Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

05
Dez 13

foto de: A&M ART and Photos

 

as cinzas em ruelas

misturam-se no teu dúctil corpo de silício castanho

sei que deixaste de me ouvir depois das ferrugentas pontes de solidão dormirem nos teus lençóis de adormecidas nuvens brancas

senti pela primeira vez a dor

o sofrimento...

… o medo de perder as palavras que um dia deixarei para ti sobre a lápide do desejo

as cinzas

vão voar sobre os cortinados de nylon como cordas que aprisionam barcos às cidades de madeira

as cinzas

espalha-se sobre as tuas peugadas

vozes e lábios de cetim nas amoreiras janelas dos habitantes do jardim onde nos sentávamos...

… e dormíamos como sonâmbulos esqueletos apaixonados.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:24

04
Dez 13

foto de: A&M ART and Photos

 

não tenho vida

como as outras pessoas

com vida...

agacho-me e sinto nos tornozelos o silêncio do capim em delírio

e aos beijos

sento-me e oiço as pontes invisíveis da solidão que esperam o regresso das gaivotas

os barcos

e os caixões de aveia

não tenho

e nunca tive

vida como as outras pessoas

com... vida desenhada num pedaço de papel e transcrita no espelho... da vida

 

não tenho vida

como as outras árvores plantada na vida

com vida...

desisto

e invento labaredas de palavras para alicerçar os cacos restantes da...

… da minha não vida

não tenho

não quero... capas de pano sobre os meus joelhos de tédio

havia uma mão enfeitada com a aurora boreal das madrugadas vãs

entre escadas e varandas

há janelas como também... sem vida

tristes tristes porque a vida não vive em pessoas como nós... em pessoas de pedra com olhos de noz

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quarta-feira, 4 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:31

03
Dez 13

foto de: A&M ART and Photos

 

eu sabia que não voltava a ouvir o som estaladiço das tuas mãos sobre o meu peito

percebi quando se extinguiram todas as lâmpadas do silêncio que existiam debaixo da ponte dos sofrimentos

havia dor

havia dor masturbada na simplicidade da doença

havia morte que se entranhava nos ossos ocos da solidão

eu sabia

eu sabia que não voltava a sentir os teus mergulhados dedos nos meus amargurados lábios

e dos meus olhos

lágrimas

gotículas de suor que se desprenderam do icebergue da desgraça

o tecto de colmo

ruiu

como o teu corpo sobre uma cama de ferro em cinzento leito

havia beijos

havia cinzeiros de nicotina esperando o regresso da madrugada

eu sabia

eu percebia...

que nunca mais regressava

que era impossível acreditar nos límpidos anzóis de naftalina

eu dormia

eu fingia que dormia

mas não dormia

porque era impossível adormecer embrulhado a um cadáver de pano...

o cigano Moisés implantado sobre os colchões de areia das tempestades de xisto

e eu

e o tecto de colmo...

no pavimento térreo... esperando que te levantasses

esperando...

esperando que acordasses das malignas manhãs de poesia

mil beijos

um

apenas... um abraço... para te aconchegar antes de partires...

escreveste as últimas palavras escritas das vozes roucas da partida

e eu sabia

que... não voltava a ouvir o som estaladiço das tuas mãos sobre o meu peito...

e... mil beijos depois... acordaste para mim.

 

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 3 de Dezembro de2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:41

foto de: A&M ART and Photos

 

o segredo transversal das caravelas de nariz curto

ouve-se dentro dos círculos verdes nos desejos andaimes das gaivotas embriagadas...

temos medo do segredo

medo que habitem na vizinha lareira os torneados espantalhos de pedra

o segredo existe

e vive

e dorme...

dorme docemente nas veredas nuvens da sinceridade...

o corpo em segredo estremece

tomba como sonâmbulos ouriços vomitando castanhas

vozes

e palavras em segredo

e palavras

palavras... em medo

o segredo segreda-nos os uivos do desejo poema entrelaçado na alvorada manhã...

escrevem-se as palavras no corpo

(o tal corpo em segredo)

sente-se o medo

e senta-se o medo nas cadeiras de praia sobre a branca areia do Mussulo...

sei que não percebes as minhas palavras de medo

como as outras

as palavras em segredo...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 3 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:33

02
Dez 13

foto de: A&M ART and Photos

 

o desespero da sorte

quando o furacão do infinito se entranha na morte

come-a e vêem-se e vêm-se as limalhas do silêncio à mão da solidão

a tristeza é uma palavra esquisita uma palavra incerta uma palavra sem coração

que habita nos corpos sãos e nos esqueletos invisíveis dos horários relógios enlouquecidos

o desespero da sorte

a sorte porque se desespera a vida

inventando noites frias

e rouquidão como companhia...

o dia

alicerça-se à retroversão dos comboios em movimento

morre-se e leva-nos o vento

 

a palavra tristeza

engasga-se nas ardósias tardes do xisto com portas de aço

o castigo aparece

e o corpo aloca-se na encosta da montanha vulcânica do cemitério da poesia...

farto-me

canso-me

findo-me... como o desespero da sorte...

