Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

07
Dez 13

foto de: A&M ART and Photos

 

Não..., não chores. Não chores não, porque as lágrimas são gotículas de silêncio nos lábios do nocturno desejo..., não, não chores... não!

Porque as pedras são palavras disfarçadas de uivos sorrisos nas parvas madrugadas...

 

 

sinto de ti as coisas perdidas que as ruas de Lisboa absorveram

sinto em ti

(uma rosa morta dentro de um livro)

a saudade verde na branca tela do corpo magoado da cachopa de cabelo encaracolado...

a pele flácida e escura como nocturnas avenidas em mesas de bares nos portos de engate

sinto em ti

de mim

não

não chores

não

não chores não...

porque as pedras são palavras disfarçadas de uivos sorrisos nas parvas madrugadas

 

um rio de chuva corre nas tuas veias de alga amaldiçoada

o espelho meu espera-te e despe-te

ficas sossegada sobre a desassossegada mesa-de-cabeceira

na eira saltitam as espigas do velho milho em delírios corações de azoto

e tu

entre as frestas do espigueiro...

alimentas-te da minha apaixonada mão como lábios do nocturno desejo

não

não chores...

não venhas ao meu encontro porque lá fora há sonâmbulas paixões com cabeça de pôr-do-sol

e choras porquê?

e vens a mim... porquê?

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 7 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:34

Participação de Francisco Luís Fontinha - Alijó

 

Francisco Luís Fontinha Alijó (Participa na "Antologia SOLAR DOS POETAS - Volume I") Nasceu em Angola, Luanda, a 23 de Janeiro de 1966. Em 1971 vem para Portugal com os pais e fixam-se em Alijó, Vila Real, onde faz os estudos, primários, secundários, e mais tarde, já como desenhador, frequenta o curso de Engenharia Mecânica, em Bragança, que por dificuldades económicas, não concluiu. Apaixonado por livros, gosta de ler, escrever, desenhar, e colecciona cachimbos. Escreve regularmente no seu blogue Cachimbo de Água (http://cachimbodeagua.blogs.sapo.ao/). Tem um texto de ficção escolhido pelo escritor José Luís Peixoto, publicado na rubrica Conte Connosco 2 – pág. 72/73, livro apenas digital. Ultimamente tem um poema publicado na pág. 465/466 na “Antologia de Poesia Contemporânea Vol. IV, Entre o Sono e o Sonho”, Chiado Editora, participou nas colectânea de poesia “Palavras de cristal I” e “Aqui há Poetas – Poesia sem gavetas parte II”. Vai participar na colectânea de poesia “Palavras de cristal II”, e é autor nas Antologias “Logos”.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:36

foto de: A&M ART and Photos

 

um dia perceberás os quês

e os porquês...

… os porquês das minhas correntes de aço

e os quês...

os quês das minhas tristes mãos de papel celofane

um dia saberás que todas estas palavras nunca existiram

que eu não existo e sou apenas uma invisível mulher filha da madrugada

um dia

quem sabe

perceberás os meus quês e os teus

dela

porquês das sílabas tontas quando embriagadas nas nocturnas viagens ao infinito

um dia saberás que fui sempre um covarde de merda

correndo aprisionado a um maldito barco enferrujado

um gajo doido... que sonha com telhados em zinco

(vê tu meu amor... telhados em zinco)

palhotas

mangueiras

bananeiras...

pai... o que são machimbombos?

isso não existe

porquês

os quês

como borboletas nas tuas calças de tecido engomado...

saíamos das cabeças com cobertura de chocolate

tínhamos os dedos entrelaçados

e os quês

porquês

não sabiam

nós não sabíamos que os homens eram em granito

e os olhos construídos de sombras tempestades de aveia

aveia, pai?

querias tu escrever... areia

quero eu escrever

meu filho

aveia... aveia límpida em sexos murchos depois do cacimbo abalar...

um dia perceberás os quês

e os porquês...

e o que faço eu aqui

esperando o teu insípido regresso

os quês

e o amanhecer dos teus porquês...

um dia perceberás que as nuvens são de algodão

e as nádegas

nádegas, pai?

não, não meu filho...

que os livros são de palavras loucas

que procuram loucas bocas e apaixonados lábios...

(eu um homem em fuga

da paixão

do regresso dos quês...

e dos quês... dos porquês...

eu

um homem apaixonado com medo dele

ele... o covarde de merda

de pedra e com olhos de sombras tempestades de aveia)

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 7 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:14

Foto de: A&M ART and Photos

 

a voz incinerada da traição mergulha nas esplanadas dos bosques solitários

habito no teu peito pela mendicidade dos teus lábios de prata

habito na tua boca porque me exiges as palavras da madrugada

sou um bandido vestido de negro

vomitando estrelas

inventando luares

mulheres

e agrestes segredos

a voz aloja-se nos meus braços e acorrentam-me aos rochedos da paixão

o amor

o amor parece um livro de cinzas mergulhado na lareira do desejo

amanhã... amanhã... amanhã acordará o teu alegre beijo

 

tenho uma folha de pergaminho recheada de silêncios palavras

e nenhuns azulejos brancos das paredes tristes dos edifícios de soja

com sabor a limão

e rodelas de azeitona... a voz incinerada alimenta-se dos teus alegres sorrisos

desenhados

esculpidos... as estátuas do Inverno caminhando junto ao rio

tenho uma folha de sangue

uma veia que se esgota a cada milímetro de saudade

a voz aparece depois de encerradas todas as janelas do predicado verbo

a lareira acesa... come-nos como percevejos animais de estimação

no colchão do amanhecer...

a voz incinerada da traição mergulha nas esplanadas dos bosques solitários

 

 

(não revisto)

Sábado, 7 de Dezembro de 2013

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 02:27

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