Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Dez 13

foto de: A&M ART and Photos

 

acreditava que habitavas as perfumadas flores de papel

tínhamos dentro de nós uma aldeia em combustão

sentíamos os impulsos das revistas sobejantes dos quiosques de cartão

líamos coisas desinteressantes

coisas... coisas supérfluas que depois de mortas

acreditavam

como eu acreditava

que habitam nas flores perfumadas de papel

os velhos espantalhos de vidro

com chapéu de palha

uma árvore rangia

e sentíamos-lhe o rosnar dos pulmões nas ardósias tardes dos cigarros em delírio...

livros com desenhos abstractos

e palavras inacessíveis à nossa voz

as mãos tuas traziam às minhas mãos de xisto esmigalhado as tristes sílabas da madrugada

acreditava

acredito?

não mais... que existem dias de tédio

horas de sofrimento

relógios de pulso cancerosos porque alguém os decretou como tal...

as horas passam

os dias afundam-se no cais transversal das salinas em pastel...

livros

com... abstractos desenhos e pedaços de pólvora seca para deitarmos na lareira das lágrimas encarnadas

o jornal acaba de morrer

no caixão poucas ou nenhumas fotografias a preto-e-branco para alicerçarem o esqueleto à madeira de mogno

eu acreditava

acreditava nas tuas minhas mãos de porcelana envenenada e no entanto o relógio...

o cabrão do relógio... também ele morre

também ele... foge de nós como todos os homens de pedra do jardim dos angustiados camafeus

a lareira recorda-nos as fogosas noites de neblina

embrulhados na vodka da Ajuda

descíamos a Calçada... e nada

gritávamos... e nada

e a ponte dilacerada... adormecia

e sonhava que... acreditava nas perfumadas flores de papel

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sexta-feira, 6 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:03

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