Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

08
Mar 14

foto de: A&M ART and Photos

 

Não pertencias aos ciprestes voltados para o rio,

trazias na algibeira um punhado de tabaco, algumas gotinhas de vodka... e eras marinheiro fundeado na paixão dos homens,

olhávamos a ponte submersa nos rochedos vermelhos,

e sabíamos que nunca mais haveria sol dentro de nós,

eu, eu era uma gaivota suspensa nos teus lábios... e voava em ti como uma louca espuma depois do adeus,

 

Desenhávamos relógios de luar nas pálpebras de Belém,

dávamos as mãos... e caminhávamos até deixarmos de ver as estrelas,

o silêncio transformava os cigarros em longos suspiros que só o desejo percebe,

e sabe,

e às vezes, poucas, éramos visitados pelo “chapelhudo” vestido de verde seara de trigo,

 

Não pertencias aos ciprestes e tínhamos inventado o alegre som melódico das palavras,

(acorda agora o “Planeta 3”)

os corpos murchos deambulavam nos cansados campestres telhados de colmo,

não pertencias nem nunca pertencerás às engasgadas folhas de papel pardo, sem poemas, nuas como nós,

e tínhamos uma noite imaginária dentro de uma Lisboa que escrevia nos nossos corpos o desassossego,

e eu, e eu gostava do teu olhar que transpirava vogais com sabor a amêndoa e a chocolate,

 

Vinha o dia e com ele, os círculos e os quadrados..., vinha o dia e tu não me pertencias,

vagueavas de esquina em esquina,

de cidade em cidade, e de porto em porto, de barco para barco,

e os cigarros fumavam-se sem que eu percebesse a tua ausência, e tu não estavas lá, como sempre, eras apenas uma sombra da noite com roupas de amanhecer, talvez fosses a madrugada, ou... o rio sem palavra,

 

E nada como dantes, Dead Combo, e uma esplanada vazia, hirta... sem coração,

Lisboa pertencia aos guindastes com dentes de marfim,

sentávamos-nos sobre a calçada descalça, e via-mos os beijos das estátuas de granito abraçados aos sofás de ardósia esperando o regresso da tarde, e vinha a tarde... e queríamos a noite, a noite só para nós...

e não, nunca, pertenceste ou pertencerás aos ciprestes voltados para o rio.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 8 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:50

foto de: A&M ART and Photos

 

Tocavas-me e eu sentia-te fervilhar nas minhas veias dilatadas,

embrulhavas-te nos meu seios de xisto como ventos desgovernados,

frívolos e cansados,

ouvias-me em pedacinhos gemidos... e ficava no cortinado, impregnado, um pequeno... um pequeno AI... sem sentido,

as sílabas estonteantes vagueavam no tecto da paixão,

cessavas-me as carícias e eu mais parecia um veleiro à espera do pôr-do-sol do que uma mulher em desejo,

depois... depois vinham as andorinhas, sorriam-nos os botões de rosa...e... e anoitecia em nós o amor das palavras,

tínhamos medo das estrelas,

e dos longínquos cadeados do silêncio sobre as nossas pálpebras de cogumelo,

acordavam as alegres melodias poéticas que vinham a nós em nuvens, pequenas abelhas... e anoitecia em nós o amor das palavras,

tocavas-me e eu sentia, queria... dizer-te que sou apenas uma mulher em fúria, uma mulher como os as mãos das amoreiras em flor... à tua espera.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 8 de Março de 2014

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:33

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