Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

05
Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Limbos putrefactos onde habitam os esqueletos humanos, do húmus o húmus selvático que um insignificante transeunte transporta, desce a calçada, sobe as escadas do Adeus e depois, depois arrefecem as panquecas e os pastéis de bacalhau, há sempre preguiçosas luzes na calçada do senhor António Eu, há sempre pedras vestidas de sandálias e sandálias travestidas de pedras... rolam, rolam até que a noite cai sobre o alpendre da triste aldeia dos Macacos,

Vestiram-me de Anjo, colocaram-me umas parvas asas em sarja, não voei e quase caí da Mangueira abaixo, acreditando eu voar porque me tinham dito ser um

Anjo?

Sim, sim parvamente... um Anjo com asas e que nunca voou,

Caminhei e palmilhei calçadas, de sandálias parecia um parvalhão com asas enormes sobre os ombros, derreado, cansado... apeteceu-me insultar todos os presentes, chamei-lhes de filhos da mãe e a minha mãe

Triste,

E ouvia os Limbos putrefactos onde habitavam os esqueletos humanos, do húmus o húmus selvático que um insignificante transeunte transporta, desce a calçada, sobe as escadas do Adeus e depois, depois sente, sente sobre os ombros o peso da morte,

Triste, dizia-me ela,

Triste, ela sempre, digo-o eu,

Vagabundo imundo, dizia-me o senhor António Eu, e lá fui voando e tropeçando e caindo e me levantando, hoje olho-me numa fotografia, parvamente com asas, sorria

Pergunto-me, porque sorria este grande parvalhão?

Ora... se não voei, chorei, caí, me levantei, tropecei, cheguei a casa com os pés recheados de bolhas, subi a Mangueira e

Abri literalmente os braços, sentia as asas a prenderem-se aos ramos envelhecidos... e tombei sobre o térreo pavimento, junto a mim, estatelado do outro lado, o meu velho triciclo e o também meu parvalhão boneco de estimação, o

Chapelhudo?

Tardes inteiras a construir vestidos para este amigo e nunca conheci a sua família, e nunca

Quem vos mandou prometer?

Alguém prometeu se outro alguém ficasse curado, eu, o miúdo, fosse vestido de PARVALHÃO, levava asas de sarja e

Quase

Caí sobre o pavimento térreo acreditando que,

V O A V A...

Não voei, fui contrariado, também... quem os mandou prometer que eu ia sem me consultarem?

Não voei, não fiz mais vestidos para o chapelhudo, e quase

Vomitei,

Enjoei a principio quando (vejamos; a principio = no começo, e a princípio = em teoria), portanto está escrito correctamente, minha Adorável Senhora, continuando, enjoei a principio quando encontrei na descida um velho amigo meu, um famoso papagaio em papel, tinha quatro cores e um novelo de cordel, tinha-o roubado às rendas da minha querida mãe, e rendas refiro-me a crochet, não a outro tipo de rendas, que felizmente

Caí sobre o pavimento térreo acreditando que,

E enjoei, e vomitei palavras terminadas em

Alho,

Que confesso detesto, que odeio...

(Enjoei a principio quando (vejamos; a principio = no começo, e a princípio = em teoria), portanto está escrito correctamente, minha Adorável Senhora, continuando, enjoei a principio quando alguém me apelidou de “meu menino” e eu, olhei, eu... vi-o de bengala e não percebi o que ele fazia ali..., e a principio, não, não a “princípio”, a principio ainda acreditei que voava... pois se me tinham confirmado por escrito que eu era um anjo e credenciado para grandes voos...,

Grandes voos..., apenas fiquei-me por estilista do meu amigo Chapelhudo, e hoje, hoje tenho saudades dele e das suas mãos de borracha, e hoje...)

Hoje?

Ai... ai hoje, hoje... “Os Limbos putrefactos onde habitam os esqueletos humanos, do húmus o húmus selvático que um insignificante transeunte transporta, desce a calçada, sobe as escadas do Adeus e depois, depois arrefecem as panquecas e os pastéis de bacalhau”

E... Adeus; não voei e caí.

