Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

23
Fev 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Há uma rua dentro de ti, meu amor, que sente o medo da solidão,

há nos teus cabelos de folha caduca nuvens de maré adormecida,

veias em combustão,

transeuntes insignificantes com mãos de porcelana,

rios, mares, e barcos de aço apodrecido,

há uma rua dentro de ti, meu amor,

deserta, húmida... uma rua sem nome, idade, como uma criança que brinca,

como um pedestal que espera pelo meu corpo de silêncio,

há palavras de ti, meu amor, palavras com fotografia para a montanha,

o medo,

o medo que em ti se entranha,

e te absorve,

 

submerges-te nas cavernas dos prisioneiros marinheiros embriagados,

há uma rua dentro de ti, meu amor, uma rua esquecida na madrugada,

uma rua sem maldade,

como tu, como eu... duas ruas de costas voltadas para o luar,

 

há uma rua dentro de ti, meu amor, com ranhuras, com palheiros recheados de desejo,

corpos misturados em pedaços de papel,

há em ti o beijo,

uma carícia disfarçada de amanhecer,

há uma rua, meu amor, uma rua que não dorme, uma rua que tem lágrimas, uma rua nua, deserta, uma rua revestida de pedra,

há uma rua, meu amor, uma rua como os teus olhos sem cor,

como as tuas pálpebras em flor,

há em ti, meu amor, a paixão, o inferno, a tristeza... e há em ti o poema em construção,

as palavras mortas, as palavras perdidas no rio dos arbustos empalhados,

há uma rua, meu amor, uma rua com homens falhados, como eu, como eu...

um homem falhado filho da rua, como eu... como eu, um homem em forma de rua,

mas... quem, mas quem és tu, meu amor? Existes? Vives e choras? Sofres?... como eu, como eu...

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 23 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:32

foto de: A&M ART and Photos

 

O dia termina inventando sonhos para a noite que se avizinha

o livro de poesia fecha-se dentro da gaveta do armário

o dia já era

foi

partiu... partiu sem saber o significado da palavra AMOR

não sabe que a saudade habita no edifício da insónia

um triste quinto andar sem janelas

mas... mas pelo olfacto dir-te-ei que temos perto de nós o mar

e as marés de Inverno

e as amarras do inferno...

dentro do dia terminado

do dia... suicidado.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 23 de Fevereiro de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:01

O dia estava límpido, lá fora uma lagartixa de aço concentrava-se na miudinha chuva, transeuntes apressados deambulavam cidade acima, cidade abaixo, eu sentia a fome a entrar-se-me nos ossos cansados das longas viagens, o frio, a chuva e a neve, o vento levava-me como se eu fosse uma embarcação perdida no Oceano da incerteza, ainda hoje sinto o medo, ainda hoje desconheço o final de uma história que sei o começo..., quanto ao final, ninguém, nem mesmo Deus o poderá adivinhar, subia até aos píncaros do oitavo andar, ainda hoje o faço quando sinto dentro de mim, o medo, a tristeza... e a morte via-a passear-se nos corredores sem janelas,

A montanha dorme, dizes-me que lá bem no cume vive uma Princesa com olhos de marfim, não acredito, duvido, e do medo absorvo a força de abraçar-te,

Janelas, o vento bate como gelatina dentro da noite, choras, sinto que sentes a partida, eu sofro, eu... eu sou como os pássaros, não choro, eles não choram, e quando presentem a tempestade

Escondem-se nos palheiros inventados pelos esqueletos de granito, há um rio dentro de ti, e deixei de amar, e deixei de acreditar no amor, e deixei...

De que me serve a poesia?

Palavras, o dia estava límpido, lá fora uma lagartixa de aço concentrava-se na miudinha chuva, transeuntes apressados deambulavam cidade acima, cidade abaixo, eu sentia a fome a entrar-se-me nos ossos cansados das longas viagens, o frio, a chuva e a neve, o vento levava-me como se eu fosse uma embarcação perdida no Oceano da incerteza, ainda hoje sinto o medo, ainda hoje desconheço o final de uma história que sei o começo... ainda hoje recordo a Baía e os coqueiros envergonhados, ainda hoje choro porque nunca amais

O capim,

Ainda hoje choro porque nunca amais

Os papagaios de papel, o portão de entrada esperando o avó Domingos, de machimbombo de papel nas mãos, corria a cidade, como hoje, como eu

Corro inventando cigarros no corredor da morte,

As horas não andam, os cigarros não ardem e o amor parece despenhar-se no abismo, sinto o cheiro dele impregnado no meu corpo de naftalina, olho pela janela do oitavo andar, as árvores balançam, os caros parecem miúdos brincando na praia do Mussulo... e tu, e tu pareces-me abatido, cansado, triste... feliz por me ver,

De que me serve a poesia?

Escondem-se nos palheiros inventados pelos esqueletos de granito, há um rio dentro de ti, e deixei de amar, e deixei de acreditar no amor, e deixei... e pertenço hoje ao circo ambulante da paixão, é-me proibido amar, é-me proibido escrever, ler, ver as flores e cheirar a insónia das abelhas, e é-me difícil acreditar nos corações de prata, sinto-te, e tenho medo de perder-te, medo, medo...

Escondem-se nos palheiros inventados pelos esqueletos de granito, há um rio dentro de ti, e deixei de amar, e deixei de acreditar no amor, e deixei...

De que me serve a poesia?

Que estou vivo e vejo-te sofrer... como uma criança que brincava no mar do Mussulo...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 23 de Fevereiro de2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:46

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