...não tendo sorte (diz-me ele)

 

habito neste triste cubo de vidro

sou um aquário aquariano vestido de rio

sou uma ponte que engata gaivotas

ou... um lindo vestido negro que engata cigarros apaixonados

tontos e viciados

embriagados como os pássaros que poisam nos teus ombros

como a palavra tristeza...

alegre quando é de noite

e feia e velha... quando a lareira acesa se abraça ao fumo das campânulas envidraçadas

têm olhos de papel

têm e vêm acompanhadas de pulseiras em prata

como os coiratos da roulote da tia Adosinda...

 

(a esta “merda” uns chamam de vida

outros... de... não ter sorte...

… eu... eu chamo-lhe de morte...

porque a morte é uma tristeza sem sorte...

… é um rio sem vida)

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 2 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:52

01
Dez 13

foto de: A&M ART and Photos

 

não tínhamos nome

perdemos-nos na idade enquanto poisava no tecto do desejo a saudade

inventávamos estórias com pequenos paus de fósforo

aqueles...

que sobejavam dos cigarros perdidos na madrugada

não dormíamos

e não tínhamos nada...

cama

roupa

ou comida

lavada

não tínhamos nome

(morada

idade

sexo

não éramos nada comparados com os tristes cortinados das alvoradas sem tempestade)

percebíamos nada de poesia

tínhamos medo da literatura

e durante a noite...

dormíamos embrulhados às personagens que tínhamos lido quando ainda existia em nós a tarde junto ao candeeiro cinzento do jardim nocturno dos abismos rochedos de néon

os sexos mergulhavam na ponte metálica das treliças mãos que o desejo deixava em nós...

calculávamos o momento fletor das nádegas tuas quando lá fora uma equação de tédio

sem nome como nós

também

perdia-se nas sanzalas dos olhos verdes

o medo absorvia-nos

e a morte aos poucos

comia-nos como come os marinheiros de ombros sombreados nos petroleiros do fantasma envidraçado...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 1 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:19

foto de: A&M ART and Photos

 

sábado

os caixões da insónia silenciados na parada dos sonhos

os ventos longínquos das manhãs que dormiam na tua mão

não mais dormirão

evaporaram-se como pequenas gotículas de suor depois da tempestade

solidão

palavra desconhecida que o meu corpo absorve como mandíbulas metálicas

os olhos cansam-se como se cansam as pernas de cristal dos azulejos brancos

sempre

desde que partiram as gaivotas teus abraços para destinos inventados

viagens sem limite

 

sábado

a solidão

eu só

sempre

os caixões da insónia

a serpente

e mente

ela

ele

as ruas numeradas que habitam a cidade dos reumáticos assentos de prata

fidelidade

feliz

 

infeliz

o sábado

à saudade

aplique depois de seco

mergulhar supérfluamente como Dálias em jardins de pedra

e eu minguado

e eu

eu triste

porque sábado

eu

 

(apenas eu

como uma cadeira onde te sentas e sinto a tua pele...)

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo. 1 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:00

foto de: A&M ART and Photos

 

um silêncio de sombras perfumadas emagrece na solidão noite desencantada

ouvem-se-lhes as palavras suspensas no armário do cansaço

a parede estremece

desloca-se no sentido anti-horário

e a cabeça tomba sobre o laminado pavimento de vento

 

há palavras proibidas

e proibidas flores habitam os jardins dos solstícios envenenados

um silêncio de nada

em nada na cama da madrugada

há sombreadas manhãs não perfumadas e perfumadas sombras

 

sombras sombreadas que as mãos esquecem

aquecem

e dilatam-se como a pólvora alvorada dos sinos em desalinho

e se eu pudesse

e se eu quisesse... escreveria a última palavra sombreada...

 

a palavra curta

desalinhada

a palavra das palavras sombreadas

a palavra desabitada... quando acorda o luar numa janela estilhaçada

escreveria... AMO-TE... e mais nada

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 1 de Dezembro de 2013

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:28

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