* E claro que o plural de pastel de bacalhau é pastéis de bacalhau; pastéis de bacalhau.

 

 

(não revisto – Ficção)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 5 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:23

foto de: A&M ART and Photos

 

Perspectivo-me sobre a sombra lâmina do teu sorriso de gaivota sem poiso

há uma linha transversal que nos separa e aproxima

como uma fotografia sem nome na mão do louco muro em xisto

desço às fronteiriças margens do desejo

desço até que sou engolido pelo cosseno de trinta e cinco graus dos teus lábios...

desejarás-me ainda depois das equações diferenciais dormirem dentro dos quadriculados cadernos?

Invejo-te a liberdade

e os voos nocturnos quando se esquecem de ti e tu

e eu

suspensos no estendal das sílabas poéticas que o veneno da tua boca alicerçou na tempestade

há em nós uma circunferência de luz com braços de areia

húmidas todas as palavras dos anzóis do medo das sanzalas com vozes de zinco

com olhos de fome...

e chove

chove sobre o teu corpo de nylon onde se abraçam os barcos desvairados quando o vento se entranha no amor e nos transporta para o infinito

e lá ao fundo... a sombra lâmina do teu sorriso de gaivota sem poiso.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 5 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:29

No meu texto de ontem “Estoy enamorado” alguém me chamou à atenção que literáriamente não leva acento agudo no “á”. Ora literariamente é um advérbio de modo terminado em -mente, derivado do adjectivo literário com acento agudo, e também no caso de advérbios de modo terminados em -mente derivados de adjectivos com acento circunflexo, ambos os casos não levam acento nem agudo, nem circunflexo.

Ex:

Literário – Literariamente;

Só – Somente;

Espontânea – Espontaneamente;



Por alguma razão, no final dos meus textos, está bem explícito (não revisto). A verdade é que o dito comentário apenas existe porque uma dita senhora, com vários perfis falsos no Facebook, resolveu chatear-me, ou melhor, pensa que me chateia... digamos como dizia o outro; para me chatearem precisam de morder-me a.... ela já o fez e não me chateou em nada. Pior do que isso são as pessoas que lhe emprestam o perfil para ela fazer comentários em nome de outros...

FIM

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:28

foto de: A&M ART and Photos

 

Puxo de um cigarro invisível e penso nos teus cabelos húmidos depois das chuvas de Inverno, recordo o lamacento labirinto de saudade que existia nos teus doces dedos envenenados pela paixão do silêncio, habitas como um pássaro no meu pobre e triste covil, habitas também tu, tal como o cigarro invisível, derretido em pedacinhos de cinza que voa sobre os desejos matinais das ardósias sem janelas, puxo e penso no cigarro invisível, estive quase a desejá-lo, estive quase a possui-lo... estive quase dentro dele como ele vive eternamente dentro de mim, inexplicavelmente... não o fumei, inexplicavelmente... não o puxei, manuseei-o na minha mão como uma munição perdida, esquecida... e

Sem nome?

Uma carcaça de fome, puxo, não puxo, invento, adormeço, me sento sobre as dores do andarilho covil da minha infância, viajo, regresso, embarco... sem medo, com medo, sem nome?

E puxo e regressam todas as palavras adormecidas, e puxo e regressam todos os desejos prometidos...

Ausente,

Sente,

E puxo, e puxo até que o dia acorde, até que a noite se deite, durma, finja viver quando a vida não se vive... come-se como rodelas de laranja...

E estonteante me sinto para acreditar em labirintos de prata, e estonteante me sinto... me sinto para sofrer paixões de xisto quando a húmida manhã se entranha no púbis da atmosfera encharcada de dióxido de carbono...

Sente,

O ausente,

E puxo de um cigarro invisível e penso nos teus cabelos húmidos depois das chuvas de Inverno, recordo o lamacento labirinto de saudade..., e não sei, e não sei se a noite é negra, encarnada... ou... ou de cor nada.

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 5 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:23

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