Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Inspiração quanto baste, três desejos e um sonho, o mar sumarento e sensível como a pele límpida da alvorada, quatro árvores desajeitadas e sem sono, uma drageia ao pequeno-almoço e outra...

Ao deitar?

E a outra e mais outra, a inspiração, o orvalho, o soalho e o espelho, a cama em lágrimas e o sofrimento impregnado nas lâminas transversais do gesso embriagado, quatro árvores em decadência, um corpo suspenso na madrugada, a chuva, as nuvens apaixonadas pelo triste cacimbo... e nada mais, e apenas um menino

Ao deitar?

Quatro drageias, três árvores em desejo misturado em cinco quintos de sonho, uma

Merda?

Ao deitar?

As fotografias em constante transbordo, a locomotiva da paixão descarrilou, ravina abaixo, ravina acima, a mini-saia encarnada e as meias com bolinhas brancas, no joelho a nódoa negra, a pedra em granito que caiu do silêncio camafeu em robe e velho pijama, o corredor, a espera, a derradeira espera, uma janela, cigarros na mão, ao longe, ao longe o metro de superfície parecendo uma lesma sobre os muros em xisto do Douro Vinhateiro, socalcos de pano, lanternas na cabeça, e a burra... tropeçando, e a burra...

Ao deitar?

Desesperado eu, a inspiração em drageias, quatro, cinco... ou nenhuma... as janelas embebidas na dor e eu sentado, braços cruzados, braços descruzados, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, e eu... desesperando, pensando, pensando

O que será de nós?

E ao deitar,

Não sei se a imaginação vive dentro de mim ou se eu, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, cruzo os braços, descruzo e enrolo-me à dor dos presentes, fumo, não fumo, abro a janela, não abro a janela... apetece-me saltar, aterrar do outro lado da rua, cair sobre os carris do metro, deitar-me de barriga para o céu... e gritar, e... e chorar..., e

Ao deitar tomo as drageias da saudade, meio copo com água, um copo com uísque, dissolvidas todas como sementes junto à eira em Carvalhais, irrita-me

Ao deitar?

O metro de superfície correndo como um louco, e dizem que o louco sou eu, cruzo, descruzo, invento desenhos nas paredes incolores da tristeza, oiço-os em conversas desalinhadas, finjo não os ouvir, eu não os quero ouvir,

Ao deitar? E ao deitar a sonolenta voz das palavras, a neve sobre os telhados que a dor deixa nos malditos ossos, frágil – cuidado, cuidado com o cão, cuidado com as carruagens do metro de superfície engasgadas, tosse e rouquidão, não sei se fume, não fume ou fume, comprar cigarros, saltar a janela, saltar o gradeamento, saltar os carris... e eu... e eu imaginando cigarros nas paredes coloridas da cela, a porta abre-se...

E?

O que será de nós?

E ao deitar, o perfume da Cinderela passeando junto aos carris...

(desesperado eu, a inspiração em drageias, quatro, cinco... ou nenhuma... as janelas embebidas na dor e eu sentado, braços cruzados, braços descruzados, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, e eu... desesperando, pensando, pensando

o que será de nós?)

Inspiração quanto baste, três desejos e um sonho, o mar sumarento e sensível como a pele límpida da alvorada, quatro árvores desajeitadas e sem sono, uma drageia ao pequeno-almoço e outra...

Ao deitar?

Ao deitar as drageias, os silabados imaginados por um louco que depois da felicidade deseja voar como gaivotas sobre os petroleiros vampiros que habitam os rios dos velhos sonhos de infância,

Não sei, não... sei... não sei se ele conseguirá...!

Talvez,

Ao deitar?

Talvez... talvez ao deitar.

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 11 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:45

foto de: A&M ART and Photos

 

Diluímos-nos com os velhos vapores que a solidão alicerça nos rochedos da saudade

habitávamos num fino e escuro cubículo de paixão com telhado de vidro

tínhamos na mão a varanda do suicídio construída com as raízes do medo

e voávamos como serpentes de papel nos cortinados das lareiras sem nome...

éramos o ébano lençol de seda com desenhos bordados a fogo

descíamos das nuvens embebidas em frestas de gesso e pedaços de madeira envelhecida...

fugíamos... fugíamos como loucas pedras em granito esquecidas na espuma do Pôr-do-Sol

inventávamos o mar dentro das nossas veias onde corriam insectos e outros objectos da noite

luzes

néons como venenos que iluminavam a madrugada das livrarias empoeiradas

diluímos-nos com os velhos vapores...

… rochedos da saudade,

 

Há uma saudade invisível nos socalcos da cidade das marés lunares

um barco de sémen navega sobre a tua pele doirada quando pintada com pincéis de aço

o teu corpo se transforma em fome

os teus braços desassossegam todos os transeuntes mendigos da dita cidade das marés lunares...

uma criança procura chocolates de areia nas algibeiras do segredo

corre como uma lebre talude abaixo

e do sol chegam até nós os prometidos apitos dos vapores que a solidão... alicerça... a saudade...

submerges nos êmbolos loucos dos relógios de parede

saberás abraçar-me?

desejo-te em cachimbos de madeira voando como gaivotas em silêncios de tabaco

o perfume entranha-se nas grades do soalho das pequenas sílabas que dormem no quarto do grito

e uma outra criança chega a ti e pergunta-te... porquê pai?

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 11 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:39

foto de: A&M ART and Photos

 

Acreditava que o sonho se vestia de branco

que em todos os jardins existiam esqueletos de aço com coração de veludo

e que em todas as palavras pronunciadas...

escritas

e apaixonadas... habitavam as mãos do delírio sono extinto das noites circunflexas

tínhamos no sono a ânsia de viver dentro dos poços das amoreiras em flor...

crescíamos

e vivíamos...

e éramos vultos comestíveis como as folhas dos plátanos adormecidos

queríamos a paixão e vinha até nós a solidão

desejávamos o prazer

e acordava em ti a desilusão de deambular sobre os coqueiros em papel...

 

 

(não revisto)

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 11 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:21

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