

desloca-se no sentido anti-horário

e a cabeça tomba sobre o laminado pavimento de vento

 

há palavras proibidas

e proibidas flores habitam os jardins dos solstícios envenenados

um silêncio de nada

em nada na cama da madrugada

há sombreadas manhãs não perfumadas e perfumadas sombras

 

sombras sombreadas que as mãos esquecem

aquecem

e dilatam-se como a pólvora alvorada dos sinos em desalinho

e se eu pudesse

e se eu quisesse... escreveria a última palavra sombreada...

 

a palavra curta

desalinhada

a palavra das palavras sombreadas

a palavra desabitada... quando acorda o luar numa janela estilhaçada

escreveria... AMO-TE... e mais nada

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 1 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:28

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