Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

04
Mar 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Sabíamos que o tempo era um conceito restrito, ambíguo... talvez... talvez em fatias de tristeza,

sabíamos que apesar das equações de Einstein estarem correctas, talvez... mas não, nada aconteceu,

nada,

e tudo, e tudo se perdeu,

apenas em poucos segundo, apenas... apenas fingindo que havia madrugada,

 

Apenas...

nada,

como sílabas engasgadas na boca da tempestade, uma nuvem suicidada, morreu...

e nada,

nada como dantes... talvez... talvez tivéssemos tempo de fugir, escondermos-nos nos vagões de aço,

 

Talvez...

um abraço,

um beijo,

talvez... talvez fossemos hoje os donos de todos os Oceanos,

e de todas as marés,

 

Mas...

mas nada aconteceu,

e talvez,

talvez... houvesse uma ténue luz no teu olhar,

mas não, tudo, mas tudo ficou no mar...

 

Sabíamos que um dia chegaria noite,

e que essa noite era construída de pedacinhos papel,

e talvez, novamente, regressassem as sanzalas e todos os musseques,

e talvez, talvez hoje estivéssemos sentados nas sombras dos embondeiros com lábios de amar...

talvez, apenas... uma saudade pertencente a ti.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 4 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:40

foto de: A&M ART and Photos

 

Uma casa,

pensava que o teu corpo se ausentava das tardes de Primavera,

uma casa em ruínas cansada das ruas sem saída,

uma casa em solidão, uma casa acorrentada a esqueletos de insónia,

uma casa em desejo, que o desejo se perdeu...

pensa eu,

uma casa só, triste, uma casa que se entranhava nas frestas da madrugada,

uma casa de sorriso cor-de-rosa com flores de papel,

e mesmo assim, tínhamos uma varanda com acesso às estrelas,

sentávamos-nos sobre a mesa granítica da paixão...

e sonhávamos... e, e dormíamos pensava eu,

(pensava que o teu corpo se ausentava das tardes de Primavera),

 

E esta casa sou eu,

um corpo flutuante no Oceano do sofrimento, pinto nos teus olhos... pinto a dor,

e desenho no teu corpo, um outro corpo, um corpo com fatias de xisto para te encobrir as pálpebras dos nocturnos sótãos como melódicas sandálias de prata,

uma casa em forma de homem, uma casa, eu,

pensava,

acreditava que a cidade era linda quando acordava a noite,

descia a calçada, corria em direcção a Cais do Sodré, e via o meu corpo, o meu corpo em formato de casa, desabitada, límpida... com braços entrelaçados no luar,

com corredores mais longos do que a própria morte,

uma casa, esta casa, a casa que sobejou da tempestade,

sentada,

à mesa dispersa nos confinados corações de espuma...

a casa que o meu corpo construiu nas ardósia manhãs que o Inverno levou...

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Terça-feira, 4 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:31

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