Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

30
Jan 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Engasgo-me nas palavras tuas das comestíveis ausentes marés do Inferno,

oiço o telintar da janela em fervor, depois, as pétalas cinzentas desgovernam o leme da tempestade,

a saudade existe?

pergunto-te se me ouves quando adormeço nos teus finos ombros de colmo... e sinto na tua pele o desejo indesejado do sofrimento,

o cansaço da tua voz,

o vento da nuvem de gelatina que sobrevoa a tua triste cama,

oiço...

finjo pertencer aos cadáveres invisíveis como esqueletos fotográficos em fina prata,

o livro de ti como eu, ambos esquecidos no oitavo andar das árvores de copa gaguez...

engasgo-me nas palavras, fumo os cigarros embebidos em alfinetes de pura lã virgem,

e...

e dizem-me que do outro lado da rua, uma criança brinca, passeia... pega na rosa dos teus lábios,

sente-se o beijo,

sente-se a tua mão pasmada sobre o silêncio da alvorada,

e do nu teu corpo,

e do... e do nu teu corpo alguns ossos desistem de sonhar...

e tu,

tu acreditas na saudade, no Inverno, e tu... acreditas nas sandálias de corda... e tu...

… e tu dizes-me...

- Amanhã, num pedaço de papel, deixo-te a minha dor.

 

 

 

@Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:48

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